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Brasília

Cerrado: produção de mel cresce, mas expansão de monoculturas atrapalha produção

O diretor do Sindicato dos Apicultores do DF, Sérgio Farias, confirma que a cultura apicultora no DF ainda é fraca, principalmente por conta da monocultura

Agência UniCeub

05/06/2020 18h52

Por Júlia Morena 
Jornal de Brasília / Agência UniCEUB

A expansão dos latifúndios com  plantio da soja e milho, por exemplo, além da utilização desenfreada dos agrotóxicos têm sido inimigas de uma produção com grande potencial na área de cerrado do Distrito Federal, a apicultura. Mel e própolis estão entre os produtos naturais que não foram afetados por causa do interesse da sociedade pelos alimentos com uma série de benefícios.

O diretor do Sindicato dos Apicultores do DF, Sérgio Farias, confirma que a cultura apicultora no DF ainda é fraca, principalmente por conta da monocultura. ”Nos arredores há grandes quantidades de soja, milho. Então, os apicultores estão partindo para produção em outras localidades. Segundo ele, o grande impeditivo são os agrotóxicos usados nas lavouras, que matam as abelhas. ”Onde há grande produção de monocultura não pode existir apicultura”, esclarece o diretor. Apesar desse fato, a polinização das abelhas é capaz de aumentar em até 70% a produtividade de plantações e que polinizam 40% de plantas que dependem das abelhas, segundo o projeto Polinizadores do Brasil. 

O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, abrangendo 20% do território brasileiro por dez estados e o Distrito Federal. Hoje, metade está de pé. O Cerrado também é o segundo bioma mais degradado do país e mesmo tendo perdido 60% de sua cobertura original, especialmente por causa das grandes monoculturas, o bioma ainda é pouco monitorando.

A exemplo disso, está a recente divulgação do Ministério do Meio Ambiente (MMA) números sobre o desmatamento no Cerrado nos moldes com que faz a Amazônia há quase 30 anos por meio do ”Projeto de Monitoramento da Amazônia Legal por Satélite (Prodes). Nesses primeiros resultados, em 2015, último ano para o qual há informações dos dois biomas, enquanto a área desmatada na Amazônia foi de cerca de 6,2 mil quilômetros quadrados, no Cerrado o desmate foi de 9,4 mil quilômetros quadrados.

Cerrado, berço das águas 

Para esse bioma, tem sido difícil competir com a atenção dada ao desmatamento da Floresta Amazônica. Porém, o Cerrado é a savana mais rica do mundo: abriga 5% da biodiversidade do planeta, onde vivem 137 espécies animais as quais correm risco de extinção, segundo a organização International Union for Conservation of Nature and Natural Resources. O cerrado também é conhecido como ”Berço das Águas”, por seu papel essencial na distribuição de água do país, pois alimenta oito das 12 bacias hidrográficas brasileiras, incluindo os rios Amazonas e São Francisco.

Ele testemunha que agora há uma maior procura por produtos naturais e saudáveis. ”O que mudou foi que a demanda por todos os produtos da manutenção da saúde cresceram de maneira exponencial. Mesmo os apicultores mais antigos relataram que nunca viram isso acontecer”. 

Sérgio cultiva mais de 20 apiários, num total de 200 colmeias em locais distintos pelo Goiás, como Água Fria, Cabeceira de Goiás, Vila Boa e Santa Rosa. Ele conta que já teve apiários no DF, mas saiu pela alta contaminação de agrotóxico advindo das monoculturas. Segundo o apicultor, as abelhas operárias, responsáveis pela polinização contaminam-se ao entrar em contato com o agrotóxico utilizado em lavouras e acabam por contaminar toda a colmeia. ”É difícil no DF, quase não tem mais cerrado. Os apicultores estão migrando pro Goiás. Tem que ter natureza pra cultivar abelha. Fico ruim quando vejo o desmatamento que o pessoal faz. Só faz é destruir e destruir…”, lamenta o apicultor que teve de retirar seus apiários recentemente em uma propriedade em Água Fria, Goiás, que será desmatada e utilizada para monocultura.

Mel de ouro 

Sérgio Farias também é um apicultor entusiasmado com o ofício. ”O modo de organização, convivência, trabalho e resposta das abelhas me fascina. Você cuida delas e a resposta é que elas te dão mel. Você colhe o mel e parece ouro, vida. É o alimento mais perfeito que tem. É um alimento precioso”, conta Sérgio deslumbrado. 

Ele ressalta algo que poucos brasilienses sabem: o grande valor do mel brasiliense no panorama nacional. Apesar do DF não ser reconhecido por ter uma grande produção de mel, a região é considerada a que possui o melhor mel do país, segundo premiações do Congresso Brasileiro de Apicultura (CBA). O DF já esteve sete vezes entre os primeiros colocados. Segundo apicultores e especialistas, o clima seco da região contribui para qualidade da produção do alimento. 

”Estamos brigando para que a nossa produção do DF seja valorizada e o apicultor local prestigiado. Nosso mel (brasiliense) já foi premiado diversas vezes pelas condições climáticas e de flora. O mel do cerrado é maravilhoso e estamos lutando para que isso seja reconhecido e as pessoas saibam disso e priorizem a produção local”, afirma o diretor. 

Sérgio também afirma que criar abelha dá mais dinheiro do que boi. Pois, a produção de abelha é crescente e constante, já a de gado, pode ser vendida apenas uma vez. Além disso, não é necessária uma grande infraestrutura para a apicultura, fazendo desse ofício um verdadeiro pote de mel.

Por Júlia Morena  (Jornal de Brasília / Agência UniCEUB)

 

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