Depois do desabamento de uma casa na Colonia Agrícola Bernardo Sayão, Guará 2, a área foi isolada e mais três casas foram interditadas. Segundo a Secretaria de Obras, o solo onde está em andamento a construção de lagoa de detenção cedeu. Os engenheiros da pasta estão no local avaliando as causas do incidente. Não houve vítimas.
O síndico do condomínio Três Marias, André Carvalho, local onde aconteceu o desabamento, contou que todos os moradores estão sem desolados. Ele explicou que nesta última quinta-feira (5), o condomínio conseguiu um suporte diferenciado por parte da Secretaria de Obras, que segundo ele, nunca tinha se pronunciado até então.
“Hoje a gente conseguiu ter um pouco de segurança, vamos dizer assim, do que está acontecendo, uma vez que tudo que foi feito antes, era por empresas terceirizadas e que não nos recebia da maneira correta, e não passavam as informações da maneira correta”.
Ele destacou que a obra começou de uma forma bem positiva. “Eles chegaram aqui fazendo serviços topográficos e falaram que isso aqui era a terra da Terracap (Companhia Imobiliária de Brasília), que iam começar uma obra. E assim foi feito”. Os moradores tentaram entender o que estava acontecendo, mas nunca houve um diálogo entre as partes. “Nós sempre alertamos o pessoal sobre o terreno que vinha cedendo, mas infelizmente, eles não tomaram nenhuma medida de fato concreta. O que acarretou nesta situação. Uma casa caiu e a outra está pendurada e vai cair”, frisou.
De acordo com André, um vizinho de uma casa que começou a ceder, teve a ajuda dos outros moradores para retirar o carro dele da edificação. Mas ele tem dois gatos e no momento em que caiu a casa ao lado, um dos gatos se assustou e fugiu. Ele está desaparecido desde então. “Chegou a esse triste ponto em que estamos vendo. E aí, as casas aqui foram interditadas, e o pior é o que o secretário nos falou hoje, que vão remover esse sobrepeso que está aqui, que seria a terra e essas pedras, vão descarregar lá na bacia e fazer um travamento para juntar a terra para cá de novo, para ela parar de descer”, descreveu.
André levou a preocupação dos moradores para o Secretário de Obras. Todos querem uma garantia por parte e da Defesa Civil, de que eles estão acompanhando o que está sendo feito agora. Para ele, se o que for feito agora for algo mais paliativo, não adiantará, e as casas interditadas, serão as próximas.
O funcionário federal aposentado, José Luís Carvalho, 64 anos, é dono de uma casa no fim da rua, próxima às obras que estão sendo feitas no condomínio. Ele declarou que desde quando começaram a chegar os caminhões, pedras e terra, foi ficando impossível ficar na em casa devido ao barulho, os tremores no imóvel e ao devido ao fluxo de caminhão e tratores. “E simplesmente ficava todo mundo doente em casa, já que a poeira toma conta”.
Ele, a mulher e a filha, foram para a casa do pai de José, que também é no mesmo condomínio, porém fica mais afastada. “O problema é que a obra continua, sendo que tem que ser feita a contenção das casas que estão caindo”. Para José, foi falado que a pasta de obras estava fazendo um estudo de solo. “Que estudo de solo agora, depois que derrubou as casas, isso teria que ter sido feito antes de começar a obra”. Ele contou que não está dormindo direito, porque a qualquer barulho, já fica desesperado. “Isso aqui é efeito cascata, se cair, leva tudo”.
José se colocou no lugar de Clarisse Duarte, a moradora que perdeu a casa no desabamento de quarta-feira (4). “A menina pagou R$1,3 milhão na casa e os móveis dela, a vida dela, estão ali dentro. Isso não tem preço”. Clarisse foi almoçar no período de meio-dia e quando voltou, se deparou com os destroços de sua casa. “Ela só saiu com a roupa do corpo”, comentou ele.
A obra em Bernardo Sayão
Todos os estudos geotécnicos para identificar as peculiaridades do solo da região foram feitos, segundo informações da Secretaria de Obras. O projeto objetivava a implantação de infraestrutura na região do Bernardo Sayão e foi elaborado com base em todas as normativas técnicas. Além de ter sido aprovado por todos os órgãos envolvidos, incluindo a licença ambiental emitida pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e outorga emitida pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa).
De acordo com a Secretaria de Obras, as informações mais precisas só vão ser obtidas após a conclusão da perícia técnica, que está sendo feita pelos engenheiros geotécnicos da pasta.
Ainda segundo a pasta, a medida mais urgente a ser adotada, é a estabilização do solo para evitar novos desabamentos e garantir a segurança das demais residências. “Os projetistas estão, justamente, avaliando qual a melhor solução técnica para a execução do serviço”, informou a pasta em nota.
Ainda em nota, a pasta informou que por questões de segurança, a obra de construção da lagoa ficará paralisada e só deve retornar quando o solo da região apresentar estabilidade e segurança necessárias. “Lamentamos pelo ocorrido e comunicamos que o GDF e a empresa responsável pela obra estão prestando todo o suporte imediato para atender as famílias que precisaram ser retiradas de suas casas”.
Os danos materiais vão ser ressarcidos pela construtora, de acordo com a autarquia. Além disso, temporariamente, a empresa arcará com as despesas de aluguel para as famílias desalojadas até que a situação seja resolvida.
Interdição
De acordo com a Subsecretaria do Sistema de Defesa Civil (Sudec), o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF) havia acionado a pasta para vistoriar a residência na Colônia Agrícola Bernardo Sayão na última quarta-feira (4).
Durante a visita da equipe de plantão, houve colapso total da edificação. Ainda de acordo com informações da Defesa Civil, havia obra e atividade de maquinários em uma região bem próxima à residência. A área da obra foi isolada, e não foi permitida a movimentação do maquinário. Também foram lavrados quatro termos de interdição, incluindo da casa que desabou, e todos os moradores foram orientados sobre os riscos.
Segundo a Defesa Civil, a empresa que estava executando a obra foi notificada e deve entregar uma documentação com estudo do solo e das estruturas próximas à obra, em 30 dias. O prazo pode ser prorrogado para mais 30 dias, caso haja pedido de dilatação.
As quatro edificações permanecem interditadas até o cumprimento da exigência ser atendido para emissão de termo de desinterdição. A Defesa Civil vai seguir acompanhando o caso e avaliando a situação no local.