Menu
Brasília

Brasilienses se aventuram no meio digital para criar empreendimentos

Com a pandemia, o comércio virtual teve um grande crescimento e deu espaço para o público jovem que busca empreender de forma criativa

Redação Jornal de Brasília

23/11/2021 18h17

Por Gabriel de Sousa e Luciana Costa
[email protected]

O empreendedorismo surge da necessidade e possibilita chances para as pessoas terem um salário. Em um momento com poucas vagas de emprego e restrições de mobilidade, o digital inova o comércio brasiliense ao trazer oportunidades para quem sempre sonhou empreender. Independentemente da motivação individual, Luan Henrique, 28, e Sara Castro, 22, enxergaram uma necessidade no mercado de Sobradinho: roupas de praia por preço acessível para todas as mulheres brasilienses.

O negócio digital acelerou a forma de se empreender e a vantagem do digital é que você não fica limitado, e consegue abranger o mundo inteiro

André Lago, especialista em empreendedorismo digital

Os donos da marca Uhlamar começaram a revender biquínis no Instagram em setembro de 2019. A rede social tornou-se uma vitrine após disponibilizar de ferramentas apropriadas para o e-commerce, como opções de perfil comercial, visualização fácil de preços dos produtos e atalhos para redirecionar os seguidores para sites de fora, o que viabilizou maior quantidade de vendas online para empreendedores e clientes.

Em poucos meses, a loja começou a produzir as próprias peças, contratando designers e costureiras terceirizadas, e lançou o site para facilitar o atendimento às clientes. Sara, que não havia se encantado por empreender até ser convencida pelo Luan, disse que “não imaginava que vender pela internet era um mercado tão rentável e ainda está crescendo muito”, e que ter um domínio na Web disponível 24h para as clientes possibilitou maior quantidade de compras e um controle amplo das peças vendidas.

Sara revela que a pandemia, no sentido da virtualização em várias circunstâncias, colaborou para o crescimento logo em seu primeiro ano. Com mais de 3,5 mil seguidores no Instagram, a profissionalização do site foi um dos investimentos da Uhlamar neste ano, por meio da contratação de modelos para fotografias em estúdio para o lançamento das novas coleções. 54% dos empreendedores digitais começaram seus negócios há menos de um ano, conforme o Panorama de Negócios Digitais Brasil 2020, da Spark Hero.

Do lado dos consumidores, o uso aumentou bastante, 72% passaram a acessar mais o Instagram na pandemia, e o uso frequente não se restringe para entretenimento pessoal, dado que 52% já usaram o Instagram para descobrir produtos ou serviços para comprar, de acordo com pesquisa de público da Opinion Box.

Não é à toa que o Brasil se encontra em terceiro lugar no ranking mundial de utilização de aplicativos, os utilizando por 3 horas e 40 minutos por dia, de acordo com dados disponibilizados pela consultoria App Annie. Nesta pesquisa, o Instagram destacou-se por ser a rede social com mais engajamento, reunindo 1 bilhão de usuários ativos diariamente em 2021.

O desafio é tráfego orgânico ou tráfego pago

No universo virtual, o microempreendedor depara-se com grandes desafios no dia a dia, desde produção de conteúdo, interação e engajamento nas redes sociais, atendimento ao cliente, logística das entregas dos produtos, a gestão financeira etc.

Os empreendimentos digitais são pautados pelos parâmetros e estratégias de gestão de uma marca na Web. O tráfego é um parâmetro mais considerado para mensurar as visitas e cliques dos usuários em seu perfil e site, o que pode acontecer de forma natural, chamado de ‘orgânico’ ou pode ser ‘pago’, no qual investe-se dinheiro para que mais pessoas visualizem o conteúdo.

Sara desabafa que “obter o crescimento rápido, não só de números, e sim o crescimento de clientes está sendo um desafio”, o Luan complementa que “hoje em dia é muito difícil disputar o mercado virtual sem o tráfego pago, porque só crescer pelo orgânico até dá, mas não ritmo que nós precisamos”.

André Lago, especialista em Marketing Digital, complementa que ganhar seguidores sem tráfego pago é muito difícil, mas não é impossível. “Tem outras estratégias de trazer tráfego orgânico, isto é, trazer pessoas para o seu negócio de forma mais barata. O ideal é criar uma comunidade de pessoas, que vão seguir interagindo com o perfil e gerar mais resultados positivos”, explica ele.

A principal desvantagem do tráfego orgânico está no tempo de resposta, pois os resultados podem levar várias semanas ou até meses para surtirem efeitos. No caso da Uhlamar, em um ano de tráfego orgânico, o número de seguidores dobrou, porém a quantidade ainda não é o suficiente para rentabilizar o negócio.

