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Brasília

Lojas reabertas provocam aglomeração em comércio

Comerciantes limitam entrada de fregueses. Filas têm distância delimitada

Vítor Mendonça

30/04/2020 7h16

Após a abertura do comércio de tecido e armarinhos no Distrito Federal na última sexta-feira (24), o movimento em um dos maiores polos de negócios dessa natureza, o Taguacenter, voltou a registrar aglomerações. Em portas de estabelecimentos, é possível verificar que, apesar do uso de máscaras por grande parte dos compradores, pessoas se amontoam em filas, não respeitando distâncias mínimas para prevenir a contaminação pelo novo coronavírus.

De acordo com o último boletim epidemiológico do DF, são 41 casos da covid-19 registrados em Taguatinga, sendo a incidência de 19,69 diagnósticos positivos para a doença a cada 100 mil habitantes. Houve uma morte na localidade.

Morador reclama

Miguel Filho, servidor público de 55 anos que mora em cima de um dos armarinhos da região, se surpreendeu com o aumento do fluxo de pessoas no local. “Tinha pouquíssima gente na rua na semana passada, quase zero. Aumentou demais a quantidade de pessoas aqui”, afirmou. O funcionário da área da saúde pública diz que considera preocupante a situação, uma vez que, segundo ele, o sistema hospitalar pode entrar em colapso caso a população não se cuide devidamente.

Miguel comenta que é acostumado e até gosta dos barulhos e movimentos da região, mas mesmo assim, prefere o “estresse” do silêncio neste momento ao risco do DF registrar patamares de contaminação como os de cidades da Itália ou Nova Iorque. “Acho que a população não está se cuidando como deveria. Aqui em frente, a todo momento tem que pedir para as pessoas se afastarem.”

Ele se refere às aglomerações que se formam em frente à loja Armarinho Tadeu, reabriu as portas na última segunda-feira (27). É que, assim como outros estabelecimentos similares no Taguacenter, as vendas passaram a ser feitas do lado de fora do local, bloqueando a entrada com uma grade de ferro.

O gerente do estabelecimento, Tiago Benvenuto, 34, explica que, por mais que os funcionários alertem os clientes para que não se aglomerem na entrada do armarinho, não é incomum que pequenos ajuntamentos se formem. “Até fizemos marcações do chão na frente da loja para as pessoas formarem uma fila respeitando uma certa distância, mas não adianta”, relata. “E quando pedimos que se afastem, reclamam e acham que estamos de má vontade”, completa.

Pouco menos de 40% do quadro de funcionários está trabalhando no local, também para evitar aglomeração; o restante está sob suspensão temporária de contratos. Somente alguns clientes entram na loja, por motivos especiais. “Estamos atendendo na porta quem tem demandas simples, como alguns elásticos, mas quem pede coisas mais específicas, em grande quantidade e diferentes cores, por exemplo, estamos liberando a entrada”, explica.

Edilene e Andressa de Souza, mãe e filha, 52 e 27, respectivamente, fazem parte do grupo que foi ao Taguacenter a procura de material para costurar máscaras. “Viemos procurar elásticos maiores porque os das máscaras que compramos ficaram muito apertados”, afirma Andressa.

Mesmo não tendo experiência com a costura, a técnica em laboratório, Edilene, que está grávida de 6 meses comprometeu-se a fazer os ajustes das máscaras com os novos elásticos. “Temos que fazer isso ou então pagamos multa, né?”, comenta. Ela se refere à determinação de uso obrigatório da proteção facial a partir de amanhã (30), decretada pelo Governo do DF na última quinta-feira (23). Quem não utilizar o item poderá ser enquadrado no artigo 10 da Lei Federal n° 6.437, acarretando em sanção de R$ 2 mil ou mais.

“Não adianta falar”

Em frente à Ideal Armarinho e Artesanato, que adotou as mesmas medidas de separação entre a loja e os clientes, a aglomeração era ainda maior. De acordo com o gerente do estabelecimento, José Luiz Júnior, 46, a maioria dos compradores também está em busca de tecido e elástico para a confecção de máscaras. “Não adianta falar. Eles não querem esperar e aí aglomera”, relata. “Está difícil conseguir [elásticos] e, quando consegue, é a um preço muito alto. Antes era R$ 10, mas já está a R$ 30 ou R$ 32 o rolo de 100 metros de elástico”, relatou.

Durante o fechamento do comércio, o lojista atendia por meio das redes sociais e de um aplicativo de troca de mensagens. Mas a percepção dele é que a concentração de pessoas está similar aos dias anteriores à pandemia. “O movimento está mais ou menos a mesma que era antes, claro que um pouco menos que o normal, mas está bem movimentado.”

Segundo Júnior, um pano com álcool é passado constantemente nas barras de ferro que separam os funcionários dos clientes, como também nas maquinetas de cartão eletrônico, cujos botões os compradores mantêm contato físico frequente. Atualmente o comerciante trabalha com amigos e parentes, uma vez que os funcionários da loja ainda estão com os contratos suspensos para “não demitir ninguém”, segundo Júnior. As vendas chegaram a aumentar somente pela busca dos elásticos e tecidos.

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