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Brasília

“A escola sabia das ameaças”, diz mãe de menino assassinado em Taguatinga

Arquivo Geral

06/09/2018 14h46

Foto: Arquivo Pessoal.

Rafaella Panceri
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Quatorze dias após a morte do filho, a mãe de Charles de Souza Bezerra, 13 anos, tem uma única certeza: “Meu filho está no céu”. O menino foi assassinado a pauladas, esfaqueado e asfixiado em uma mata próxima ao Hospital Veterinário Público do Distrito Federal, em Taguatinga, no último dia 23 de agosto. Os autores, menores de idade, cobriram o rosto de Charles com uma camiseta e o despiram, antes de atear fogo no corpo, encontrado por um casal que passeava pelas trilhas do local.

“O clima em casa está muito tenso. Sentimos muito a falta dele. O irmão mais novo corre para o portão e fala que ele está chegando toda vez que escuta um barulho. Já eu temo pela minha segurança e pela da minha família. Não consigo dormir”, desabafa a mulher, que prefere não se identificar por questões de segurança. “É uma das piores dores do mundo. Não poderíamos passar por isso. Nunca senti nada parecido para comparar a essa sensação de perder um filho”, complementa.

A mulher acredita que a principal motivação para o crime tenha sido a inocência de Charles. Como noticiado pelo Jornal de Brasília, Charles tinha transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).

“Ele era muito inocente para a idade dele. Só era grande. De uns tempos para cá, vinha dizendo que tinha uma namorada em outra escola. Depois disso, começou a ser ameaçado por meninos na escola em que estudava. Avisou à direção, mas eles não fizeram nada. A escola sabia das ameaças e só me contou depois que meu filho morreu”, critica.

Corpo de Charles foi encontrado em mata em Taguatinga. Foto: Francisco Nero/Jornal de Brasília

 

Surra como correção
A mãe de Charles relata que, dias antes de ser assassinado, o garoto estava se ausentando de casa entre 11h e 14h. “Aparecia no meu trabalho, do nada. O pai perguntava onde ele estava e ele dizia que ia para o ‘quadradão'”, lembra. “O pai deu uma surra nele, para corrigir, mas não foi suficiente. Bateu em um dia e, no outro, mataram meu filho”, lamenta.

A família passou sete dias em Santa Rita de Cássia (BA) para enterrar o menino no cemitério onde estão os corpos de outros familiares. “Quando eu morrer quero estar lá, ao lado dele. Desde que a família soube da morte dele, a casa de parentes ficou lotada, em solidariedade. O enterro foi muito triste, com todos chorando e alguns até desmaiando”, lembra.

“Meu filho era um menino muito alegre. Sempre estava correndo por aí. Se ele conhecesse alguém em um dia, no outro dizia que era amigo dele. Não era um menino ‘solto’, envolvido com más companhias, mas era muito inocente”, explica. Eles viajaram até a Bahia para realizar o último desejo do menino. “Ele amava aquele lugar. Dizia que queria morar lá. Levamos”, conta.

Escola nega responsabilização

Ao JBr., a direção da Escola Classe 27 de Taguatinga, onde Charles estudava, disse que a afirmação de que sabiam que o garoto estava sob ameaças é uma “inverdade”.  O diretor, que preferiu não ter o nome divulgado na reportagem, disse por telefone que prestou depoimento na delegacia de polícia e que “fez o que pôde fazer pelo menino”.

Afirmou, ainda, que Charles era acompanhado por pedagogos, orientadores e psicólogos na unidade de ensino. “É lamentável. Uma perda que sentimos muito. E ficamos muito surpresos que a família diga que sabíamos que ele sofria ameaças, porque não é verdade. A mãe, inclusive, sempre foi muito assistida por nós”, afirmou a unidade.

Depois da morte do garoto, a Secretaria de Educação disponibilizou psicólogos para atender a professores e alunos que necessitassem de orientação, segundo a escola. “Principalmente na semana seguinte ao fato. Prestamos solidariedade e entendemos que lidar com o luto não é fácil. Nem sempre estamos preparados.”

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