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Brasília

Comida simples e para todos

Popular ao redor do mundo, o veganismo explode como resposta às sombrias previsões para o nosso planeta — e em respeito aos animais e à nossa própria saúde

Marcus Eduardo Pereira

04/10/2019 5h49

Grace Perpetuo e Larissa Galli
[email protected]

Não adianta mais negar: reduzir o consumo de carne e produtos de origem animal traz benefícios ao planeta e à saúde. A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) — em agosto —, por exemplo, que a expansão do setor pecuário ameaça a proteção da biodiversidade, o acesso sustentável à água e o cumprimento dos objetivos do Acordo de Paris, que busca frear o aumento da temperatura do planeta.

De acordo com o relatório, “gases emissores do efeito estufa associados à produção de alimentos emitem entre 21% e 37% do total de emissões causadas pela atividade humana”. O documento traz ainda uma estimativa sombria: “mais de 70% das áreas continentais da Terra já foram alteradas pela atividade humana”.

Mas como o cidadão comum pode reagir a um diagnóstico tão contundente? Não há um único caminho, mas uma série de pequenas iniciativas ligadas aos nossos hábitos de consumo que, somadas, podem de fato levar a um novo status quo.

Uma delas surgiu antes mesmo da popularização de seu nome: o veganismo. Fundada no Reino Unido em 1944, a The Vegan Society define veganismo como “uma forma de vida que procura excluir, na medida do possível e do praticável, todas as formas de exploração animal, seja na alimentação, vestuário ou qualquer outro meio”.

Hoje, 75 anos depois, o veganismo explode ao redor do mundo em resposta a diversos anseios da vida contemporânea, e como fruto de um crescente discernimento que vem levando a população mundial a repensar o consumo de produtos de origem animal.

Os números falam por si só. De acordo com a revista Forbes de março do ano passado, 70% das pessoas do mundo abandonaram ou diminuíram o consumo de carne; só nos EUA, o número de pessoas que se declaram veganas subiu 600% entre 2014 e 2017. Em 2018, uma pesquisa do Ibope apontou que cerca de 14% dos brasileiros se declaram ao menos vegetarianos. Isso representa aproximadamente 29,2 milhões de vegetarianos no Brasil.

Arroz com feijão

Há quem diga, porém, que o veganismo é um estilo de vida utópico, limitante, acessível apenas às elites. De fato: parte do movimento está desalinhada com a condição social de grande parte da população. (Alguns produtos veganos à venda nos supermercados, por exemplo, custam caro e, oportunitas, alimentam a indústria exploradora que o veganismo busca combater.)

Na contramão desse pensamento, os gêmeos Eduardo e Leonardo dos Santos, 23, nascidos e criados na periferia de Campinas (SP), mostram em uma conta do instagram — o @veganoperiferico — que o discernimento não precisa custar caro, e que o veganismo é para todos e todas. Mais de 252 mil pessoas acompanham a página. “Acreditamos em uma causa acessível para todos. Não importa onde você mora, importa como você pensa”, diz a descrição do perfil.

Diariamente, a cada publicação na rede social, os gêmeos provam o quanto é possível ser vegano e pobre. Afinal, basta lembrar que um dos pratos mais simples e populares do Brasil é vegano: arroz com feijão, farinha e couve. “Em sua essência, o veganismo não é elitista, mas está assim: virou um nicho de mercado. Mas as pessoas não têm culpa; nosso inimigo é a indústria.”

“Foi por causa dos porcos”, diz Eduardo

O que move os gêmeos é a compaixão pelos animais. Foi a partir da barbárie do acidente com um caminhão de porcos na Rodoanel, em São Paulo, que Eduardo passou a repensar o consumo de carne. “Foi muito triste ver o que aconteceu com aqueles animais. Por que eu tratava os cachorros com carinho e aceitava isso para os porcos? Isso virou um questionamento constante na minha mente”, declarou.

Leonardo contou que era mais resistente ao veganismo por considerá-lo elitista. “Eu tinha uma visão limitada de veganismo burguês, mas busquei informação para fazer a minha escolha. O problema na periferia é que não existe muito acesso à informação. Por isso sempre afirmamos que é mais necessário trazer educação do que criar novos produtos veganos. É possível veganizar sem industrializados.” Eduardo complementa: “depois da informação, é impossível seguir compactuando com o holocausto animal”.

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