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DF teve três casos de ameaça de massacre em escolas na última semana; Especialistas alertam e apontam ações de combate a violência escolar

Na última semana, um adolescente foi preso por planejar massacre em Santa Maria e fatos semelhantes aconteceram na Candanga e no Riacho Fundo

Redação Jornal de Brasília

29/03/2023 5h51

Por: Marcos Nailton
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Casos de violência e ameaças no ambiente escolar vem levantando uma série de questionamentos sobre a segurança nas escolas do Distrito Federal. Na última semana, a capital federal registrou pelo menos três ocorrências de ameaças de massacres. A mais recente ocorreu no último domingo (26), onde um aluno do 2º ano do ensino médio do Centro Educacional (CED) 1 do Riacho Fundo II chegou a enviar uma foto de arma no grupo do Whatsapp ameaçando colegas.

“Vou aparecer com o oitão, segunda-feira. Já é melhor todo mundo faltar”, escreveu. Nas mensagens, o estudante afirma que iria matar os outros alunos. “Vou fazer é o massacre nessa sala”. Os colegas, não acreditando em uma possível tragédia, zombam das mensagens. “Vai dar tiro de feijão”, disse um dos alunos.

De acordo com a Secretaria de Estado de Educação do DF (SEEDF), o caso começou a ser investigado ainda no domingo. Na manhã da segunda-feira (27), o estudante chegou à escola acompanhado da mãe e acabou sendo levado para a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), que apura os fatos. “Imediatamente pedimos apoio ao Batalhão Escolar e ao batalhão de policiamento da cidade”, informou a pasta.

Outros dois casos

No último dia 20, segunda-feira, um jovem de 14 anos foi detido suspeito de planejar assassinatos no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 209, em Santa Maria. O garoto foi apreendido na unidade de ensino com um revólver. Em uma mensagem enviada por ele, ele alega que a ideia era assassinar pelo menos 34 estudantes.

O jovem já estava anunciando seus planos uma semana antes de ser preso em um perfil nas redes sociais. Segundo a Polícia Militar do DF (PMDF), o adolescente já estava sendo monitorado pela corporação. No episódio, a Polícia Civil do DF (PCDF) informou que o episódio não passou de “puro exibicionismo” e descartou a hipótese de assassinatos.

Já na última terça-feira (21), um dia depois, estudantes acharam uma ameaça de um suposto massacre dentro de um banheiro do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 1 da Candangolândia. A mensagem deixada informava “Massacre 24/3”, informando a data da possível chacina. Segundo a PCDF, o caso é investigado pela DCA 1 e segue sob sigilo de informações.

Motivações

Para a psicóloga, Lúcia Helena, há diversos fatores que podem influenciar os jovens a cometer esses crimes dentro do ambiente escolar, entre eles, a exclusão, desigualdade social, extremismos, ódio às minorias, acesso às armas e falta de políticas públicas adequadas. Ela ainda destaca que na questão de saúde mental de jovens, os meninos são mais vulneráveis do que as meninas.

“Os meninos são mais pressionados pela vida e as consequências em ter que assumir a masculinidade que requer não parecer vulnerável de maneira alguma, além disso, precisam provar isso, o que gera muita tensão e fantasia na cabeça deles. O discurso de ódio e incitação a violência vem pelas redes sociais, o ambiente digital só ganha espaço porque há um vazio na vida desses jovens e a ilusão de comunidade ajuda a superar sentimentos negados no dia a dia como rejeição e fragilidade”, salientou.

De acordo com a especialista, a gestão escolar deve agir com ações de prevenção realizadas com os estudantes, para que o ambiente escolar seja um espaço de acolhimento, ao invés de ódio. Lúcia ressalta que já existem formas de assistência nas escolas garantidas por legislação, entretanto, não são todas as instituições que contam com esses profissionais.

“Projetos culturais e de esporte podem ajudar a firmar as estruturas psicológicas dos jovens em formação, podendo fomentar uma cultura de paz e barrar a violência. Não é falta de assistência, existe uma legislação que prevê equipe multidisciplinar nas escolas, porém o número não é suficiente para cobrir todas as escolas públicas. Falta investimento do governo para efetivação desses profissionais dentro das escolas”, contou.

A pedagoga e psicopedagoga, Mileidy Ferreira, disse que para frear os casos de ameaça e massacre nas escolas, é preciso um trabalho desenvolvido por uma equipe de profissionais, já que a precarização da saúde mental no país afeta a efetivação de ações que freiem essas possíveis tragédias.

“Além de educadores, as escolas precisam de um psicólogo educacional, profissionais da saúde e políticas públicas para ter capacidade de articular a repressão e prevenção ao crime, tendo que trabalhar com a participação e envolvimento de todos os membros desse cenário escolar, dentro e fora das escolas.”, enfatizou.

Mileidy conta que um dos fatores que pode gerar violência nas escolas tem haver com a pandemia de Covid-19 e o isolamento social, já que fez com que os alunos ficassem mais egocêntricos através da falta de convivência em espaços fora do ambiente domiciliar. “Agora, estão sempre querendo que suas necessidades individuais se sobressaiam às do grupo, e como ainda são emocionalmente imaturos, não lidam muito bem com frustrações que acontecem”.

SEE aposta em gerenciamento de estresse

Sobre a segurança dentro das escolas, o especialista em segurança pública, Leonardo Sant’Anna, destacou que medidas cautelares são essenciais para oferecer melhores condições de segurança a professores, funcionários, alunos e até aos pais e responsáveis de estudantes.

“Não ter as condições de segurança hoje tem trazido para a comunidade em geral o desconforto, demonstrando inclusive um catalisador de enfermidades psicológicas e que precisam de um tratamento muito maior do que seria se a escola fosse um ambiente adequado”, destacou.

Segundo Sant’Anna, é preciso que haja uma mudança de pensamento social acerca, por exemplo, de como as escolas devem passar a ser equipadas. Além disso, o preparo das forças de segurança são essenciais para a eficácia em ações de combate a violência nas escolas.

“Quando nós falamos da ameaça e possíveis tragédias, voltamos para as questões de informação, capacitação e treinamento, se não acontecer todas essas vertentes, evitar esse tipo de tragédia é complicado. Um caso como esse é evitado a partir do instante em que as pessoas compreendem que violência ela pode ingressar no ambiente escolar.”, frisou.

São Paulo

Nesta segunda-feira, uma tragédia de violência dentro de uma escola chocou o país. Um aluno de 13 anos invadiu uma escola em São Paulo, matando uma professora e ferindo outras quatro pessoas. O episódio se desenrolou após uma briga motivada por ações racistas do autor contra o colega.

Plano de Urgência pela Paz

O Jornal de Brasília entrou em contato com a Secretaria de Educação sobre quais medidas serão ou já estão sendo tomadas para evitar essa onda de ameaças no ambiente escolar.

Para combater ações de violência nas escolas, a Secretaria de Educação afirmou que implementou o Plano de Urgência pela Paz nas Escolas em março de 2022. O programa continua sendo implementado durante todo este ano letivo nas unidades escolares em que as regionais de ensino indicaram como prioritárias.

Entre as ações do Plano, estão inclusos a distribuição do caderno de convivência escolar e cultura de paz para todas as instituições, criação de um canal direto entre os coordenadores das regionais de ensino e a Polícia Militar, reforço do efetivo do Batalhão Escolar, continuidade da operação de revista nas portas das escolas e nas salas de aula.

Segundo a pasta, ações para a promoção da cultura de paz nas escolas continuam sendo feitas. “Uma equipe de psicólogos, profissionais especializados em mediação de conflitos e comunicação não violenta está em ação nas escolas, dando apoio a saúde emocional da comunidade escolar, tanto estudantes, como professores e servidores com acolhimento e seções de escuta solidária em um projeto de gerenciamento de estresse”, concluiu a pasta.

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