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Brasília

Dia da enfermagem: quando o cuidar faz toda a diferença

Neste 12 de maio é celebrado o Dia Internacional da Enfermagem. O cuidado com todos os pacientes é o que motiva os profissionais

Vítor Mendonça

12/05/2023 5h00

“Enfermagem, para mim, posso resumir em uma única palavra: cuidar”. Assim descreveu Renata Scalia Passos, de 39 anos, a profissão da enfermagem, da qual faz parte há 15 anos. Funcionária do Hospital Universitário de Brasília (HUB), ela atua no setor da Unidade de Clínica Cirúrgica, que dispõe de dois andares em um dos prédios do hospital, com salas de atendimento a pacientes para cuidados pré e pós-operatórios, sendo cerca de 35 leitos no total.

“Acho que é um cuidar que faz uma diferença muito grande na vida do paciente, porque no momento em que ele está aqui no hospital, ele está passando por um período muito difícil. É um cuidar tanto com procedimentos técnicos, de um curativo, de uma avaliação clínica, um exame clínico, mas também de um cuidar de uma palavra, um gesto, um olhar de carinho, de uma empatia”, afirmou Renata.

Neste dia 12 de maio, é celebrado o Dia Internacional da Enfermagem e do profissional da Enfermagem. Trata-se de uma homenagem à italiana Florence Nightingale, considerada a fundadora da enfermagem moderna mundial, que nasceu nesta data em 1820. Ela ficou conhecida pelos trabalhos de socorro e pesquisa durante a Guerra da Crimeia, ajudando a diminuir a mortalidade por tifo e cólera durante o conflito. Florence era chamada de “a dama com a lamparina”.

Atualmente, o HUB conta com 335 profissionais “com a lamparina”, e ainda 188 auxiliares de enfermagem e 604 técnicos em enfermagem, além dos muitos residentes e estudantes da Universidade de Brasília (UnB) que auxiliam no atendimento dos pacientes nas diversas especialidades da profissão dentro da unidade hospitalar.

Dentro da Unidade de Clínica Cirúrgica, de acordo com uma das supervisoras do setor, Lílian Corrêa, são pelo menos 13 especialidades de cuidado e tratamento, como cirurgia geral, coloproctologia, urologia, neurocirurgia, entre outras. Cada enfermaria conta com dois ou três leitos, variando no atendimento de pacientes de baixa à alta complexidade.

Na unidade, os pacientes contam com alguns procedimentos até a cirurgia. O primeiro deles é a admissão, quando são verificados os sinais vitais para a assertividade na segurança do procedimento, como pressão arterial e temperatura. Depois, é feita uma rápida entrevista sobre a história pregressa do paciente quanto a outras cirurgias realizadas, alergias a medicamentos, e o problema específico que será tratado na cirurgia. Após a confirmação dos dados, são passadas as orientações quanto aos procedimentos pré-cirúrgicos de jejum e de higiene.

“A segurança do paciente é crucial para nós, então temos alguns itens que precisamos checar com precisão”, destacou a supervisora. Nesta etapa, até mesmo o nome e as informações de identidade dos pacientes são verificadas, a fim de evitar quaisquer tipos de erros ou imprecisões durante os procedimentos cirúrgicos. O Jornal de Brasília acompanhou as etapas do pré e do operatório dentro do HUB.

Conforme contou a enfermeira Renata, a principal rotina dos profissionais é esta primeira admissão dos pacientes pré-operatórios. “Nos apresentamos, tentamos passar um certo conforto para ele e a orientação dos cuidados pré-operatórios”, contou. “Levantamos a necessidade do momento, fazendo prescrição de enfermagem, acompanhando e orientando a equipe técnica e fazendo o acompanhamento desse paciente até o momento da alta hospitalar.”

Valorização

Diante das discussões políticas e orçamentárias quanto ao estabelecimento de um piso salarial para a enfermagem no país – com uma das viabilizações para destinação de recursos a ser publicada nesta sexta-feira (12) em Diário Oficial da União – Renata destaca que as dificuldades na profissão vão além da questão salarial, apesar desta não ser uma queixa dos funcionários da unidade.

Segundo ela, falta valorização, entre outros aspectos, de alguns colegas do setor da Saúde e de alguns usuários e pacientes, que muitas vezes não consideram a importância da ocupação. “Eu sinto que pela importância e a essencialidade da profissão, que está 24h ao lado do paciente – e que faz a ligação entre as multiespecialidades e profissões como nutrição, medicina, fisioterapia, terapia ocupacional e psicologia –, eu acho que ainda é um pouco desvalorizada”, disse.

“Infelizmente a gente vivencia isso. E aí que traz para nós uma certa frustração, mas que não impede de estarmos exercendo nossa profissão, nosso cuidado, com todo o carinho e competência possível”, ponderou. Para Renata, estas são algumas prioridades da enfermagem, independentemente do tratamento recebido de outros.

No HUB, o atendimento aos colaboradores serve de exemplo por fornecer atendimentos médicos, de enfermaria, assistência social e psicológica para os enfermeiros e demais funcionários em eventuais necessidades, além de uma sala de descanso para as equipes, que comumente fazem plantões exaustivos tanto física quanto mentalmente.

“Sou otimista e espero que tenhamos um pouco mais de reconhecimento, que as pessoas vejam a importância e a essência da enfermagem na recuperação do paciente como um todo. Mas ainda há muito o que avançar e melhorar”, comentou. “Esse pessoal que está chegando [estudantes] tem que vir com o gás de implementar rotinas, protocolos que vão melhorar a qualidade da assistência de enfermagem e valorizar o profissional como um todo.”

Ensino

Uma das responsabilidades do HUB é acolher estudantes de especialidades da saúde para que o aprendizado seja efetivo e preparatório para após a formação dos profissionais. Estudantes da UnB de enfermagem, medicina, fisioterapia e outras disciplinas são inseridos dentro do contexto hospitalar a fim de adquirir maior conhecimento das áreas de estudo.

Neste aspecto, Renata destaca que a oportunidade de ensinar e compartilhar o conhecimento para melhorar e ampliar o cuidado de pessoas vale o esforço e as dificuldades enfrentadas diariamente. “[O trabalho de educação] é extremamente importante. E pessoalmente é um fator que me motiva também estar trabalhando aqui no HUB. “Eu vejo como uma oportunidade de colocar uma visão holística [completa] nesses novos profissionais que estão sendo formados”, destacou.

Os estudantes de enfermagem acompanham os profissionais contratados em todos os procedimentos para que aprendam as técnicas e os procedimentos da carreira. Residentes de enfermagem também compõem as equipes, mas não precisam mais de supervisão. Entretanto, para Renata, o ensino aos acadêmicos perpassa também a aprendizagem prática de vivência empática com os pacientes.

“Além da questão técnica, também priorizo o cuidado de ter uma visão holística do paciente, humana, com empatia na fala, no cuidado. Para mostrar que não é só o procedimento em si que é importante, mas é a presença e o cuidado completo do paciente. Acho que contribuo um pouquinho para essa formação humana do profissional, que para mim é o essencial, o que realmente faz a diferença na recuperação desse paciente também”, afirmou.

Nestas vivências diárias, o contato com os pacientes ajuda a formar o profissional completo, de acordo com ela. É uma preparação também para situações de frustração e fatalidades que são comuns dentro da profissão, apesar de pesarosas. Como desafio, Renata destaca a possível dupla jornada com outros vínculos, o cansaço, o estresse e a pressão de estar dentro de um ambiente com o risco de contaminação de muitas doenças.

Apesar disso, ela salienta a importância do zelo tanto físico quanto emocional do paciente. “A gente tem que tentar ser leve dentro de um ambiente difícil para passar essa tranquilidade, esse conforto e essa segurança para o paciente”, alegou.

“Às vezes é muito frustrante quando vemos que, apesar de todo o empenho da equipe multiprofissional, de tudo que podíamos fazer pelo paciente, infelizmente não foi efetivo e no final o paciente vai a óbito. Aí precisamos contar muito com o apoio da equipe, porque é uma coisa que faz parte da nossa profissão e a gente tem essa vivência, não tem como evitar”, finalizou.

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