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Com inflação, moradores de Águas Lindas decidem entre arroz ou verduras

Maria da Conceição Leite, 59 anos, precisa decidir se compra verduras para uma salada ou mais um pacote de arroz para complementar a alimentação da família

Redação Jornal de Brasília

01/06/2022 11h37

Foto: Divulgação

Por Ana Paula Marques Agência de Notícias CEUB/ Jornal de Brasília

Maria da Conceição Leite, 59 anos, precisa decidir se compra verduras para uma salada ou mais um pacote de arroz para complementar a alimentação da família. Moradora do município de Águas Lindas de Goiás e atualmente desempregada, a chefe de família tem que escolher muito bem aquilo que vai levar para a dispensa de casa. 

Mãe de três filhos e viúva há 13 anos, Maria se viu desempregada esse ano por conta de um acidente. Agora os filhos produzem a renda da casa e mesmo assim o básico continua faltando na mesa. Ela relata que desde o ano passado, não consegue mais ter salada, arroz e carne no mesmo prato. O preço dos alimentos ficaram salgados para seu bolso. 

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– Sempre tenho que pegar um ou outro. Dou preferência para o arroz e feijão que dão mais sustância, as vezes nem a “mistura” tenho para completar o almoço, muito menos uma salada. Tudo está bem mais caro agora …Quem tem condições de pagar 30 reais em um quilo de carne?

Aumento de preços

Com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Distrito Federal, divulgado IBGE, em 0,48 ponto percentual acima do que foi registrado em fevereiro,  0,93%, os consumidores tiveram que diminuir os itens da lista de compras. A inflação teve alta de 1,41% em março, segundo dados divulgados em abril deste ano, isso explica a alta dos preços nos alimentos. 

Como Maria reclama, o “sacolão” ficou mais caro. A cenoura, o pimentão e o tomate aparecem no topo da lista dos alimentos que mais tiveram aumento de preço no último dado divulgado. Juntamente com as frutas que subiram em torno de 8,02%.

Dispensa Maria da Conceição Leite no final do mês          (Foto: Ana Paula Marques)

A dona de casa ainda não conseguiu seu aposento e por isso sua maior preocupação é em fazer o dinheiro render, tanto para a alimentação quanto para os outros gastos da casa. 

– Eu fico procurando promoções nos mercados e o que tá mais barato eu compro. Há muito tempo que não sei mais o gosto da melancia e vez ou outra encontro promoção de tomate. Mas ultimamente só tá dando para comprar alface e olhe lá. 

Causas do aumento

Segundo o economista, Matheus Peçanha, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), desde de 2020, o Brasil vem sofrendo com o aumento pesado da inflação, principalmente no setor de alimentos.

– Com a Pandemia, que gerou a alta do dólar e o aumento de exportações, sobrou menos matéria do setor agro para o Brasil e isso por si só já faz encarecer os produtos do setor alimentício, por conta da demanda e procura. Mas o principal fator de inflação dos alimentos desde 2020 foram as questões climáticas, a seca e agora as grandes chuvas que castigam os plantios de grãos e que afetam toda a cadeia produtiva do agro Brasileiro. Essa inflação muito concentrada em alimentos faz com que as famílias busquem somente o básico no mercado

O que, segundo o economista, interfere no poder de compra dos consumidores. Sendo o crescimento acelerado e contínuo dos preços em geral, a inflação afeta ainda mais quem depende do salário de trabalho para se alimentar.

– Em geral a renda dos trabalhadores assalariados não são reajustados na mesma frequência em que os reajustes de preços são, isso acaba fazendo com que seu poder de compra seja menor, principalmente porque esses trabalhadores já priorizam os gastos básicos. Com a inflação em alta as vezes até para o básico acaba faltando, por isso então a inflação sempre penaliza as classes mais baixas da população  

Sem verduras na mesa 

Já a auxiliar de cozinha, Maria Francisca da Silva, 57, compra toda a comida que entra dentro de casa. Seus dois filhos fazem faculdade e o dinheiro que ganham trabalhando só dá para o custeio da mensalidade e das passagens para conseguir o diploma de ensino superior.  Francisca que também mora em Águas Lindas, relata que com 100 reais não consegue mais nem fazer um almoço para a família toda. 

– Se vou ao mercado hoje, eu volto só com o básico mesmo. Isso é decepcionante porque vez ou outra quero fazer algo diferente mas não ta dando nem para uma macarronada. 

Fruteira vazia. Com a alta dos preços donas de casa só conseguem comprar o básico             (Foto: Ana Paula Marques)

Perguntada sobre o aumento das verduras, Francisca diz preferir trocar elas pelo alimento mais “pesado”.

– Só compro quando vejo que está bem barato mesmo, mas em geral eu só pego mais um pacote de feijão que é o que enche o estômago e dá força pra ir trabalhar. Vou no mercado já preparada para o susto, tenho sorte se consigo comprar uma dúzia de ovos para fazer a “mistura” coisa que antes era básica. 

Para Matheus Peçanha a perspectiva é que a inflação feche o ano na casa de 7,30%, mais baixo que ano passado , porém as previsões do início do de 2022 eram de um aumento de somente 3%.

–  Temos sempre que lembrar que inflação é aumento de preço, ou seja, ano passado aumentou na casa dos 10% e esse ano temos a previsão de aumento de 7%. Isso pode salgar ainda mais o preço dos produtos para os consumidores.

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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