Menu
Brasília

Mãe denuncia professora do DF que agredia verbalmente alunos especiais na Escola Classe 08 do Guará

Os áudios revelaram vários momentos de agressões verbais e de ameaças a alunos especiais realizadas por uma professora

Marcos Nailton

05/07/2023 10h08

Atualizada 06/07/2023 6h33

As alterações no comportamento de uma criança com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), motivou uma mãe a gravar ações que aconteciam dentro da Escola Classe 08, no Guará II. Os áudios revelaram vários momentos de agressões verbais e de ameaças a alunos especiais realizadas por uma professora.

A aromaterapeuta, Marina Valente, é mãe do Théo de 11 anos que possui grau 2 do TEA. Ela começou a desconfiar de que havia algo de errado com seu filho após ele começar a se sentir ameaçado e a apresentar crises de ansiedade, comportamentos que não existiam anteriormente, já que o garoto sempre teve um bom desempenho e gostava de frequentar as aulas. 

As mudanças começaram a aparecer neste ano letivo após a professora ser substituída pela turma em que o jovem está matriculado. Como consequência, o garoto começou a morder a própria mão e a apresentar resistência de ir para a escola. 

“Ele escondia a mochila, escondia o uniforme, não queria tomar banho, ficava nervoso e com o coraçãozinho acelerado quando ouvia o barulho do ônibus. Visualmente tendo uma crise de pânico mesmo”, disse a mãe ao Jornal de Brasília.

A partir dessa desconfiança, Marina decidiu investigar por conta própria, ela colocou o tablet do filho com o gravador de voz ligado, enrolado em um saquinho e em um casaco de frio, dentro de um bolso na mochila da criança. Isso, para registrar o que acontecia dentro da sala de aula. São cerca de 18 horas de gravações que foram realizadas nos dias 5, 9 e 12 de junho, e que revelam os comportamentos da professora Samantha Christine Soares Gurgel,  de 43 anos.

“Mesmo com todos os panos enrolando o tablet, você percebe que os gritos são bem altos com as crianças, agora imagina uma criança autista com sensibilidade auditiva, é uma verdadeira tortura”, reitera a mãe.

A sala de aula é composta pelo Théo, filho de Marina, e por outras três crianças especiais. A turma é ministrada pela professora Samantha e por outra professora, e cada uma é responsável por dois alunos. Durante as agressões registradas às crianças, Marina conta que a outra professora ficou completamente omissa da situação.

Áudios

Nas gravações, a professora, que faz parte da Secretaria de Educação desde 2020, profere diversas ofensas ao filho de Marina e às outras crianças, além de zombar de um deles. A mãe conta que ela e a avó do Théo chegaram a procurar a direção da escola, que informou que estava tudo bem com a criança.

“Fala direito! Tá morto? Mexe a boca pra falar assim oh: “Eu estava em casa doente.”, proferiu a professora. Em outro momento da gravação, ela ameaça outro aluno da classe. “Gabriel, se você tocar num fio do Oliver, você vai se ver comigo, […] Tira a mão daí, Gabriel. Tira a mão dele! Tira a mão daí! Tira a mão daí”, disse Samantha em um tom de voz elevado.

“Não é pra fazer isso. Não é gato pra ficar se lambendo. É menino”, falou a professora ao aluno. Em outro trecho, a professora volta a brigar com o filho da aromaterapeuta.“Tira a mão, Théo. Tira a mão. Tira a mão do negócio dele. Ai, que coisa chata. Não é pra pegar no que não é seu. Sua mãe não comprou”.

Marina contou à reportagem que devido a condição especial de seu filho, o jovem se comunica apenas reproduzindo algumas palavras e frases isoladas. Por essa razão, a criança não conseguiu descrever a situação em que sofria na escola.

Ajuda

Marina ainda relata que através dos áudios gravados, possibilitou que as famílias das outras três crianças soubessem das ações ocorridas em sala. Após o caso ser divulgado pela imprensa, outras mães relataram ações similares cometidas pela professora.

Agora, a mãe da criança se preocupa sobre como será o processo da volta da criança à escola. Ela conta que devido às férias escolares, terá um tempo para preparar o garoto para que ele volte a frequentar as aulas. 

“A Secretaria de Educação já entrou em contato com a gente oferecendo uma vaga em outra escola, mas o Théo vai precisar passar por um processo terapêutico para poder ser reinserido na vida escolar”, explica.

“Agora eu fico com um sentimento de revolta, de tristeza, mágoa, dá uma angústia de ouvir esses áudios. Já chorei tanto. A escola que era um ambiente acolhedor e que ele amava se tornou em um ambiente traumático. Reenviar ele para escola vai ser um processo mesmo”, informou Marina Valente.

O caso é investigado pela 4ª Delegacia de Polícia (Guará II), que analisa os áudios capturados pelo tablet. Segundo a Secretaria de Educação do DF (SEDF), a professora envolvida está de licença medica e foi afastada. Um novo professor já se encontra em sala de aula.

“Secretaria de Educação do DF informa que recebeu a demanda por meio da Ouvidoria da Pasta, que já realiza as tramitações dentro do prazo legal estabelecido. A Pasta informa ainda que o caso já está sendo devidamente apurado pela Corregedoria”, disse a pasta.

O Jornal de Brasília procurou a direção da Escola Classe 8 do Guará II para saber mais detalhes sobre o caso e a professora envolvida na denúncia, mas até a publicação desta reportagem, não obteve resposta. 

A secretaria geral da Comissão de Defesa das Pessoas com Autismo da OAB/DF, Nayara Braúna, disse que já recebeu a denúncia contra a professora e destacou que a situação será apurada. 

“A OAB já encaminhou o caso para o Ministério Público e as autoridades competentes e vamos ficar acompanhando para que a autora seja responsabilizada pelo fato que cometeu e que esse tipo de situação não ocorra mais dentro das escolas do Distrito Federal”, afirmou.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado