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Brasília

Injúrias a entregadores de aplicativo são rotina em Brasília, relata Amae-DF

Parte dos ataques verbais chegam a configurar injúria racial, segundo representante da associação

Lucas Neiva

11/08/2020 7h24

A falta de empatia com entregadores de comida por aplicativo é uma constante no Distrito Federal, relata o conselheiro fiscal da Associação dos Motoboys Autônomos e Entregadores do DF (Amae-DF) Abel dos Santos. A insatisfação de clientes com problemas que estão além do controle dos motoboys chega muitas vezes a resultar em ataques raciais. Amae recomenda que agressões verbais sejam denunciadas na delegacia.

O representante da associação conta  que a maioria dos ataques acontecem quando os entregadores ficam impedidos de deixar o pedido na porta do cliente “Um caso que eu presenciei foi com um colega que rodava junto comigo. Ele passou por isso em um prédio em Águas Claras, onde uma mulher humilhou ele por não poder adentrar o prédio e subir, sendo que era norma do próprio condomínio, não foi nem ele que optou”.

Alguns dos ataques chegam a configurar injúrias raciais. “O que a gente mais tem em termos de injúria racial são clientes que querem descontar algum problema no entregador e, por ele ser negro, acabam por tentar ofender o entregador com injúrias raciais”, afirma Abel. No ponto de vista dele, uma possível solução seria uma ação de conscientização por parte dos aplicativos para que o cliente tenha consciência do caráter criminoso dos ataques verbais, e também o fornecimento ao entregador de informações sobre o cliente.

A Amae-DF recomenda aos entregadores que denunciem à polícia qualquer injúria cometida por um cliente. “Muitos sofrem com racismo e não vão à delegacia, não fazem a denúncia e fica por isso mesmo. Mas em Brasília isso sempre aconteceu”. Abel também reforça que a Amae-DF possui advogados preparados para dar suporte a entregadores que precisarem de ajuda para denunciar a injúria.

Abel dos Santos reforça a importância da empatia do cliente ao receber sua entrega. “As pessoas precisam entender que aquele cidadão está trabalhando porque ele precisa. Todos nós estamos trabalhando para trazer o pão para dentro de casa, para suprir nossas famílias. As pessoas têm que se colocar no lugar do próximo para não acontecer novamente o que aconteceu com aquele entregador que foi humilhado em São Paulo”, declara.

Judiciário atento ao racismo

Injúrias raciais não passam despercebidas pelo poder judiciário. É o que relata o advogado João Henrique Lippelt Moreno, representante judicial de uma vítima de injúria racial que venceu uma causa e receberá reparação de R$3mil por danos morais após sofrer ataques racistas de outro cliente em um bar que frequentou em novembro de 2019.

A vítima, o estudante Edson de Assis, 24 anos, esbarrou em um técnico de informática de 39 anos ao sair do banheiro do bar. O técnico iniciou uma discussão com Edson e disparou xingamentos contra sua cor no meio da discussão, chegando a se referir a ele como “macaco” e “preto vagabundo”. Para evitar problemas, Edson saiu para outro ambiente do bar, mas o ofensor apareceu em seguida e deu continuidade à discussão, novamente disparando ofensas raciais. Desta vez, outros clientes testemunharam a briga se posicionaram a favor de Edson, e o ofensor foi conduzido para a delegacia e preso em flagrante.

Apesar de ainda responder criminalmente, o ofensor perdeu a ação civil por danos morais perpetrada por Edson. Segundo Lippelt, essa vitória judicial demonstra que o judiciário está atento a injúrias raciais, e não mais tolera esse tipo de conduta. “O judiciário está reprimindo esse tipo de situação. O código penal não tolera isso, e a própria constituição não tolera. Antes esse tipo de coisa já não era tolerável mas a gente sabia que existia. Hoje a paciência acabou”, declara.

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