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Brasília

Inflação aperta e vendedores de fruta precisam se virar

Segundo levantamento do IBGE, o índice geral de inflação cresceu 1,73% no país e 1,58% no DF em abril deste ano

Vítor Mendonça

02/05/2022 5h37

Roberto de Souza Takamatsu, 55 anos, que vende frutas dentro de um caminhão. Foto: Vitor Mendonça/ Jornal de Brasília

“Nunca vi uma situação como essa”, descreveu Roberto de Souza Takamatsu, 55 anos, que vende frutas dentro de um caminhão no Distrito Federal há pelo menos 10 anos, rodando nas cidades de Brasília. Ele se refere aos preços do combustível e dos produtos hortifrúti, os quais o vendedor com 40 anos de experiência na área precisa para trabalhar. Após o aumento indicado no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), Roberto luta para administrar as contas e manter o negócio.

Segundo levantamento do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), o índice geral de inflação cresceu 1,73% no país e 1,58% no DF em abril deste ano, atingindo a máxima na série histórica iniciada em fevereiro de 2020. Em relação aos preços dos produtos hortifrúti, os que mais cresceram foram os tubérculos, as raízes e os legumes, que subiram 14,57% nacionalmente e 9,21% no DF.

Roberto está espantado com os altos custos para poder manter o comércio que faz dentro de um caminhão. O maior receio, segundo ele, é não ter dinheiro para manter o negócio autônomo e ser forçado a parar de vender frutas para não ficar no prejuízo e com dívidas. “O que eu tinha guardado foi indo embora. Hoje a situação está de um jeito que tem que comprar pouca coisa”, afirmou.

Sendo uma das frutas que vende, o preço do melão foi um dos que mais subiu no último levantamento do IPCA-15, chegando a um crescimento de 28,84% no DF – maior que a média nacional, de 23,15%. O óleo diesel, recurso essencial para que Roberto consiga trabalhar, aumentou 13,05% em abril, quase igualando à média do país, que chegou a 13,11%.

“Se antes eu gastava cerca de R$ 100,00 diariamente com combustível, hoje chega fácil na faixa dos R$ 200,00”, comparou o vendedor. Morador de uma região entre o Recanto das Emas e Gama, ele precisa se deslocar entre a Central de Abastecimento do DF (Ceasa) e as demais cidades do DF, como Asa Sul e Asa Norte, Guará, Samambaia, Riacho Fundo, Sobradinho, entre outras, fazendo com que os gastos com o combustível se tornem altos.

Mas para economizar na medida do possível, Roberto decidiu mudar a maneira que costumava vender nas quadras. “Comecei a ficar mais parado, para evitar rodar e não gastar tanto óleo [diesel]. Se conseguir economizar, já ajuda. Então não estou rodando tanto e estou trabalhando com menos mercadoria, ganhando menos. Além da despesa do óleo, ainda tem o almoço e os funcionários – fora o caminhão, que quando quebra leva o lucro todo embora. Estamos nessa luta, é complicado”, desabafou.

Uma das coisas que tem ajudado a manter uma margem de lucro – ainda que esta tenha caído de 30% a 50%, conforme Roberto relatou à reportagem – são os clientes fiéis que se organizam nas quadras das Regiões Administrativas. Com um grupo no Whatsapp, eles se juntam para comprar com o vendedor quando ele está na cidade.

Segundo ele, o que também tem salvo o negócio são as compras feitas no cartão de crédito, as quais consegue quitar com duas semanas de trabalho. “Não tenho dinheiro. Vou pagando uma conta aqui e outra ali, mas está difícil”, comentou. “Eu ainda mantenho [o negócio] porque consigo comprar umas mercadorias mais baratas. Ganho menos, mas cativo o freguês, porque se subir o preço, não consigo vender”, explicou.

“Penso em parar, mas com um caminhão desse não dá pra fazer frete. E se um caminhão desse quebrar, não vai dar para consertar porque é tudo muito caro. […] Estou comprando menos [mercadorias] agora. Hoje não podemos mais encher o caminhão, porque fica muito caro e algumas frutas precisam vender rápido por conta do risco de estragar se passar mais de três dias”, contou.

Forçado a parar

Com tantos riscos e preços tão exacerbados dos produtos hortifrúti e do combustível, Carlos Antônio de Souza, 56, conhecido como Carlão, foi forçado a parar com o negócio de venda de frutas com caminhão há três meses. Segundo o morador de Sol Nascente, os custos com os produtos passaram a ser impraticáveis para ele, a ponto de começar gastar menos do que poderia ganhar com as vendas, passando, então, a se endividar.

“Comecei a comprar as coisas no cartão de crédito, mas não estava mais conseguindo fazer a mesma quantidade de vendas que fazia antes. Antes eu comprava tudo por cerca de R$ 4 mil, mas se fosse comprar hoje, passaria de R$ 6 mil. […] Por conta de tudo o que aconteceu, hoje tenho dívidas de mais de R$ 8 mil”, contou.

A estratégia tomada para conseguir quitar a dívida foi montar uma pequena churrasqueira com dois latões para vender frango e conseguir uma renda. “Mas até para começar eu preciso de dinheiro. […] Foi meu filho quem me emprestou os recursos para eu poder fazer essa estrutura [da churrasqueira]”, continuou. “Se eu tivesse o dinheiro, começaria no dia seguinte.”

“Hoje estou com o caminhão parado, com tudo vazio. Mas eu creio que Deus vai me ajudar a ter condições de trabalhar novamente, comprar a mercadoria e levar para os clientes. Nunca pensei que um dia poderia chegar a essa situação que eu cheguei”, finalizou.

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