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Brasília

Com gasolina cara, transporte público é opção para compensar gastos com carro

Postos de combustível até reduzem preços para atrair clientela, mas consumidores diminuíram no Distrito Federal

Vítor Mendonça

14/06/2022 19h10

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

“Se não fosse a gasolina tão cara, eu com certeza já teria comprado um carro”, destacou Heitor Valente, de 22 anos, que todos os dias gasta pouco mais de uma hora no trajeto de ônibus de casa, no Guará, para o trabalho, na Cidade do Automóvel. Ele é um dos brasilienses que utiliza o transporte público do Distrito Federal como alternativa aos altos preços da gasolina atualmente. Com um carro, Heitor poderia chegar ao local de trabalho em cerca de 20 minutos.

Com planos de adquirir o carro próprio, o Social Media até economizou durante alguns meses para investir na compra do automóvel. Ao avaliar e acompanhar o preço da gasolina aumentando cada vez mais, chegando a quase R$ 8,00 por litro, porém, ponderou que a aquisição não compensaria e se tornaria um gasto insustentável ao longo dos meses, principalmente ao acrescentar outras despesas do veículo próprio.

“Meu maior medo era comprar um carro e não ter dinheiro para abastecer”, afirmou. A vantagem com o ônibus, segundo Heitor, é não precisar pagar a passagem, por ser estudante de Publicidade e Propaganda. Por outro lado, o tempo gasto no trajeto de 13 km entre a casa e o trabalho, poderia ser melhor aproveitado com um carro, uma vez que seria feito em menos da metade da duração atual. Há dias, quando o ônibus atrasa, que o percurso é realizado em quase duas horas.

Como comprar uma moto não é uma opção para Heitor, o estresse tido com o transporte público vale mais a pena financeiramente, conforme contou à reportagem. “Eu preferia o conforto do carro, mas por conta dos preços, não dá”, relatou. Se o preço do combustível ainda estivesse em torno de R$ 3,00, ele já teria adquirido o carro próprio.

Estratégia para clientela

Os postos de combustível do Distrito Federal adotaram, nas últimas semanas, estratégias para atrair mais clientes para as bombas de abastecimento. Com os aumentos e reajustes do ano passado e deste ano, o consumidor passou a sair menos de casa e evitar o uso do carro para economizar o máximo possível com a gasolina. Para evitar dívidas, portanto, os comerciantes tomam a iniciativa de baixar o preço e chamar a atenção do público.

De acordo com Paulo Roberto Correa, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do DF (Sindicombustíveis-DF), essa é uma estratégia comum aos comerciantes de postos de combustível, que percebendo a clientela diminuir, precisa fazer com que o estoque que possui não fique parado, podendo gerar dívidas caso o preço de compra não seja abatido.

“Percebi que o volume de venda caiu entre 15% e 20% nos últimos meses. Não temos como prever o que cada posto faz, mas diante deste cenário, este é um movimento de mercado que tenho visto acontecer [mais frequentemente]”, afirmou. A queda dos preços também se trata da disputa de clientes, então, normalmente, quando um posto de combustível reduz os preços, outros que estão próximos costumam fazer o mesmo para não ficar em desvantagem.

A estratégia, porém, dura pouco tempo, normalmente apenas uma semana, de acordo com Paulo Roberto. “A intenção é conquistar a confiança dos clientes também, fazer com que fiquem fidelizados naquele posto. Atualmente, segundo alguns levantamentos, a maioria dos clientes, cerca de 60%, busca preços mais baixos. Outras avaliações como a qualidade do atendimento estão ficando em segundo plano”, destacou ainda o presidente da entidade sindical.

Risco de endividamento

Paulo explica que para muitos comerciantes, é mais vantajoso por vezes vender a gasolina no preço de compra do produto – a quase R$ 7,00 o litro – do que pagar os juros de atrasos em contas bancárias e outros compromissos financeiros com funcionários ou de manutenção. “Cada economia conta”, disse ele.

“São juros altíssimos que precisamos pagar caso haja algum atraso para pagar algum boleto, chegando a cerca de 4% ao mês. É muito caro, então é melhor não ganhar nada [vendendo a preço de custo] e pagar as contas em dia do que precisar pagar juros. Não dá para ficar com mais de R$ 100 mil estocado [sem girar o caixa da empresa]”, relatou. “A margem de lucro hoje está em torno de 10%”, acrescentou.

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