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Brasília

Heleno nega participação em atos antidemocráticos e afirma que 8/1 não foi tentativa de golpe 

Segundo o militar, a expressão usada pelas pessoas para se referir à invasão aos prédios dos Três Poderes está sendo mal empregada

Mayra Dias

01/06/2023 18h29

Brasília (DF) 01/06/2023 – O General Augusto Heleno e o presidente da CPI, Chico Vigilante, durante CPI dos Atos Antidemocráticos aberta na Câmara Distrital do DF. Foto José Cruz/Agência Brasil

Em depoimento prestado na manhã desta quinta-feira (1), o general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), afirmou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do DF (CLDF) que os ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro não foram uma tentativa de golpe contra a democracia.

Segundo o militar, a expressão usada pelas pessoas para se referir à invasão aos prédios dos Três Poderes está sendo mal empregada. Como defendeu Heleno, uma manifestação de insatisfação não pode ser caracterizada como um golpe.

“Um golpe, para ter sucesso, precisa ter líderes. Um líder principal, alguém que esteja disposto a assumir esse papel. Não é uma atitude simples, ainda mais em um país do tamanho do Brasil. Esse termo golpe está sendo empregado com extrema vulgaridade. Não é uma coisa simples de se avaliar que uma manifestação, demonstração de insatisfação, por exemplo, possa se caracterizar um golpe”, disse o general, considerando, ainda que a tentativa de invasão ao prédio da Polícia Federal, em 12 de dezembro, para ele, não foi uma tentativa de golpe.

Em sua oitiva, o ex-ministro ainda pontuou que um golpe coordenado poderia ter sido bem-sucedido. “Ele teria condições de acontecer se tivesse sido planejado. Isso é no mundo inteiro, verificamos no mundo inteiro, às vezes acontece essa história. Mas é um processo que não é assim, sair para rua e dar um golpe, ainda mais em um país como o Brasil”, disse. 

Heleno também ressaltou que reconhece o resultado das eleições e que a minuta de um suposto golpe encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, não possuía nenhum significado relevante.

“Anderson Torres era muito leal e preparado. Eu gosto muito dele. Esse tal documento foi uma página ruim da história de vida dele. Mas era um documento sem importância, tanto é que ele deixou na casa dele sem qualquer preocupação”, disse. 

Participação negada 

O militar negou severamente ter participado da articulação dos acampamentos golpistas em frente aos quartéis-generais. O general disse que só conheceu as manifestações por “fotografia” e que elas pareciam “sadias, onde se fazia muitas orações”, compartilhou Heleno. 

Questionado sobre o motivo de ter curtido um tuíte que dizia “sermos pacíficos não adiantou” poucas horas antes do início dos atos de vandalismo no dia 8 de janeiro, Heleno disse não se lembrar de ter interagido com a publicação, embora tenha garantido à CPI que somente ele tem acesso a sua conta no Twitter.  

O deputado Fábio Félix (PSOL) quis saber o motivo de uma reunião que o general Heleno teve com a ativista Sarah Winter, em 2021. “Em novembro de 2021, Sarah Winter disse à revista Istoé que foi orientada pelo senhor a direcionar todos os esforços contra o STF. Então, o grupo dela marchou até a sede do Supremo e atacou o prédio com fogos de artifício”, lembrou o deputado.

“Pedi a senhora Sarah Winter que comparecesse em meu gabinete para conversarmos a respeito das reclamações dos jornalistas que estavam trabalhando no cercadinho do Alvorada. Eu mal conhecia aquela pessoa”, garantiu. 

Sobre os acampamentos, o depoente disse acreditar que o acampamento foi uma atividade que durou muito tempo, sem nenhum acontecimento de maiores consequências ruins e “foi uma experiência nova em termos de manifestação política ordeira e disciplinada, que deve ter acrescentado algumas coisa nos movimentos políticos brasileiros”, disse o ex-ministro. No entanto, integrantes do acampamento realizaram, ao menos, três atentados.

O primeiro, em 12 de novembro, quando eles queimaram ônibus e carros e tentaram invadir a sede da PF (Polícia Federal) após a prisão de um líder indígena. Outra, na véspera do Natal, quando o bolsonarista George Washington Sousa tentou explodir um caminhão-tanque no Aeroporto Internacional de Brasília. E, por fim, em 8 de janeiro, com a depredação das sedes dos Poderes. Augusto Heleno disse que aconselhava Bolsonaro para não tomar atitudes drásticas contra o Supremo Tribunal Federal.

Ele, no entanto, não quis comentar se o reconhecimento da vitória de Lula teria acalmado os apoiadores do ex-presidente. Quanto à live em que Bolsonaro atacou as urnas eletrônicas, o general disse não se lembrar da transmissão e que confiava “em termos” nos equipamentos.

“Eu acredito, em termos, mas eu acho que é preciso que haja uma evolução da urna eletrônica, para que ela seja totalmente confiável. Houve uma série de questionamentos em relação à confiabilidade da urna. Isso é normal em um regime democrático. Isso é normal. O resultado da eleição foi respeitado”, ponderou. 

Para o presidente da CPI, deputado distrital Chico Vigilante (PT), apesar de escorregadio, o depoimento do general foi importante para mostrar o poder da CPI, como os militares do governo Bolsonaro veem hoje os civis e, principalmente, como os bolsonaristas avaliam pontos que estão sendo investigados desde o dia das depredações.

“Se Bolsonaro tivesse legitimado o resultado das eleições no dia em que foi divulgado e tivesse dito que dali por diante ele e todo o seu grupo iriam partir para a oposição no país, isso não teria influenciado o pessoal que resolveu montar acampamentos e fazer manifestações e atos antidemocráticos para mudar o resultado das urnas”, destacou Vigilante.

Defesa à ditadura 

Durante seu depoimento, Augusto Heleno defendeu o golpe que instalou a ditadura militar, em 1964. Após o deputado distrital Gabriel Magno (PT) afirmar que a ditadura do Brasil foi “um atentado contra os direitos humanos”, o chefe do GSI da gestão de Jair Bolsonaro argumentou dizendo que as coisas são “vistas de um lado, como sempre”.

“O deputado acha que o movimento de 1964 matou mais de mil pessoas, o que não aconteceu. Acha que foi um movimento de vingança, de ódio, quando o movimento de 64 salvou o Brasil de virar um país comunista. Isso não teve nenhuma dúvida. Basta ler a história do Brasil, que esteve a um passo de virar um país comunista”, disse Heleno.

Após a afirmação, houve bate-boca entre os distritais, e pessoas que assistiam à sessão na plateia gritavam “sem anistia”. Após a confusão, a bancada da esquerda prometeu ações contra a fala de Heleno, avaliando que ele cometeu um crime durante a declaração.

Novas convocações 

Antes do depoimento começar, os deputados decidiram convocar novamente o Coronel Jorge Eduardo Naime, ex-comandante de operações da Polícia Militar do Distrito Federal. Segundo o requerimento, foram identificadas contradições entre o primeiro depoimento dele e o do general Dutra, ex-chefe do Comando Militar do Planalto.

Os parlamentares também aprovaram a convocação do major da PM Flávio Silvestre de Alencar e do diretor do Departamento da Polícia Especializada da Polícia Civil do DF, Victor Dan de Alencar Alves.

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