Francisco Dutra
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“Família! Família! Papai, mamãe, titia. Família! Família! Almoça junto todo dia. Nunca perde essa mania”. A letra da música Família, do grupo Titãs, continua viva na memória de muitos brasileiros desde o lançamento em 1986. A sonoridade continua agradando aos ouvidos mais novos, mas o retrato do núcleo familiar perdeu o compasso com a atualidade.
Segundo a estatística e demógrafa Ana Maria Nogales, professora da Universidade de Brasília (UnB), a família brasileira está deixando para trás o modelo tradicional, com pai, mãe e filhos, em muitos casos seis ou mais. Com a inserção da mulher no mercado de trabalho e a popularização dos métodos contraceptivos, gradativamente a população passou a formar novos modelos familiares.
Atualmente, a especialista observa o surgimento de famílias unipessoais. Em outras palavras: solteiros e solteiras convictos. Nestes casos, as pessoas não fecham as portas da vida para relacionamentos afetivos, mas não pensam em “juntar os trapos”. Existem famílias também formadas apenas por marido e mulher. O casal planeja a vida sem filhos, focando esforços nas realizações pessoais, como estudos e viagens.
“Tem muitas mulheres que não querem ter filhos. Isso é fantástico na mudança. Antes, qual era o objetivo da mulher? Ser mãe. Hoje, o sonho coletivo da mulher não é mais esse. É ter uma carreira, um desempenho profissional, ser reconhecida em vários aspectos. A maternidade não é mais uma exigência, como foi no passado”, comenta.
Ana Maria aponta ainda que os casamentos estão começando a ocorrer cada vez mais tarde, longe da faixa etária entre 18 e 20 anos. Os números também revelam que está aumentando o número de uniões consensuais, em que casais passam a viver juntos sem os laços do casamento formal religioso ou civil. Famílias “mistas”, compostas por filhos de relacionamentos anteriores, da mãe ou do pai, também estão ganhando espaço.
“Hoje está tudo muito dinâmico, mais diverso e mais complexo”, explica Ana Maria. A especialista lembra ainda que, atualmente, o País reconhece os casais homoafetivos, ou seja uma nova formação de família que ganha espaço.
Mais tempo no ninho
Dentro destes diversos perfis familiares, Ana Maria aponta outro detalhe relevante na composição dos lares: os filhos demoram cada vez mais tempo para sair de casa. “São os eternos adolescentes”, explicou. Com 30 anos ou mais, muitos optam em ficar na casa dos pais para não deixarem o conforto adquirido desde o berço.
Em muitos casos, os filhos ficam por conta dos estudos, em outros, para fugir do aluguel. Além disso, os padrões culturais mudaram. “Hoje é muito mais fácil você ficar com a namorada na casa dos pais, o que não ocorria no passado. Meu pai nunca admitiria o meu namorado dormir lá em casa”, detalha.