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Brasília

Mulheres ganham espaço no mercado de trabalho, mas ainda enfrentam o machismo no cotidiano

O estudo foi realizado pela Codeplan em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Sócioeconômicos

Evellyn Luchetta

07/03/2022 15h00

Foto: Canva

Mulheres vêm ocupando cada vez mais espaço no mercado de trabalho do Distrito Federal. Dados divulgados pelo novo Boletim da Mulher no Mercado de Trabalho do Distrito Federal nesta segunda-feira, 07, mostram que a participação feminina no setor aumentou de 56,7% para 58,8%, no período compreendido entre o segundo semestre de 2020 ao segundo semestre de 2021, respectivamente.

Moradora do Plano Piloto, a estudante de publicidade Iasmym Torres está no último semestre do curso e já trabalha na área. Com 21 anos, ainda em 2021, começou a atuar no seu primeiro emprego como efetivada. Antes disso, já tinha trilhado uma jornada profissional em estágios por outras empresas no DF.

Quando olha para trás e analisa a vida de mulheres mais velhas que ela, vê que ocupa um espaço onde elas não estiveram. “Conseguir um emprego desse nível era algo irreal na realidade que a minha mãe vivia quando tinha a minha idade, por exemplo. As coisas realmente evoluíram muito”, afirma.

O estudo foi realizado pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Sócioeconômicos (Dieese) com base nos dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-DF).

A mostra é o resultado de uma pesquisa feita em 2,5 mil domicílios no Distrito Federal e 500 residências na periferia metropolitana, que compreende 12 municípios goianos que fazem divisa com o DF.

Essa categoria de levantamento se faz necessária, pois o público feminino enfrenta o machismo cara a cara em qualquer lugar que ocupa. O relatório traz um panorama atual da participação feminina no mercado de trabalho, os níveis de desemprego e as alterações na estrutura ocupacional e no padrão de rendimentos, para homens e mulheres.

Participação

O crescimento da presença feminina no mercado de trabalho foi de 5,9%. De um ano para outro, 36 mil novas trabalhadoras foram empregadas no DF. O número saltou de 612 mil ocupadas em 2020 para 648 mil mulheres trabalhando.

Além disso, a população feminina Economicamente Ativa no DF também subiu de um período para o outro: de 772 mil para 803 mil. Ou seja, os dados tratam da soma do quantitativo de trabalhadoras ocupadas e desempregadas, mas que estão aptas para trabalhar.

O levantamento também detalha a presença feminina no mercado de trabalho por faixa etária. As mais jovens, com idade entre 16 e 24 anos e 24 e 25 a 39 anos, tem conseguido mais espaço, com taxa de 57,3% para 61,9%, e de 79,0% para 82,9%.

Apesar de menor, o crescimento também chegou às mulheres mais velhas. As faixas etárias de 40 a 49 anos foram de 75,9% para 77,4%, de 50 a 59 anos (54,4% para 56,6%) e de 60 anos e mais (12,1% para 14,0%).

O grupo das mais jovens é onde Iasmym se encaixa, ela diz que pelas empresas que passou encontrou muitas mulheres. “No segundo estágio que eu participei, a empresa não tinha muitos homens, era uma equipe feminina, formada em 90% por mulheres. Lá eu não senti nenhuma diferença de tratamento em relação aos homens, em nenhum âmbito, pelo contrário”, relembra.

Apesar da boa experiência, a jovem também encontrou um favoritismo por homens. “No meu primeiro estágio eu sentia sim uma diferença de tratamento para os homens, eu percebia que o dono preferia homens, privilegiava os meninos que trabalhavam lá”.

Passados os percalços, ela diz que conseguiu que sua competência fosse vista, mesmo que tivesse que se esforçar mais que os homens para chegar na mesma posição. “Eu cresci muito nas empresas, nos estágios que eu passei fui convidada para ser efetivada em todos”, conta, com orgulho.

Mas não foi somente o mercado de trabalho o foco da pesquisa. A posição feminina na família também foi considerada. Segundo o levantamento, de um período ao outro, cresceu a taxa de participação das mulheres que desempenham a função de principais responsáveis ou chefes (55,5% para 56,6%).

Ainda existem pedras no caminho

Apesar da evolução, mulheres ainda perdem espaço quando comparadas aos homens. A participação feminina passou de 56,7% para 58,8%, enquanto a masculina foi de 71,7% para 73,2%.

No dia a dia, as entrevistadas sentem um apagamento em relação aos homens, o que diminuiria suas oportunidades de crescimento em relação ao gênero oposto. A brasiliense e estudante de jornalismo, Helena Dornelas, estagia na área que estuda. Ela diz que o entendimento de que teria que se esforçar mais que homens veio muito antes de entrar para o mercado de trabalho.

“Eu acredito que a gente aprende nas relações com outras mulheres que nós temos sempre que nos provar, nos fazer valer mais do que homens. Empregar um esforço muito maior para chegar no mesmo lugar”.

Iasmym Torres concorda, ela diz que, inclusive, é o que sente no dia a dia do serviço. “Eu sinto diferença com meus colegas de trabalho, que exercem a mesma função que eu. Observo a necessidade de estar sempre tentando me ensinar uma coisa, como se eu não soubesse fazer o meu trabalho, me explicar coisas que eu sei fazer, que eu fui contratada para cumprir. Você percebe no tratamento que a pessoa se acha mais capacitada, se sente superior por que divide o cargo com uma mulher”, explica.

Isso também se aplica à remuneração mensal. O salário médio feminino caiu entre o 2º semestre de 2020 e o mesmo semestre de 2021, o rendimento médio real por hora diminuiu -16,0%. Intensidade bastante superior à observada para os homens, que perderam somente -6,6%.

É preciso ter esperança

Apesar das diferenças no crescimento, homens ocupam uma posição de privilégio, sendo esperado que o crescimento acompanhe essa vantagem. O avanço feminino, no entanto, tende a ser crescente, como demonstra o estudo. Muitas são as atribuições que podem ser feitas aos passos dados, a parabenização a outras mulheres é a maior delas.

“Eu lembro da felicidade da minha mãe quando contei que consegui o emprego. Eu sou a primeira com um curso superior, minha mãe sequer tem o ensino médio completo. Eu dedico esse crescimento e esse aumento no mercado de trabalho à luta das mulheres para ocupar esse espaço. O espaço que eu ocupo, também dedico a uma mulher específica, a minha mãe”, conta Iasmym.

Ela segue dizendo que é o ensinamento de mãe para filha que a levou onde está. “Foi ela que me ensinou a me dedicar aos estudos, a buscar um lugar confortável, me mostrou que mulheres têm de se esforçar mais para conseguir o mesmo que um homem, e é por isso que eu tô aqui hoje”.

Helena vê a mesma instrução, foi na relação com mulheres próximas que ela se inspirou. “No meu caso foi na relação com a minha mãe, eu sempre vi ela trabalhando, se esforçando. Isso me inspirou a fazer o mesmo e a conseguir o meu lugar. Meu primeiro emprego foi conseguido através de um ‘networking’ mesmo, de indicação, e eu felizmente não senti, pelo menos até agora, nenhuma diferença de tratamento em relação à homens, na prática. Eu dedico isso a ela”, finaliza.

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