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Brasília

História de catadora em MG faz lembrar da luta de Carolina de Jesus

A catadora, assim como a escritora, afirma que percebe o preconceito por parte das pessoas apenas pelos olhares

Redação Jornal de Brasília

19/03/2024 13h55

Foto: Agência de notícias Ceub

Por Ana Clara Mendonça, Davi Moisés e Nathália Maciel
Agência de Notícias Ceub/Jornal de Brasíla

Moradora de comunidade, preta, mãe solo, catadora e trabalhadora da reciclagem. Os caminhos da mineira Talia dos Reis, 26, se aproximam da escritora consagrada Carolina Maria de Jesus (que nasceu há 110 anos, 1914 – 1977). Talia não conhece a história da autora de Quarto de Despejo, mas conhece bem a luta que faz a obra de Carolina ser universal e atemporal.

A catadora, assim como a escritora, afirma que percebe o preconceito por parte das pessoas apenas pelos olhares. “Às vezes, é um olhar. A pessoa nem precisa falar para saber que ela tem um tipo de preconceito com a gente. O olhar diz tudo”, aponta a trabalhadora da cidade de Sarzedo (MG) e que vive na comunidade de Jardim Anchieta. O trabalho acontece no Distrito Industrial dos Caseiros, a 45 minutos de casa. Talia afirma que o preconceito é sútil.

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Escola

Como Carolina Maria de Jesus, Talia também não concluiu os estudos. Ela estudou até a sétima série quando descobriu a primeira gravidez. Expulsa de casa, ela precisou largar os estudos para trabalhar e exercer a maternidade. Antes de trabalhar com reciclagem, Talia atuou em diferentes funções, como cuidadora de idosos, babá e faxineira.

São épocas diferentes, contudo histórias que se repetem. Criada pela avó, Talia cresceu em uma fazenda, separada de seus nove irmãos. Durante a infância da mineira, ela acompanhava a tia, que era catadora. Diferente da mãe dela, Talia teve a oportunidade de estudar até os 13 anos.

“A melhor profissão”

Atualmente, com o apoio da mãe e de instituições federais, como o Programa Criança Feliz, a mineira consegue conciliar o trabalho com a criação dos três filhos: de 13, 9 e 6 anos de idade. No cotidiano, quando precisam de ajuda nas tarefas escolares, Talia gostaria de poder ensinar as crianças, mas diz que não consegue pela baixa escolaridade. O fato de não seguir com os estudos é um dos maiores arrependimentos de vida.

Diferentemente de Carolina Maria de Jesus, Talia tem apreço por sua ocupação e diz ser a melhor profissão que já teve. Trabalhando agora na Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Sarzedo (ACAMARES), Talia tem orgulho da atividade.

Quem foi Carolina Maria de Jesus

A história da escritora ficou conhecida por uma reviravolta através das letras. Ela foi catadora de papel e viu na escrita uma oportunidade de expressar a luta. O mês de março é de celebrações do legado da escritora, que nasceu há 110 anos, em 14 de março de 1914. Ela denunciava que a favela era desassistida de políticas públicas, o que possibilitava o crescimento de violência e de outras mazelas.

Ali na favela do Canindé, Carolina lutava contra a fome, a falta de abrigo e o crime enraizado naquele lugar. Já que não tinha o poder de tirar todos daquela realidade, a escritora sonhava de ver pelo menos os filhos longe daquele lugar.

Nascida em 1914, na cidade de Sacramento, Carolina viveu em Minas Gerais até os 23 anos, quando sua mãe faleceu. Em uma favela de São Paulo, a mulher resolveu recomeçar a sua vida como empregada doméstica. Ali, sem se adaptar, Carolina teve como opção se tornar catadora de papel nas regiões próximas de sua casa.

Oportunidades

Em 1958, o jornalista Audálio Dantas andava pela favela onde a catadora de papel morava em busca de histórias para as suas matérias. Até que o jornalista acabou conhecendo os relatos que Carolina já havia escrito. Encantado com a lucidez da autora, Audálio ajudou a mineira a publicar o seu primeiro e mais conhecido livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada (leia mais)”.

Em sua primeira obra, a autora contava com detalhes o seu dia a dia como mãe, favelada e catadora de papel. Além disso, a escritora fazia questão de demonstrar pelas palavras a aflição que sentia na época. O tom é de tristeza e desesperança em relação ao seu e ao futuro dos três filhos. Como a escritora, Talia também espera que os filhos tenham um caminho diferente. Mas, agora é luta.

Leia mais sobre o tema

https://agenciadenoticias.uniceub.br/educacao-cultura/escritora-faz-oficina-de-escrita-para-mulheres-negras-no-df/

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