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Brasília

Desigualdade: de cada dez sem emprego no DF, sete são negros

Estudo mostra que pessoas pretas representam 65,2% da força de trabalho

Redação Jornal de Brasília

20/11/2020 5h48

Vítor Mendonça e Olavo David Neto
[email protected]

Neste Dia da Consciência Negra, dados de uma pesquisa mostram que a população preta do Distrito Federal ainda sofre com desigualdades. Apesar de compor maioria da força de trabalho do DF, sendo 65,2% dos trabalhadores, ao menos sete em cada dez dos desempregados da capital são negros – cerca 72,6% deles. É o que aponta recente recorte de estudo da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), de autoria da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan). O levantamento mostra dados relativos aos meses entre abril e setembro de 2020.

Os cargos de liderança, mais prestígio, estabilidade e rendimentos também têm pouca representatividade de pessoas pretas e pardas, conforme aponta o PED. Além disso, os rendimentos também são menores: enquanto a média financeira mensal de negros corresponde a R$ 3.229 para homens e R$ 2.646 para mulheres (cerca de R$ 18,40 e R$ 16 por hora, respectivamente), os não negros recebem, em média, R$ 5.871 para homens, e R$ 4.696 para mulheres (cerca de R$ 34 e R$ 29 por hora, respectivamente).

De acordo com o coordenador do curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário IESB, Riezo Almeida, em primeiro lugar, o contexto ainda é reflexo histórico, uma vez que a população negra teve cidadania garantida no Brasil com grande atraso em relação aos não negros. Por isso, passaram a realizar trabalhos de caráter mais escravistas e menos valorizados socialmente. Em segundo lugar, o cenário é caracterizado pela pandemia do novo coronavírus.

“Na crise, o emprego formal foi perdido e muitos passaram a fazer parte dos informais”, afirmou. Porém, o chamado custo de oportunidade – isto é, os recursos disponíveis para outras possibilidades – passou a ser mais caro para a população negra. “Se alguém tinha emprego em um restaurante e o perdeu, agora é mais elevado o custo para que consiga vender marmitas”, explicou. De acordo com a pesquisa, os negros possuem menor estabildade financeira, uma vez que compõem 50,3% dos homens e 48,1% das mulheres nesse setor privado e menos de 20% no público.

“Realmente o desemprego na crise foi voltado principalmente para o comércio e para a construção civil, onde os negros estão. A saída imediata a curto prazo é, portanto, o empreendedorismo, ou economia criativa”, comentou o professor, que nota uma tendência maior de negros criando nichos de mercado, a fim de garantir melhor renda familiar. “Cada vez mais para sair da crise o empreendedorismo precisa se destacar. Assim, há oferta de serviços”, completou.

Racismo estrutural

Também de acordo com o estudioso e professor de filosofia e sociologia Edivaldo Monte dos Santos, que experiencia a docência nas redes de ensino pública e privada do DF, o cenário é consequência de um processo histórico de exclusão e separação da estrutura social. Nascido e criado por pais negros em Ceilândia, uma das regiões periféricas do DF, ele entende que a discussão sobre o lugar do preto precisa ser reforçada.

“Ainda há um racismo estrutural em que a pessoa exclui [os negros] inconscientemente. Os dados revelam um caminho que ainda temos que percorrer para garantir uma igualdade de acessos. No DF, essa ferida ainda não fui muito discutida, mas agora com o trabalho que tem sido feito por movimentos sociais e outras entidades, ganhou visibilidade”, afirmou o professor. Segundo pesquisa de Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios de 2018 (PDAD), a população negra na capital é a maior, compondo 57,6% dos cidadãos.

Reforçando a importância do debate, ele afirma que no edifício onde mora, usando terno e gravata dentro de elevadores, já foi confundido com motoristas e seguranças. Mas esta não foi o único enfrentamento pela cor da pele. “Já fui acusado de roubo enquanto trabalhava em uma empresa em Brasília. Depois que consegui provar minha inocência, ficou claro, por essa e outras perseguições, que era tudo por conta da minha cor”, relatou.

Saiba Mais

Apesar de ser maioria da população, cerca de 63,9% dos negros estão presentes em regiões mais pobres no DF, com renda média, em cada casa, de até R$ 3.101 por mês.

Como professor e testemunha das diferentes realidades das redes de ensino pública e privada do DF, Edivaldo entende que as desigualdades entre negros e não negros tendem a se tornar ainda mais díspares, com ensino de menor qualidade nas periferias.

Considerando resultados segundo raça/cor e sexo, foi observado, segundo a companhia, que as mulheres negras foram as mais afetadas pelo desemprego durante o período de pesquisa.

“Apesar de serem o segundo maior grupo da População Economicamente Ativa [PEA] – correspondente a 30,9% -, as mulheres negras representavam a maior parcela dos desempregados, com taxa em 39,3%. […] Entre os desempregados, 33,3% eram homens negros, 15,4% mulheres não negras e 12% homens não negros”, afirmou a Codeplan.

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