Menu
Brasília

Educacionais, acessíveis, autorais… empresas do DF apostam nos jogos on-line

Segundo a Associação Brasilia Indie Game (Abring), hoje, no Distrito Federal, existem 33 empresas que trabalham formalmente com jogos digitais

Redação Jornal de Brasília

28/06/2022 18h44

Foto: Arquivo pessoal

Luiz Eduardo Certain
(Jornal de Brasília / Agência de Notícias CEUB)

No Brasil, segundo a Pesquisa Games Brasil 2022, cerca de 74% da população possui o hábito de jogar, seja no computador, videogame ou smartphone. Das pessoas que jogam, mais de 80% afirmaram que os jogos eletrônicos fazem parte de umas de suas principais formas de diversão. Mas, todo este amor não fica reservado apenas à parte de jogar, mas também está presente na hora de criar, como mostram empreendedores da área.

Segundo a Associação Brasilia Indie Game (Abring), hoje, no Distrito Federal, existem 33 empresas que trabalham formalmente com jogos digitais, tornando a capital federal um dos pólos de produção de jogos do Brasil. 

Para o diretor executivo da Abring e pesquisador da indústria de jogos brasileira, Alberto Miranda, de 31 anos, a comunidade brasiliense de jogos tem um forte sentimento de união entre si, o que permite esse crescimento.

“Essa comunidade surge em meados de 2010 e 2012, quando as empresas começaram a ser fundadas, ela nasce desse formato de colaboração. As primeiras coisas lançadas foram as mostras BRING, que é um evento criado por nós para juntar os desenvolvedores para que mostrem seus projetos e se conheçam melhor. Além disso, nós temos, hoje, mais de 70 premiações e indicações de prêmios de jogos de Brasília”, explica.

Planejamento

Apesar do campo promissor, Alberto Miranda atenta às pessoas que planejam viver da criação de jogos, que o primeiro passo é o mais importante. Ele defende que o empreendedor deve estar preparado para ele, se quiser criar sua própria empresa.

Segundo o diretor, a falta de investimentos dificulta todas as etapas da criação de um jogo, desde arrumar desenvolvedores dispostos a participar do projeto, abrir uma empresa própria e lançar o jogo no mercado com sucesso.

“Acho que a maior dificuldade de viver de produção é que as equipes, geralmente, são pequenas, são pouco qualificadas e pra você chegar nesse ponto de viver de produção, você tem que ter uma visão de negócios, de administração de empresas, de entender que aquele seu jogo é um produto e ele tem que dar retorno em algum momento, você tem que pensar no marketing para poder vender esse jogo para poder continuar produzindo novos jogos”, comenta o pesquisador.

Apesar das dificuldades, o mercado de produção de jogos continua crescendo por todo o Brasil, como afirma o diretor executivo da Abring.

“O mercado de trabalho de jogos no Brasil é muito grande. Nós temos muitos profissionais de qualidade no país inteiro. A maioria, obviamente, está se concentrando na região sul/sudeste do país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, mas também Recife, que é um polo muito forte, além de alguns estados do Nordeste”, afirma ele.

Por outro lado, Alberto diz que nem tudo é positivo, pois algumas regiões têm seus “trabalhadores de qualidade”, mas que acabam não conseguindo emprego por lá, sendo obrigados a se mudar para algum polo da área no Brasil.

Mas essa galera assim acaba que em algumas regiões tem essa galera de muita qualidade, mas essas pessoas não conseguem emprego nas suas regiões, então eles acabam saindo.

“Aqui em Brasília a gente tem muitos profissionais de qualidade, profissionais sêniores, que estão saindo daqui pra ir trabalhar em empresas maiores, tanto nacionais quanto internacionais”, finaliza.

Hugo Vaz Aragão Carneiro, 33, é sócio e diretor de arte na Behold Studios, de Brasília. Ele conta que os jogos sempre fizeram parte da sua vida e até influenciaram ele a começar a desenhar.

“Meu pai tinha um Atari guardado e eu tinha 5 anos de idade quando o achei. Eu queria ligar e ver como jogava, pouco tempo depois ele me comprou um Super Nintendo do Paraguai. Por influência dos jogos, eu aprendi a desenhar e entrei no curso de desenho industrial sem saber que era uma possibilidade, mas dentro do curso conheci pessoas que tinham amigos programadores e, assim, fizemos nossas primeiras tentativas. Em 2009 comecei a estagiar na Behold e estou trabalhando com jogos desde então”, relembra.

Hoje, a Behold Studios possui um time de 11 pessoas e é uma das primeiras empresas de jogos de Brasília, com dois estúdios que trabalham juntos remotamente, um na capital do Brasil e outro no Canadá.

“A Behold uniu o desejo de alguns sócios de morarem fora, com a possibilidade de conseguir editais no Canadá. Assim, a empresa canadense foi aberta e fizemos essa transferência. Estar no Canadá, apesar de mais caro, permite uma facilidade em buscar contratos e participar de editais culturais. A empresa brasileira ainda existe comigo aqui, apenas foi reduzida sua atividade”, complementa.

