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Brasília

Hospital de Base completa 40 anos com a marca de 1.300 transplantes de rim

O transplante de número 1.300 foi marcado por uma dose extra de emoção, quando que uma mãe pôde doar um rim ao filho

Redação Jornal de Brasília

01/12/2022 10h10

Foto: Davidyson Damasceno/Iges-DF

Cada transplante realizado é uma nova esperança – tanto para o paciente e sua família quanto para a equipe médica. Mas o transplante de rim de número 1.300 feito pelo Hospital de Base, após 40 anos desde a realização do primeiro procedimento, foi marcado por uma dose extra de emoção, quando que uma mãe pôde doar um rim ao filho.

“Foi uma sensação de renascimento, de eu poder ter dado a vida ao meu filho pela segunda vez”, conta Luzia Veríssimo dos Santos, 46 anos, doadora. A cirurgia foi feita em 25 de outubro. “É uma sensação de alegria, de amor incondicional, saber que a vida dele vai continuar graças a um pedaço de mim que está dentro dele”, comemora a mãe.

Luzia conta que ficou muito abalada quando soube que o único filho estava doente. Quando foi levantada a possibilidade de poder ajudar a salvá-lo, ela começou a lutar. “Foi uma bênção realizar os exames e saber que éramos totalmente compatíveis para o transplante”, lembra.

Mas não era tão simples, ela estava muito acima do peso para a cirurgia. “Eu estava com sobrepeso e alterações clínicas. Segui a dieta à risca, comecei a fazer atividade física e emagreci 17 quilos”, detalha.

A expectativa pelo transplante começou há muito tempo. Em 2019, o balconista Luiz Carlos Veríssimo Pereira, de 23 anos, começou a sentir o corpo inchado, pressão alta e enjoos. Fez alguns exames, foi encaminhado ao nefrologista e chegou a ficar 15 dias internado.

Foto: Davidyson Damasceno/Iges-DF

Após o estado de saúde de Luiz se agravar, descobriu que precisaria de um transplante. “Só tenho a agradecer pelo atendimento no Hospital de Base. Todos foram muito solícitos e atenciosos comigo”, conta. Pouco tempo depois do procedimento, os desconfortos já haviam diminuído. “Minha disposição já é outra”, comemora.

Receber o rim da própria mãe foi um presente. “É muito raro ter uma compatibilidade tão grande. Foi ganhar na loteria saber que minha mãe poderia ser minha doadora, foi ganhar a vida de novo”, afirma o filho, emocionado. “O sentimento hoje é de muito amor. Deus nos abençoou por ela poder ser a minha doadora. Agradeço a ela e a toda a equipe do Hospital de Base, que me acolheu e me ajudou muito”.

Luzia comemora: “A vida dele poderá voltar ao normal sem a hemodiálise, retomar a rotina de trabalho e até a possibilidade de me dar netos. Tivemos um ótimo atendimento desde o começo do processo no Hospital de Base. Desde a limpeza, as enfermeiras, os médicos, todos são excelentes! Nos sentimos muito seguros aqui”.

História 

O transplante renal sempre foi motivo de orgulho para as equipes de urologia, nefrologia e para todo o Hospital de Base ao longo desses 40 anos. “Fomos o segundo hospital do DF a realizar esse procedimento e somos até hoje o centro com maior número de transplantes realizados no Centro-Oeste”, orgulha-se o chefe do Serviço de Urologia do HB, Flávio Henrique Frederico Guimarães, que participou do transplante entre mãe e filho.

Grande parte da atual equipe que atuou no procedimento é formada por alunos dos pioneiros do transplante renal de Brasília. “Temos muito orgulho disso e sabemos da importância deste legado”, afirma o médico. “O sentimento é redobrado, por enaltecer o nosso hospital e ajudar na recuperação da saúde e liberdade desse paciente, que ficará livre da hemodiálise, voltando a ter uma vida com menos restrições”.

Foto: Davidyson Damasceno/Iges-DF

O transplante foi entre doadores vivos relacionados, da mãe para o filho. Esse tipo de procedimento, segundo o médico, envolve uma responsabilidade dobrada, pois é realizada uma grande cirurgia em uma pessoa saudável, que está doando um órgão para um parente por motivos afetivos e de forma altruísta.

“Tentamos minimizar os riscos e morbidades pós-operatórios dessa pessoa sabendo o sacrifício pessoal que está realizado. Para isso, adotamos desde 2014 no nosso serviço a retirada do rim do doador por via videolaparoscópica”, detalha o médico. No receptor, é feito o implante do rim na pelve – pela localização dos vasos sanguíneos mais favoráveis e proximidade com a bexiga – , utilizando as técnicas mais modernas de cirurgia vascular e urológica.

“Apesar de ser uma grande cirurgia, com todos os seus riscos inerentes, o rim em receptores de doador vivo em geral tem um funcionamento mais rápido devido ao tempo menor de isquemia [tempo em que o órgão fica resfriado fora do corpo do doador] e à proximidade imunológica entre doador e receptor”, explica o urologista.

A equipe de nefrologia, representada pelas médicas Viviane Brandão Bandeira de Mello Santana e Ruth Bittar Souto, cuida do preparo clínico dos pacientes no pré-operatório e do seguimento no pós-operatório, da recuperação da função renal e da administração de medicamentos imunossupressores, que ajudam a evitar a rejeição do órgão.

A equipe pioneira é formada por Flávio Guimarães e pelos médicos João Ricardo Alves e Dídimo Carvalho Teles. A técnica, segundo o médico, reduz a dor e as cicatrizes do doador e propicia um retorno mais rápido às atividades cotidianas e de trabalho. Da equipe envolvida nesse transplante fazem parte, além de Flávio Guimarães e João Ricardo Alves, os médicos Germano Adelino Gallo, João Emerson Alencar, Guilherme Coaracy, Renato Moreira Souto e Aderivaldo Cabral Dias Filho. Além deles, uma grande equipe de médicos do corpo clínico, médicos residentes e enfermeiros das unidades de Urologia e Nefrologia está diretamente envolvida no preparo e seguimento dos pacientes transplantados.

“O transplante intervivos provoca um grande envolvimento e alegria na equipe médica”, ressalta Germano Adelino Gallo. Após o procedimento, encontrar os pacientes e acompanhar a melhora e os laços afetivos entre os familiares é muito gratificante para todos nós.”

A enfermeira Evelin Soares foi quem deu o treinamento a Luiz. “No pós-transplante, o paciente muda completamente a rotina de medicamentos. A continuidade da medicação é fundamental para evitar a rejeição do órgão transplantado”, reforça a profissional.

“Durante a internação, o paciente passa pelo treinamento para voltar para casa sabendo tomar todos os remédios necessários. Ele adquire familiaridade; e, ao mesmo tempo, nós, profissionais, buscamos trabalhar suas limitações para que o paciente consiga superá-las”, explica a enfermeira.

Pacientes hipersensibilizados e com falência de acesso vascular para hemodiálise são os principais desafios médicos nessa área, informa Viviane Brandão.

“Porém, além das ciências médicas, aprender a cuidar do paciente de uma forma abrangente, entender suas dores e alegrias, sua história de vida, seu contexto social e familiar é um dos nossos maiores desafios”, reconhece a médica. “Nós filmamos o transplante 1.300. Minha alegria é esse trabalho, participar do transplante, ver a recuperação das pessoas voltando a ter uma vida normal. É como um renascimento mesmo.”

A presidente do Iges-DF, Mariela Souza de Jesus, conta que também se emociona a cada relato de cura ou procedimentos bem-sucedidos. “Sabemos o quanto a hemodiálise é fundamental para quem necessita dela, e sabemos também o quanto afeta a rotina da pessoa, por isso uma cirurgia de transplante renal é motivo de celebração da vida e nos enche de felicidade enquanto gestores”, afirma.

Com informações da Agência Brasília

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