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Brasília

Consumo de drogas por jovens no DF é o maior em todo o país

Pesquisa feita pelo IBGE coloca a capital oito pontos percentuais acima da média nacional

Mayra Dias

14/09/2021 6h36

Distúrbios de desenvolvimento, maiores chances de problemas cardíacos, pressão alta, problemas de sono e alguns tipos específicos de câncer. Estes são, conforme aponta Daniel Amaro, especialista em genética, bioquímica e imunologia, alguns dos efeitos que o centro de controle de doenças dos Estados Unidos considera os principais do uso de drogas. Mesmo assim, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra o DF como a unidade da federação com maior número de adolescentes que já usaram drogas ilícitas.

De acordo com o levantamento, um a cada cinco jovens brasilienses de 13 a 17 anos tiveram contato com entorpecentes, representando 21% dessa população. Essa taxa, comparada com a média nacional, que é 13%, está bem à frente das outras regiões. Daniel destaca que, tal consumo tem um forte componente comportamental, e a necessidade de auto validação em grupos sociais. “Isso se dá de forma crítica na adolescência, e pode ser uma importante fonte de apresentação e uso para diversas drogas”, ressalta o professor de CEUB. Realizada com dados de 2019, a pesquisa avaliou estudantes entre o 7º ano do ensino fundamental e o 3º ano do ensino médio, em escolas públicas e privadas de todo o país.

Na avaliação de Mayarê Baldini, psicóloga e psicanalista de adolescentes e adultos, o adolescente é protagonista de um processo que envolve vários personagens: familiares, amigos, professores, profissionais de saúde, de segurança pública e referências comunitárias, e todos esses pontos devem ser levados em consideração ao analisarmos a PeNSE. Questionamentos quanto à situação de vulnerabilidade social, rede de apoio familiar e escolar, aparatos de saúde disponíveis, assim como a oferta de espaços de lazer, esportes e mobilidade, devem ser feitos nesse momento. “Fatores socioculturais e socioeconômicos podem se entrelaçar como fatores de proteção em prevenção a uma relação adoecida com as drogas. Da mesma maneira, a fragmentação e a precarização das redes que amparam o adolescente são entendidas como fatores de risco, favorecedores de uma relação mais grave com o uso de drogas”, defende a profissional.

Andrea Gallassi, professora e coordenadora do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas da Universidade de Brasília (UnB), afirma que, repertórios empobrecidos de atividades impossibilita a construção, por parte do adolescente, dos chamados “fatores de proteção”. “São estes que dificultam que aquele jovem tenha acesso ao uso de álcool e outras drogas. Famílias saudáveis e presentes, projetos pedagógicos que trabalham o protagonismo juvenil, são alguns desses fatores”, traduz a professora. “O adolescente precisa exercer todo o seu desenvolvimento em espaços saudáveis. Ele precisa ser estimulado a estar nesses locais”, continua.

Do montante, três em cada quatro estudantes entrevistados estudavam em escolas públicas sendo, as meninas, a maioria (51,8%). Se tratando da cor ou raça, o estudo revelou que a maior parte se declarou parda (46,4%), e em seguida, vieram brancos (31,8%), pretos (13,4%), amarelos (4,6%) e indígenas (3,6%). Os 0,2% restantes não responderam. Brasília lidera também o número de adolescentes que já usaram cigarro eletrônico (30,8%).

Números e efeitos que assustam

Se tratando do cigarro, 27,3% dos estudantes já haviam provado, sendo o narguilé, o com maior índice de usuários, com 50,6% das respostas afirmativas.

O especialista em genética pontua que, devido aos efeitos imediatos das substâncias nessa faixa etária se darem de forma menos potente que nos adultos, a tendência é que o consumo dos jovens seja bem maior que nos grupos de pessoas mais velhas. Daniel salienta que alguns estudos relevantes da literatura médica apontam que o corpo dos adolescentes provavelmente reage de forma diferente às diferentes substâncias ilícitas. “Dentre estas, podemos destacar a diferença de balanço entre recompensa e efeito aversivo da droga, de acordo com a idade. Um bom exemplo desse efeito é a diferença da ressaca após abuso de álcool. Assim, sem o efeito aversivo, os adolescentes tendem a consumir quantidades maiores, que podem trazer efeitos mais graves à saúde”.

No site da Polícia Civil do DF, é possível encontrar uma cartilha que ajuda pais e responsáveis a identificarem os sinais de uso de drogas, assim como os assessora a lidarem com filhos usuários de entorpecentes. Entre os indícios trazidos no material, estão irritabilidade, agressividade, falta de motivação para os estudos, troca do dia pela noite, Insônia, indisposição para atividades de lazer, vermelhidão nos olhos e, em casos mais severos como de dependência, desaparecimento de objetos ou dinheiro dentro de casa.

Como expõe Andrea Gallassi, para se reduzir esses números é necessário agir em uma perspectiva de atraso da experimentação do álcool e de outras substâncias ilícitas. “Quanto mais cedo o adolescente prova o entorpecente, maior é o risco dele desenvolver um problema futuro. Esse indivíduo está em desenvolvimento neurológico, um jovem de 13 anos fazendo uso de álcool, por exemplo, trata-se de um cérebro em formação recebendo interferências de uma substância psicoativa, tóxica”, avalia a profissional. Portanto, a abordagem deve passar, obrigatoriamente, pela esfera da educação.

Saiba Mais

  • Dos avaliados, 67,4% dos estudantes disseram já ter consumido álcool. O índice, novamente, foi maior entre as meninas e alunos da rede pública, correspondendo a 69,2% e 69,7%, respectivamente.
  • Na rede privada, 60,4% dos participantes disseram ter tido contato com o tipo de produto.
  • Dentre os alunos que apresentaram resposta afirmativa, 38,6% disseram ter tido seu primeiro contato com bebida antes dos 14 anos, e 52,3% informaram que já ficaram embriagados. Esse contato se deu, de acordo com as respostas mais frequentes dadas por eles, foi adquirindo a mercadoria em comércios (31,1%), em festas (23,2%) e com os amigos (19,9%).
  • Outro fator analisado foi a respeito do consumo de bebidas alcoólicas pelos pais e responsáveis desses adolescentes. 62,7% dos alunos disseram que os pais consomem álcool e, desta vez, a frequência foi maior entre os que estudam na rede privada (72,7%).

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