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Brasília

Infectologista aponta trégua da dengue nos próximos meses

De acordo com o infectologista Dalcy Albuquerque, o número de casos por dengue no DF irá diminuir por conta da seca

Redação Jornal de Brasília

29/06/2022 17h43

Gabriel de Sousa
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Os números da epidemia da dengue em 2022 já a tornaram a maior da história do DF, desde que os levantamentos epidemiológicos começaram a ser feitos pelo Ministério da Saúde em 1998. Com 57.294 casos prováveis e sete óbitos registrados neste ano, conforme o mais recente boletim da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES), o Aedes aegypti assolou a capital federal neste primeiro semestre, mas a sua presença deve ter uma queda considerável nos próximos meses.

Acontece que, por conta da vinda da seca, a criação de criadouros irá diminuir devido à escassez de chuvas, dificultando a proliferação do Aedes aegypti. De acordo com o infectologista Dalcy Albuquerque, que conversou com a equipe de reportagem do Jornal de Brasília sobre a epidemia de dengue, o fenômeno é natural por conta do início do período de seca, com o aumento de casos voltando a acontecer a partir de outubro deste ano.

“Ele vai ficar baixo até outubro e novembro, quando realmente começa a aumentar outra vez. Pode até não chegar a níveis epidêmicos como o deste ano, mas, naturalmente, ele aumenta um pouquinho no final do ano e no primeiro semestre do ano seguinte”, explica o especialista.

O último balanço da Secretaria de Saúde mostrou que a dengue já teve uma queda vertiginosa nos últimos meses. Enquanto que em abril, a dengue teve o seu pico de incidência mensal por 100 mil habitantes no DF, com 583,91 casos, maio teve 393,18, enquanto que a primeira metade de junho registrou a menor marca do ano, com 78,13 ocorrências.

Vale ressaltar que, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o último dia com chuvas no DF aconteceu na terceira semana de maio. De lá até o dia 11 de junho, data limite do último boletim da Saúde, o número de casos semanais reduziu pela metade. Era de 3.000 e passou para 1.500, o que corrobora com a afirmativa do infectologista.

Epidemias são cada vez mais fortes

Dalcy explica que a dengue é uma doença endêmica que possui eventuais epidemias que acontecem a cada dois ou três anos, e que aumentam gradualmente o seu poder de transmissão a cada novo surgimento. Isso explica o fato do recorde anterior de casos no DF ter acontecido em 2020, quando o Ministério da Saúde indicou que a capital havia registrado 42.057 ocorrências.

Nesta epidemia de 2022, o Governo Federal registrou 54.865 casos ocorridos em Brasília, dois mil a menos do que a Secretaria de Saúde, mas que ainda coloca a capital federal como a cidade com o maior número de ocorrências em todo o país, com cerca de 12 mil a mais que a vice-colocada Goiânia.

“Dengue é uma doença endêmica, com eventuais epidemias, e essas epidemias acontecem a cada dois ou três anos. Então, neste ano tivemos um período epidêmico com um número de casos muito grande. O que sempre preocupa no caso de dengue, é que a epidemia seguinte é sempre maior que a última”, observa Albuquerque.

Dalcy relembra de um recorde antigo de infecções, ocorrido em 2010, quando o DF teve 21 mil casos de dengue. Na época, os números foram considerados como “um absurdo”. Hoje, segundo o infectologista, este número é “tirado de letra”, com o DF sempre tendo uma faixa de 40 a 50 mil casos durante as suas epidemias.

Apesar de queda nos casos, é bom manter cuidados

Neste período de seca, que, de acordo com o INMET, deve durar até setembro, muitos focos de água parada que poderiam ser possíveis criadouros acabaram secando. Porém, o infectologista explica que isso não impede o nascimento de novos mosquitos, fazendo com que os moradores tenham que continuar tomando cuidados para impedir a proliferação do vírus.

“A fêmea não coloca o ovo na água, ela coloca acima, e o ovo pode ficar lá ressecado por até um ano. Você tem um balde com água, e a fêmea do aedes colocou lá os seus ovos, e você jogou a água do balde fora mas não fez nada depois e deixou o balde lá. Se o balde encher de novo em um prazo de um ano, em meia hora nasce uma geração de aedes”, explica.

Para o mosquito sobreviver, ele precisa colocar seus ovos em diversos focos de água parada, sejam eles grandes ou não. Para combater a dengue, Dalcy alerta que atenção do morador aos possíveis criadouros deve ser minuciosa: “Se você tiver na sua casa uma piscina olímpica e uma tampinha de garrafa com água, a fêmea pode até chegar na piscina olímpica e colocar ovos, mas antes antes ela também irá colocar ovos na tampinha de garrafa, e da sobrevivência dela”.

Visitas de agentes é essencial

Para conseguir diminuir o número de casos de dengue, o infectologista afirmou que uma medida essencial é a visita dos agentes ambientais nas residências. Porém, a função de averiguar os possíveis focos do mosquito também deve ser feita pelos moradores.

“O trabalho para eliminar o aedes é sair catando criadouro. Isso sempre é feito pelos agentes de saúde, mas é muito mais apropriado que seja o próprio dono da casa. O ciclo do mosquito é de oito, nove, dez dias, e o agente de saúde não vai na sua casa a cada dez dias, isso é impossível.”, declara.

Para Albuquerque, a visita dos agentes de saúde é uma política pública muito mais eficiente do que os caminhões que soltam fumacê, que circulam periodicamente nas ruas do Distrito Federal. O veneno apenas matará o mosquito se houver algum contato direto com o inseto, e algumas pessoas, por não gostarem do cheiro do produto, acabam fechando as suas janelas, impedindo desta forma a eficácia dentro das residências.

“A partícula de veneno do fumacê deve praticamente bater no mosquito, como se fosse uma espingarda. Muitas vezes as pessoas não gostam do cheiro do fumacê e fecham as suas janelas, protegendo o aedes que está dentro da sua casa. O aedes vive dentro de casa, Você não pode ter um cachorro ou um gato dentro da sua casa, mas com certeza tem um aedes debaixo de uma mesa ou atrás de um quadro”, analisa.

O infectologista também observa que a visita dos doentes às unidades básicas de saúde podem ajudar nos trabalhos de prevenção locais, alertando as autoridades para o surgimento de focos em uma determinada região. O atendimento médico também é necessário para evitar que a infecção leve a óbito, prevenindo também que ocorra complicações mais graves.

“Por mais que ela já seja considerada uma doença corriqueira, ela tem um quadro grave e esse quadro grave dá sinais antes de aparecer. Então é bom que a pessoa com febre, mal estar, muita dor no corpo e vontade de ficar deitado, procure uma unidade. Se a gente começa o tratamento durante essa fase de sinal de alarme, a gente, normalmente, tem uma grande chance de evitar o óbito.”, conclui.

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