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Brasília

Comércio pela W2 cresce e comerciantes escolhem fechar acesso pela W3

Uma das razões pela escolha é a falta de segurança. Conforme relato à reportagem, policiamento é escasso na região.

Redação Jornal de Brasília

14/06/2023 6h34

Vitor Mendonça
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Mudando a tradição da via comercial da W3 Sul, algumas lojas na região alteraram as entradas dos estabelecimentos, permitindo o acesso apenas pela via W2. A escolha mexe no padrão que existe desde os primeiros anos da avenida, contemporânea a Brasília, mas não representa violação ou ofensa à memória do projeto original de Lúcio Costa.

Uma das lojas que escolheu o modelo de acesso apenas pela W2 foi a Peça Rara Brechó Casa, na quadra 506 da Asa Sul. Pela via W3 é possível ver o interior do estabelecimento por meio de um vidro, mas uma porta de aço fecha a passagem que permitiria o fluxo de pessoas pela calçada da avenida em questão. A loja abriu em 2017 e desde o princípio manteve os mesmos moldes atuais.

De acordo com o proprietário do estabelecimento, Gustavo Vasconi, de 40 anos, a escolha foi feita por duas razões principais, sendo a primeira relacionada ao visual da época da W3, em condições precárias e com aspecto abandonado, e a segunda pela sensação de insegurança pelo acesso da avenida principal, que permanece até hoje, segundo ele.

“A W3 na época não estava boa. A calçada estava ruim e o fluxo de pessoas era muito baixo”, afirmou. “O comércio é mais ativo na W2 tanto de colaboradores quanto de clientes”, acrescentou. Segundo o empresário, o único momento em que a passagem ficou aberta foi aos domingos em que a via estava liberada apenas para pedestres, durante a pandemia. “Foi bom, recebemos alguns clientes, mas não abrimos definitivamente”, continuou.

Apesar do aspecto visual da calçada da avenida principal melhorar nos últimos anos, Gustavo destacou que a sensação de insegurança ainda é constante. Como a loja fica aberta até as 19h, manter a entrada da W3 aberta, segundo ele, oferece certo risco de assalto ou furto tanto para clientes quanto para o estabelecimento em si, em razão das luzes da rua não serem tão fortes e não haver movimentação de pedestres no horário, segundo ele.

“Já pintamos nosso prédio umas quatro vezes. A gente pinta, passam poucos dias e as pichações já aparecem de novo. Da última vez [neste ano], pintamos de preto e uma semana depois já tinham pichado novamente”, contou. “Para nós seria prático abrir a W3, mas só não fizemos por conta da segurança mesmo. […] Nunca tem policiamento. Só vi polícia e detran aqui nos domingos que fecharam a W3.”

Iolanda Oliveira, gerente da loja vizinha Casa e Festa, concorda que a falta de policiamento é um problema para os lojistas. “Tivemos de contratar um segurança e pagar as diárias para que ele ficasse nas entradas da loja”, destacou a comerciante, a fim de aumentar a seguridade do estabelecimento. “Quanto a isso, não contamos com a ajuda do governo para nada. Poderia passar de vez em quando uma ronda, mas isso não existe.”

No caso dela, a loja fica aberta em ambas as passagens, tanto da W3 quanto da W2. Segundo Iolanda, o maior fluxo de pessoas de fato vem da via voltada para os prédios residenciais, mas não é uma possibilidade fechar a entrada pela avenida principal, ainda que com os problemas que já apresentou ao longo dos anos, como falta de infraestrutura e insegurança.

“Nunca pensamos nessa possibilidade. Fazemos questão de abrir os dois lados por conta da visibilidade. Por mais que entrem menos pessoas, quem passa vê a loja aberta. Também é uma vantagem porque tem circulação de ar”, destacou. Na opinião dela, o fechamento da W3 contribui para que a avenida permaneça com a impressão de abandono, o que não é favorável para nenhum comércio ao longo das quadras, segundo a gerente.

Pode ou não pode?

De acordo com o pesquisador e professor de Arquitetura e Urbanismo na Universidade de Brasília (UnB), especialista em direito urbanístico, Frederico Flósculo, a situação não configura nenhuma afronta aos projetos originais para a W3 Sul, mas, pelo contrário, oferece uma boa saída para o comércio local. Conforme explicou, é natural que os comerciantes escolham uma das passagens ou escolham ambas.

“Não há, de modo algum, nenhum tipo de restrição. No projeto original de Brasília, de Lúcio Costa, toda a faixa das 500 era destinada a um comércio varejista amplo – e hoje há uma variedade imensa de ramos de atividade, que não exclui instituições de cultura e bancárias”, destacou o especialista.

Para ele, a remodelação dos estacionamentos na via W2 tornou muito mais fácil o acesso dos clientes e consumidores para acessar os comércios que desejam ir. “É uma coisa boa que o governo fez, que estava previsto no projeto de revitalização, de 2002. A previsão era ter áreas assim mesmo”, afirmou ainda.

Conforme explicou, uma maneira de melhor aproveitar a passagem pela W3 seria a criação de um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) ao longo da calçada principal da avenida. “Não há ofensa [para o projeto original], de modo algum. A W3 é uma via de trânsito intenso e parar nela para ir ao comércio não é a melhor opção. A W2 fica excelente para o comércio [nesse sentido]”, finalizou.

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