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Brasília

Crime em Taguatinga: a história de crueldade por trás de um corpo em chamas

Arquivo Geral

31/08/2018 7h00

Atualizada 05/09/2018 15h15

Foto: Arquivo Pessoal

Rafaella Panceri
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O corpo encontrado carbonizado em uma mata próxima ao Hospital Veterinário Público do Distrito Federal (Taguatinga), na quinta-feira da semana passada, é de um menino de 13 anos.

Diagnosticado com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, Charles de Souza Bezerra era estudante do Centro de Ensino Fundamental 27 de Taguatinga e filho de dois feirantes.

Segundo a família, ele sofria ameaças de morte por dois colegas há pelo menos um mês, mas a escola só notificou os pais após a morte do garoto. Pelos vizinhos, ele é definido como um menino alegre, animado, sorridente e muito brincalhão. “Bem mais inocente que a idade”, define um vizinho.

Chefe da Delegacia da Criança e do Adolescente II (Taguatinga), o delegado Juvenal dos Santos Júnior investiga o caso e dá detalhes sobre o que teria ocorrido naquela tarde, com base no depoimento de um dos envolvidos no crime. Há duas hipóteses quanto à motivação.

“Um deles levou cocaína ao local do crime. A vítima pode ter usado e surtado, ou ter se recusado, pela índole e pelo comportamento mais infantilizado”, imagina. “Pode ter achado errado e dito que ia contar para alguém”, adiciona.

Segundo o relato de um dos adolescentes, três deles — “Cabeça”, R. e “Bigode” — convidaram dois colegas e a vítima para tomar banho na cachoeira dentro do Parque do Cortado, nas imediações do Hospital Veterinário. “R. teria levado cocaína. Os três usaram a droga e, dez minutos depois, todos se deslocaram para uma ponte. O vigia avisou que a área estava interditada”, narra. Surpreendidos, dois meninos aproveitaram para fugir quando perceberam a intenção do trio de causar mal a Charles.

“O denunciante ouviu o Cabeça dizendo ‘vamos matar logo ele, acabar logo com isso’”, conta o delegado. A dupla se negou a participar e assistiu ao trio levar Charles para dentro da mata, por uma trilha. “Ouviram o menino gritar de dor, mas tiveram medo e foram embora. Viram só a fumaça subindo”, conta. Depois de cometerem o crime, dois deles foram para casa. Um deles retornou à escola onde estuda — o CED 2 de Taguatinga.

O delegado-chefe da DCA conta que três dos adolescentes foram apreendidos no último domingo, mas por outro crime: o roubo de um veículo. A delegacia já instaurou o procedimento para apuração do assassinato que envolveu os cinco. Nos próximos dias, mais testemunhas e familiares serão ouvidos para esclarecer as circunstâncias da morte de Charles. A expectativa é que o juiz responsável decida pela punição pelo crime de homicídio.

“Por serem menores, não há acúmulo de pena. Se responderem pelo roubo, não respondem pelo homicídio. A pena pode ir de seis meses a três anos, seja qual for o delito”, explica. A corporação esclareceu que os envolvidos têm entre 14 e 15 anos e moram em Taguatinga, Ceilândia e Vicente Pires.

Fuga da escola no dia do crime

No dia do crime, Charles acordou cedo e foi à escola. Por volta das 10h30, a família recebeu um telefonema da direção, informando que ele havia fugido. A família decidiu esperar pelo garoto, porque um primo disse tê-lo visto no portão do colégio brincando de carteado. Por volta das 13h, ele ainda não tinha chegado em casa. A mãe foi à escola e não o encontrou. Esperou até 19h30, quando foi com a irmã à 17ª DP registrar o desaparecimento. Na mesma tarde, Charles retornou para casa, tomou banho e saiu — na companhia do grupo.

A família soube do fato no dia seguinte. Amigo da família, o técnico em prótese dentária Bonifácio Lúcio, 50, reconheceu o corpo e dirigiu o carro dos feirantes até Santa Rita de Cássia (BA), onde o menino foi enterrado. Ele recebeu um áudio do pai de Charles avisando da morte do filho: “Mataram o Charlinho, Boni! Meu filho morreu. Ele gostava tanto de vocês”, diz a mensagem.

Bonifácio conta que no início do mês a família estava na Bahia. “Charles chorou, disse que não queria vir embora porque estava sofrendo perseguição”.

“A família estava na Bahia semanas atrás. Charles chorou, disse que não queria vir embora porque estava sofrendo perseguição”. Bonifácio Lúcio, amigo da família, reconheceu o corpo./ Foto: Matheus Albanez

Saiba Mais

A família de Charles Bezerra está em Santa Rita de Cássia, no interior da Bahia, para enterrar o corpo do menino desde o último sábado (25). Eles retornam a Brasília amanhã, após realizarem a missa de sétimo dia na cidade.

Vizinhos e amigos da família dizem que Charles era uma criança “especial”, com problemas psicológicos, que era acompanhada por uma equipe multidisciplinar. Os pais, vendedores de espigas de milho na Feira do Produtor de Ceilândia, têm mais um filho de dois anos de idade.

O JBr. noticiou o caso no último dia 23. Na ocasião, o corpo foi encontrado pelo Corpo de Bombeiros, ainda em chamas, no matagal. Ele foi assassinado a pauladas, esfaqueado e asfixiado. Os autores cobriram o rosto do menino com uma camiseta e o despiram.

Matagal onde o corpo de Charles foi encontrado. Foto: Francisco Nero

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