Os dados da Pesquisa de Avaliação de Serviços Prestados 2023/2024, realizada pela Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) e divulgada no início de agosto, mostram que 84,21% dos usuários estão satisfeitos com o serviço, o que representa um aumento de 3,2% em relação à pesquisa anterior, de 2022/2023. Contudo, a parcela da população que ainda não está satisfeita pede que algumas melhorias sejam feitas.
O Jornal de Brasília conversou com usuários e coletou demandas. Na visão do estudante de jornalismo Guilherme Cavalcanti, de 20 anos, o serviço não é bom, uma vez que as linhas só seguem na direção sul da cidade, ou seja, a região norte da capital federal fica sem acesso ao metrô. E mesmo com as linhas ao sul de Brasília, algumas regiões ainda ficam desprovidas do serviço.
“Pelo fato de ter só uma direção, a questão do acesso fica difícil. Ele não passa no ParkWay, por exemplo, não passa em Sobradinho, não passa em Planaltina. Vicente Pires também é ruim pra chegar de metrô. Acho que é um problema estrutural mesmo. O metrô deveria, justamente, ajudar as pessoas a chegar em lugares um pouco mais afastados”, comentou o estudante à reportagem.
Na visão de Guilherme, além da ampliação das linhas, também é preciso ser feita uma ampliação da quantidade de trens em circulação, para que o serviço possa acompanhar o crescimento da população de Brasília. O jovem utiliza o metrô de segunda a sexta-feira, para ir ao trabalho e para voltar para casa, em Águas Claras.
“Por ter só uma linha e não ter a diversidade de chegar a outras regiões, o metrô acaba sempre lotado em horários de pico. Tem vezes que às 6h, 7h ele já está lotado e quem mora perto da estação, vai pegar para ir ao trabalho, ou à escola. Se houvesse uma linha que partisse para outros locais, com certeza os trens ficariam mais vazios”, relatou o estudante.
Em nota, o Metrô-DF informou que alguns projetos de expansão estão em andamento: “O processo de licitação da obra de Samambaia já foi concluído e o consórcio contratado está na fase de execução dos projetos técnicos para o início das obras. O processo de licitação para a expansão da linha para Ceilândia está na fase de ajustes pedidos pelo TCDF [Tribunal de Contas do Distrito Federal]”.
Em Samambaia, a linha 1 será expandida em 3,6 km, a partir do atual terminal. Em Ceilândia, serão 2,3 km a mais de linhas. Com relação à aquisição de novos trens, há um processo em curso no Ministério das Cidades, para a companhia conseguir financiamento para a compra de 15 novos trens. O Metrô-DF não se pronunciou sobre a ampliação das linhas para a região norte da cidade.
Demandas
Segundo os dados da pesquisa de avaliação do Metrô-DF, a principal reivindicação da população brasiliense com relação ao serviço é a instalação de banheiros nas estações. Dentre as mil (1.000) sugestões registradas pelo levantamento, 585 foram pedidos desta natureza. Ao todo, a capital federal conta com 27 estações e 42,38 quilômetros de extensão, que são usadas por 160 mil pessoas.
A demanda por banheiros já é antiga. Em maio de 2023, o deputado distrital Roosevelt (PL) apresentou um projeto de lei à Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) para obrigar a instalação de banheiros públicos nas estações. Ao projeto, foi anexado um abaixo-assinado com mais de mil assinaturas, contudo, a proposta está parada na Comissão de Transportes e Mobilidade Urbana da CLDF há um ano.
À reportagem, o Metrô-DF explicou que as estações seguem o padrão da maioria dos sistemas metroviários do mundo, “que não tem banheiros por questões de segurança”. Ainda segundo a empresa, os usuários podem recorrer aos agentes de estação em casos de emergência.
De acordo com usuários do metrô, também faltam painéis eletrônicos em algumas estações, com os horários de chegada e saída dos trens. “Sobre os painéis, há um processo licitatório em curso para a compra de novos equipamentos, já que muitos não têm mais conserto. A fase interna de licitação deve ser concluída até outubro”, destacou a empresa.
Todos os horários são disponibilizados através do aplicativo do metrô, contudo, a pesquisa realizada pela companhia apontou que apenas 10% dos usuários do serviço utilizam a ferramenta, ou seja, cerca de 16 mil de um total de 160 mil usuários. Este dado ressalta também a importância de melhorar a divulgação de tais serviços para que alcancem cada vez mais pessoas.
Entre as utilidades do metrô, o levantamento apontou que ele é usado, em grande parte, para a população ir e voltar do trabalho em dias úteis (82%) e para lazer aos domingos. O perfil dos usuários é formado, em maioria, por mulheres, trabalhadores, empregados e brancos, apesar da soma de pretos e pardos ser maior. A faixa etária que prevalece é entre 21 e 30 anos, com faixa de renda entre R$ 1.412 e R$ 2.640.
Outro dado interessante mostrou que 56% dos usuários usam o metrô para se deslocar até certo ponto e fazer o restante do trajeto a pé, 28% fazem a integração por meio de ônibus e outros 10% utilizam o carro para chegar ou sair das estações. Apenas 2,6% utilizam bicicleta para acessar o metrô.
Para a consolidação dos dados, foram entrevistadas 3.003 pessoas entre os dias 11 e 22 de março deste ano, em todas as estações do Metrô, sendo que 14,8% dos questionários foram aplicados na estação Central e 7,6% na estação de Arniqueiras. “As demais estações tiveram percentuais entre 1,3% e 6,2% dos entrevistados”, explica a empresa.
Qualidade
Em entrevista, o engenheiro de transportes, diretor da FGV Transportes, Marcus Quintella, explicou que o metrô é um serviço importante pois faz parte do dia a dia das pessoas e, por esse motivo, a qualidade tem que ser sempre a melhor possível. “É uma necessidade humana básica, que é o transporte, então tem que ser regular e confortável, com uma boa frequência”, pontuou.
Segundo o especialista, a lotação dos trens depende do intervalo entre eles, que deve ser calculado para que dê tempo das plataformas esvaziarem antes da chegada do próximo. Sobre a instalação de banheiros nas estações, Marcus afirmou que são fundamentais para melhorar a qualidade de vida das pessoas, mas que essa é uma questão que precisa de planejamento.
Ao JBr, ele explicou que a opinião dos usuários sobre os serviços é essencial. As pesquisas de satisfação já são previstas em contratos de concessão metroviária e servem para que a concessionária aprimore seus serviços e para que o poder concedente possa cobrar por esses serviços.