Jogos educativos

Anthony Viana, 33, é sócio diretor comercial da empresa brasiliense Fira Soft e trabalha com jogos educativos há 10 anos. O profissional conta um pouco de como o mercado de jogos mudou neste tempo com uma maior inclusão de Smartphones na nossa rotina.

“Quando a empresa foi fundada, em 2012, o objetivo era desenvolver jogos educacionais para dispositivos móveis, principalmente tablets, e ninguém acreditava que isso poderia ser usado como fonte para jogos, educacionais principalmente. Então, o que era antes, desacreditado, hoje, para a gente, é uma coisa natural. Cada vez mais se investe nesse tipo de ramo. Além disso, cada vez mais pessoas têm acesso a esses dispositivos, e o Smartphone se tornou mais em conta. Então, ultimamente, a gente tem um público maior e os jogos são mais bem vistos, porque tem mais gente jogando”, comenta.

A Fira Soft possui, atualmente, uma equipe de 16 pessoas, que trabalham por meio remoto devido a pandemia. Os jogos produzidos pela empresa são feitos sob demanda de clientes, algo que teve um crescimento durante o período de isolamento social.

“A pandemia para algumas pessoas da indústria de jogos pode ter sido ruim, mas, na grande maioria, foi muito bom. Pra quem trabalha com autoral teve um boom de vendas porque há mais gente em casa, principalmente crianças, né? Sem aula, com tempo de escola reduzido, basicamente teve um aumento de vendas. Para quem trabalha com desenvolvimento sob demanda, igual a gente, por exemplo, que trabalha desenvolvendo jogos para clientes, também teve um boom na área educacional, que muitos começaram a procurar a indústria de jogos para desenvolver plataformas de jogos pros alunos. Dado que os alunos em casa já estão jogando, por que não jogar um jogo educativo?”, questiona Anthony.

Para o empreendedor, os jogos não tem o objetivo de substituir os professores, mas sim, melhorar a experiência do estudante que está aprendendo.

“O jogo tem uma vantagem muito legal porque, por ser divertido, a gente fala que você aprende sem perceber que está aprendendo. A gente sempre conversou bastante com professores para falar que o jogo educacional nunca veio para substituir um professor, pelo contrário ele tem que participar junto ao professor, o professor tem que entender o jogo, ele tem que participar junto com os alunos. Então é um auxiliar do professor, assim como um livro didático. Eu vejo com muito potencial. É uma área que vem crescendo muito, não só no Brasil, mas no mundo”, explica.

Jogos acessíveis

Diferentemente da veterana Fira Soft, a Tavern Tale Studios passou a ser formalizada há apenas dois anos. Mesmo tendo sua criação recente, a empresa já possui dois jogos lançados, com o seu diferencial sendo fazer jogos com acessibilidade para PCDs, como explica o sócio fundador e programador, Eduardo de Azevedo, de 25 anos.

“Na Tavern a gente sempre quis fazer com que os jogos sejam divertidos para todo mundo, então a gente leva muito a sério, desde o design, alto contraste (para pessoas com baixa visão), ajuste de controles, até o feedback sonoro. Os jogos são feitos pensando em uma amiga nossa, a Kessia, então eles são feitos para que ela consiga jogar com a gente, afinal a base de todo jogo é ser divertido, e o que é melhor do que jogar com as pessoas que a gente gosta?”, ele comenta.

Mapinguari

No novo jogo da empresa, Mace: Mapinguari’s Temple. A Tavern Tale Studios decidiu colocar vários jogadores para experienciar terror nas mãos do mapinguari, enquanto você e seu grupo tentam sobreviver e trabalhar juntos para derrotar o labirinto do monstro.

“O Mace é um jogo que testa esse viés nessa temática de cultura brasileira do monstro, que é o mapinguari como a entidade que você enfrenta no jogo. A gente gosta da nossa cultura e quer mostrar o que a gente tem aqui pro resto do mundo”, finaliza Eduardo.

Colosso empresarial

O mercado de jogos eletrônicos no mundo tem se destacado como uma das áreas pouco afetadas pela pandemia. Somente em 2021, segundo a Newzoo – empresa holandesa de pesquisa na área dos jogos eletrônicos -, foi movimentado um total de US$ 175 bilhões, atraindo cada vez mais público e empresas. Porém, nem sempre é fácil viver desse meio, como demonstram as empresas independentes de jogos digitais.

Essas empresas, normalmente, não são como a Ubisoft, Electronic Arts (EA) e Square Enix, com recursos a perder de vista, trazendo uma grande quantidade de dinheiro para auxiliar no desenvolvimento do jogo. Mas esses pequenos empreendimentos têm jogos de alta qualidade. Muitos jogos chamados de indies ficaram famosos pela sua qualidade, arte e, principalmente, por proporcionar uma experiência única para seus jogadores, como Hollow Knight, Undertale, Hades, Among Us, Knights of Pen and Paper e muitos outros.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado