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Brasília

Frio é mais intenso para pessoas em situação de rua

Com as baixas temperaturas registradas, vulneráveis necessitam de doações de casacos e cobertores

Vítor Mendonça

20/05/2022 6h27

Foto: Vitor Mendonça/ Jornal de Brasília

O frio intenso que se instalou no Distrito Federal – resultado do avanço de uma massa polar que atinge o Sul, Sudoeste e Centro-Oeste – foi sentido, principalmente, por pessoas em situação de rua. Com pouco ou quase nenhum recurso, às vezes com uma única peça de roupa, quem dormiu ao ar livre sentiu com incômodo o impacto da temperatura baixa na capital.

Na madrugada entre a última quarta-feira (18) e ontem, o DF registrou um novo recorde para a menor temperatura da história da capital federal. Os termômetros da estação meteorológica do Gama marcaram 1,4°C. Anteriormente, a menor temperatura havia sido registrada em 1975, sendo 1,6°C.

A noite mais fria do DF atrapalhou o sono de Carlos Antônio Guimarães da Cunha, de 58 anos, que há três anos está em situação de rua na Rodoviária do Plano Piloto. Para ele, a noite foi extremamente incômoda. “Terrível! Frio demais”, comentou. “Eu dormia e acordava com frio o tempo todo. Estamos com três cobertas [de tecido cinza sintético, comumente entregue em doações], mas acordava sempre”, continuou.

Para se aquecer durante a noite, Carlos procurou ter proximidade com a companheira apelidada de “Ceiça”. A troca de calor ajudou na madrugada, mas ele tem receio de que um frio de mesma intensidade, ou com ainda menores temperaturas, os atinja novamente. Durante o dia, com a temperatura aumentando, foi mais fácil suportar o frio. Por outro lado, Carlos não tem outro casaco além do fino que possui.

“Estou temendo o frio de novo. Sinto muito frio nos pés”, contou. Antes de estar em situação de rua, Carlos era motorista de ônibus e até gostava do tempo frio, porque tinha uma cama e uma casa para se proteger melhor das baixas temperaturas. Na atual situação, ele já não pensa da mesma maneira. “Eu gostava, porque tinha como me aquecer, mas nessa situação de estar 24h na rua é difícil. Mudou minha percepção”, afirmou. Ainda de acordo com ele, este ano, mesmo durante o dia, o frio está mais intenso.

Para José de Almeida, 53, artesão em situação de rua, apesar de intenso, o frio durante a noite foi menos violento. Ele dorme dentro de uma barraca que monta todas as noites, sendo ou debaixo da Biblioteca Nacional ou na Torre de TV. A temperatura baixa foi incômoda, mas ele traçou uma estratégia para evitar o vento, montando a estrutura ao lado de paredes que cortam o vento.

“Graças a Deus consegui dormir e descansar. Tenho cobertor e casaco recebidos de doação”, disse. Por outro lado, segundo ele, com mais doações, as noites frias seriam mais confortáveis. “Tem muita gente com uma situação diferente, que passa ainda mais frio, e nem tem cobertor. Conheço bastante necessitados assim”, completou.

De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), são aproximadamente 2.130 no DF em situação de rua. Tendo como um dos intuitos amenizar os sofrimentos com o frio durante a noite, a pasta conta com 71 unidades de acolhimento, com 2.052 vagas. Segundo a Secretaria, a população nessas condições aumentou significativamente, em 259% depois da pandemia – em 2019 eram 593 cidadãos em situação de rua.

Campanhas solidárias

Além dos abrigos da Sedes, de acordo com o GDF, os órgãos de segurança pública da Defesa Civil, Polícia Militar (PMDF) e Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF) começarão a arrecadar agasalhos, cobertores e roupas em geral para proteger a população em situação de vulnerabilidade a partir da próxima segunda-feira (23).

As doações precisam estar em boas condições de uso e limpas. Elas serão entregues a quem está na rua, a entidades assistenciais, em hospitais e em albergues durante o período de arrecadação. “O cidadão deve colocar os itens em sacolas plásticas, preferencialmente transparentes, e entregar no ponto de coleta mais próximo”, afirmou o GDF.

Quem também se disponibilizou a recolher e distribuir agasalhos e cobertores foi o Projeto Social Placs, que se mobilizou o mais rápido possível após a chegada desta massa polar. A instituição começou a arrecadar doações na última quarta-feira (18), e deve continuar com a ação até o próximo dia 27, sexta-feira da semana que vem. Os donativos arrecadados serão destinados a populações em situação de rua.

De acordo com Louise Schotten, a ação não estava planejada, mas foi necessária para levar conforto e aquecimento aos mais necessitados. Ela afirmou que algumas pessoas já entraram em contato com a intenção de entregar os itens. “Vimos a possibilidade de entregar em algumas regiões de Taguatinga, mas estamos procurando mais possibilidades de entregar em outros lugares também.”

“Se para nós que temos condições de nos proteger o frio já foi intenso, imagina para quem está fora de casa e não tem nada para se aquecer no momento. Vimos até uma pessoa morrer em São Paulo devido ao frio. Não pudemos não fazer nada”, destacou a voluntária. No Projeto Social Placs, além de Louise, a ação foi encabeçada por Carolina Rodrigues e Gabriela Prado.

Fim de semana menos frio

Nesta sexta-feira, o frio deve continuar na capital federal. De acordo com o Inmet, a previsão para a mínima é de 6°C e a máxima de 20°C, com umidade relativa do ar variando entre 25% e 85%. O clima será estável, com poucas nuvens, e a intensidade do vento será fraca/moderada.

Para o fim de semana, a tendência é de ligeira elevação nas temperaturas, tanto no sábado quanto no domingo. Para os dois dias, as mínimas devem ser de 8°C e 10°C, e as máximas registrando 22°C e 25°C, respectivamente. A umidade relativa do ar não deve ultrapassar 85%, com mínima de 25% no sábado e 30% no domingo.

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