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Brasília

Endividamento de famílias brasilienses cresce novamente

Inadimplência está prestes a atingir novo recorde histórico no Distrito Federal e chega a atingir cerca de 25,2%

Vítor Mendonça

18/07/2022 5h43

economia

Imagem: Reprodução

Está cada vez mais difícil manter as contas em dia para as famílias do Distrito Federal. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio (CNC), em junho, o nível de endividamento na capital cresceu 0,1 ponto percentual em relação ao mês anterior, passando de 81,5% para 81,6% no último levantamento divulgado.

Quanto à inadimplência, isto é, as dívidas atrasadas por mais de um mês, o índice atual é de 25,2% no DF. A estatística acende um alerta na capital, uma vez que está apenas 0,3 pontos percentuais mais baixa que o recorde histórico registrado em março deste ano, quando a inadimplência chegou a 25,5%. Em maio, o nível chegou a 24,9%.

Segundo a economista da CNC e coordenadora da pesquisa, Izis Ferreira, a probabilidade do DF ultrapassar março e registrar novos níveis históricos é grande. “Quando analisamos a evolução da inadimplência, vemos que é quase sempre positiva [desde a pandemia]. Isso nos dá um indicativo de que os índices podem aumentar ainda mais no DF. É possível que um novo recorde aconteça sim – é o cenário mais provável, de que a inadimplência cresça”, destacou ao Jornal de Brasília.

Um dos chefes de família que tem passado por dificuldades financeiras é Robson de Almeida, de 26 anos. Ele é morador do Itapoã e vive com a esposa e dois filhos pequenos, de 6 e 9 anos de idade. Segundo ele, as maiores dificuldades atualmente são os custos com as contas de casa, como luz e água, além daquela com a alimentação da família. Ainda há os empréstimos feitos com o banco.

“O custo de vida em Brasília está muito alto. O pouco que a gente ganha, temos que dividir para as coisas essenciais”, contou ele, que está desempregado e atualmente só tem conseguido fazer bicos em restaurantes como garçom, em mercados e em obras. “Estamos com uma dívida de R$ 4 mil com as contas de água e estamos com o risco de ficar sem água na nossa casa”, afirmou.

Robson trabalhava em um mercado da região, mas foi dispensado no fim de fevereiro. Era o que sustentava melhor a casa. Desde então, tem tentado manejar as contas como pode, ganhando entre R$ 1.200 e R$ 1.400 nestes serviços temporários que consegue. “Me sinto sufocado, é muito ruim e é como se eu nadasse, nadasse, mas não saísse do lugar. Uma situação como essa sufoca o ser humano”, relatou.

De acordo com ele, as qualificações do currículo ainda não o ajudaram a conseguir uma renda fixa para ter maior segurança financeira em casa. Conforme contou à reportagem, Robson possui cursos de inglês e espanhol básicos, informática, barman e um em contabilidade. Nenhum deles foi suficiente para lhe garantir uma melhor renda até o momento.

Índice alarmante

O índice de famílias endividadas no DF está acima da média nacional, que, segundo o mesmo levantamento da Peic, ficou em 77,3% neste último mês – 0,1 ponto percentual a menos que o mês anterior, maio de 2022. Entretanto, apesar da pequena baixa em um mês, o nível ainda está 7,6 pontos percentuais acima do registrado em junho do ano passado, quando o endividamento estava presente em aproximadamente 69,7% dos núcleos familiares brasileiros.

Ainda segundo Izis, o endividamento no DF registrado neste mês de junho é o 6º maior do país – no ranking da média dos resultados dos seis primeiros meses deste ano, a capital ficou na 10ª posição. O estado com a população menos endividada foi o vizinho Goiás, com 57% das famílias. O primeiro colocado brasileiro é o Rio Grande do Sul, cujo índice fechou em aproximadamente 93%.

De acordo com a especialista, o cartão de crédito foi a modalidade com maior quantidade de endividamento. Nos últimos meses, porém, esta modalidade tem diminuído de uso, dando o espaço de crescimento para o crédito pessoal, o carnê e o financiamento de imóveis. “Os brasilienses estão mais cautelosos quanto ao uso do cartão, mas ele ainda foi muito usado em função das famílias mais pobres, para dar um fôlego por conta da atual situação, sobretudo com os juros e a inflação altos”, afirmou Izis.

O cartão de crédito compôs 82,5% das dívidas, portanto – em abril estava em 84%. Uma peculiaridade que Izis destaca é que, dentre as famílias mais ricas, houve um maior uso do cartão de crédito, uma vez que as saídas e compromissos com as categorias de serviço se tornaram mais frequentes. “Era uma demanda reprimida a do consumo de serviços. As famílias voltaram a consumir serviços em geral, com restaurantes, bares, salões de beleza e viagens”, disse.

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