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Brasília

Interesse e uso de cigarros eletrônicos por estudantes do DF preocupa

Durante ações do Proerd, perguntas relacionadas aos “vapes” são cada vez mais frequentes

Redação Jornal de Brasília

06/12/2022 12h41

Foto: Divulgação/Ministério da Saúde

O uso de cigarros eletrônicos por jovens e adolescentes tem preocupado autoridades de medicina, de segurança pública e educacionais no Distrito Federal. Proposto como um produto sem interferências na saúde dos usuários, os chamados vapes – apelidados também de canetas ou pen drives –, chamam a atenção dos menores por ser uma novidade tecnológica e por oferecer certo status e estigma de modernidade, intrepidez e liberdade.

Na oferta e divulgação dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), os perigos de doenças pulmonares e respiratórias ligadas aos produtos são minimizados. Por ser algo chamativo aos alunos – além de poder significar a porta de entrada para outros tipos de fumo –, novas estratégias de combate ao uso das mercadorias estão sendo direcionadas, sempre atreladas às informações advindas do estudo científico.

De acordo com o Capitão Diego Araújo, chefe da Seção de Programas e Ações Sociais (SPAS) do Centro de Políticas de Segurança Pública (CPSP) da Polícia Militar do DF (PMDF), o assunto já é debatido dentro das salas de aula pelo interesse dos adolescentes na novidade. O militar afirma que durante o período de aulas do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), boa parte das crianças e adolescentes querem tirar dúvidas a respeito dos cigarros eletrônicos.

“Elas perguntam se o cigarro eletrônico é mais saudável ou não, se a fumaça gera problemas, entre outras coisas. […] A percepção que temos é que esse assunto está cada vez mais frequente nas perguntas dos alunos. É desafiador”, declarou o também instrutor das aulas ministradas a estudantes do 7º ano no Proerd. Segundo ele, entre escolas públicas e particulares, o interesse pelo produto eletrônico é o mesmo.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019, feita pela Associação Médica Brasileira (AMB), os maiores índices de experimentação de cigarro eletrônico foram observados entre os estudantes de 13 a 17 anos da rede privada de ensino em todas as Grandes Regiões do Brasil. Em primeiro lugar no ranking estava o Centro-Oeste, com percentuais de experimentação dos DEFs em 23,6% na rede pública e em 24,3% na rede privada de ensino.

A principal intenção dos educadores do Proerd é alertar para os riscos que são gerados a partir do uso de drogas lícitas, como o álcool e o tabaco, que contém nicotina. O foco é fazer com que os alunos reflitam sobre atitudes e as respectivas consequências delas, dando autonomia na escolha dos estudantes, uma vez que terão de tomar decisões por conta própria em situações em que haja oferta de substâncias químicas lesivas.

“Tínhamos vencido a questão do cigarro entre os jovens, com uma diminuição drástica nos índices, mas retrocedemos com o cigarro eletrônico. E isso é motivo de preocupação quanto à saúde e disposição física dos alunos”, acrescentou o capitão Araújo. “O Proerd busca fortalecer as habilidades socioemocionais dos estudantes para lidar com pressão de amigos e questões psicológicas. Querer escapar de problemas pode facilitar o convite às drogas. Buscamos responder às dúvidas dos alunos.”

Entre a comunidade educacional, trata-se de uma preocupação constante dos professores e coordenadores: que os alunos saiam para o banheiro ou para o recreio para fumar, podendo ser esse um dos maiores problemas em muitas escolas. Conforme relato ouvido pela reportagem, por vezes, por falta de informação, alguns pais patrocinam a atividade dos filhos.

Risco de morte

Em muitos casos, os cigarros eletrônicos são difundidos como produtos sem nicotina em muitas das essências, mas não é só este componente que traz malefícios à saúde dos usuários. Conforme explica o médico pneumologista Ricardo Luiz Martins, os vapes têm gerado o adoecimento de muitas pessoas ao redor do mundo com uma nova doença chamada Evali – alterações pulmonares geradas por queimaduras no pulmão, e que podem levar à morte.

“O vape também vicia porque o principal agente causal de dependência química é a nicotina, que leva 10 segundos para estimular receptores no cérebro. Narguile é outra forma glamourizada de vender o produto. Faz mal tanto quanto o cigarro”, reforçou o médico. “A fumaça [no pulmão] é maléfica à saúde também. […] A bateria que faz a vaporização do produto pode gerar as queimaduras”, continuou.

A primeira vez que a nova doença foi identificada foi em 2019, nos Estados Unidos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), as lesões pulmonares foram atribuídas, inicialmente, a alguns solventes e aditivos utilizados nesses dispositivos, provocando reações inflamatórias nos pulmões. Segundo os dados do instituto, até janeiro de 2020, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, registrou 2.711 casos de Evali hospitalizados, tendo em fevereiro 68 mortes confirmadas. 

A média de idade dos usuários acometidos com a nova doença era de 24 anos. Cerca de 66% deles eram homens e o tempo médio de utilização foi de aproximadamente 12 meses. No Brasil, há relatos de sete casos de Evali até 2020. De acordo com a AMB, em posicionamento publicado em maio deste ano, “os DEFs são uma ameaça à saúde pública”.

“Sabemos que os cigarros eletrônicos contêm nicotina e várias dezenas de substâncias químicas, incluindo cancerígenos comprovados para pulmão, bexiga, esôfago e estômago. Há, ainda, o risco de explosões do aparelho e intoxicação”, afirmou. Na análise da AMB, “o tabagismo, que matou mais de 100 milhões de pessoas no século XX, poderá matar um bilhão no século XXI, com grande participação dos DEFs”.

Proibição e apreensões

Em julho deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) manteve decisão de 2009 sobre a proibição de comercialização, importação e propaganda de cigarros eletrônicos no Brasil. Portanto, a venda dos dispositivos é passível de apreensão e de multa pelas empresas que o fizerem. Em setembro deste ano, a Secretaria Nacional do Consumidor determinou que 32 empresas que comercializavam vapes e produtos correlatos suspendessem as atividades em até 48 horas, sob pena de multa diária no valor de R$ 5 mil pelo descumprimento.

Entre setembro de 2021 e agosto deste ano, o GDF, por meio da Diretoria de Vigilância Sanitária (Divisa), apreendeu mais de 43 mil cigarros eletrônicos, acessórios, insumos e produtos paralelos a este comércio.

“Estudos científicos mostram que o uso dos DEFs, tanto agudo como crônico, está diretamente ligado ao surgimento de várias doenças respiratórias, gastrointestinais, orais, entre outras, além de causar dependência e estimular o uso dos cigarros convencionais. Em contrapartida, o conhecimento sobre esses malefícios ainda é pouco difundido entre seus usuários”, reforçou a nota da AMB.

Serviço

Para quem deseja parar de fumar, a Secretaria de Saúde conta com 62 unidades básicas de saúde (UBSs) cadastradas para o tratamento de tabagismo. Para saber quais são elas, ligue 136.

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