Em contrapartida, o tráfego pago tem um retorno rápido, no qual as lojas investem para as propagandas e campanhas serem exibidas a alcance extenso de público. No entanto, André contrapõe que a disputa pela atenção dos usuários é enorme: “é muito difícil criar um negócio sem investir dinheiro para ter o perfil visitado por outras pessoas, porque as pequenas lojas estão concorrendo pela atenção das pessoas por empresas grandes, que tem caixa para isso”.

A representatividade é o diferencial da marca

Para realizar o sonho de ter o próprio negócio, Sara e Luan contaram que estudar as tendências do mundo digital e marketing digital foi fundamental para alcançar resultados, o que levou ao diferencial da marca: a fabricação própria. Eles contam que priorizam a exclusividade e a qualidade das peças para diversificar do comércio tradicional. “Você acerta a peça do jeito que você quer vender, produzida com os melhores tecidos do mercado e feita para caber em todos os tipos de corpos”, explicou Luan.

Coleções limitadas com roupas de qualidade e durabilidade são uma garantia de fidelização de clientes, principalmente nas compras à distância sem poder experimentar. Para além disso, as empresas que têm algo a dizer, a partir de uma narrativa e propósito transparentes, fortalecem a identidade da marca e constroem uma relação próxima com o consumidor.

Ter o compromisso com as clientes de peças que são para todas é o propósito da marca Uhlamar. “Ser acessível é um dos nossos valores e de caber em todos os corpos, por isso as peças são feitas para modelar no corpo das mulheres, para elas se sentirem confortáveis. Além de ser acessível para o bolso, porque sabemos quanto custa pagar uma mão de obra justa, o valor dos tecidos, os outros custos de produção, e não exageramos nos preços”, relatam os donos.

A inovação está intrinsecamente associada ao sociocultural, de forma que os empreendedores devem acompanhar as reivindicações debatidas atualmente. Idealizador da Uhlamar, Luan acredita que o trabalho dele pode fazer uma mudança significativa na cidade e até mesmo no país. “Para mim, empreender gera a possibilidade de lucrar a ponto de gerar a oportunidade de emprego para mais pessoas, ser capaz de uma mudança expressiva e colaborar com alguma melhoria no país é gratificante.”

Para 2022, a Uhlamar tem como maior desafio montar uma experiência mais planejada para as clientes, tendo em vista, a volta ao normal, pós-pandemia, esperada para os próximos meses com a chegada do verão, Carnaval, festivais, viagens. “Criar as nossas próximas coleções para um universo, que envolva as clientes e fazer com que elas se sintam abraçadas e representadas, e claro, sempre na moda!”, deseja Sara.

Concessionárias se aventuram na mídia digital

O comércio de veículos, tradicionalmente feito de forma presencial em grandes e pequenas concessionárias, recebeu novos aventureiros do comércio virtual, que apostaram nos meios digitais para a venda de veículos seminovos. Um destes comerciantes foi Gustavo Costa, que em março de 2020, criou a Virtual Automóveis, localizada em Samambaia.

Um dos principais benefícios para Gustavo foi a falta de outros concorrentes em volta da sede física da empresa. “O nosso intuito foi sair um pouco da muvuca dos outros setores de lojas. O cliente vem aqui e só não fecha a compra se nós não quisermos, porque não há uma loja vizinha de concorrência”, relata.

Para fazer o seu empreendimento dar certo durante um período onde grande parte do comércio brasiliense estava de portas fechadas, Gustavo apostou na publicidade feita de forma virtual, utilizando as redes sociais para chegar até o seu público-alvo. “Começamos a investir pesado no marketing, colocando a nossa marca no Google, no Facebook, no Instagram, e na OLX, com anúncios patrocinados”, afirma.

Para o comerciante, a venda de carros em forma virtual é bem mais econômica para o empreendedor do que o tradicional comércio realizado nas grandes sedes de empresas. “A gente diminui bastante o custo, você vai em uma loja que possui o espaço físico com vinte vendedores, e nós com apenas quatro conseguimos vender o mesmo tanto que eles”, observa o empresário. O site da inovadora concessionária de automóveis pode ser acessado no link.

Especialista diz que o comércio virtual é a nova realidade

De acordo com o especialista André Lago, o Distrito Federal está se tornando um importante polo do comércio virtual. Para ele, os grandes investidores que podem fazer investimentos nos negócios digitais, podem realizar impulsionamentos em qualquer local do país. “Atualmente, a localização não é mais um limitador”, afirma.

Lago diz que após o início da pandemia, os clientes buscam mais por comércios virtuais, e consequentemente, os comerciantes também começaram a apostar nesse método de vendas para chegar até as pessoas. “Para conseguir sobreviver, vários negócios foram para o digital. Às vezes não ganha novos clientes, mas você consegue um ganho maior”, observa.

Um dos exemplos citados pelo especialista são os cursos digitais, que antes eram realizados apenas de forma presencial nas escolas e faculdades e hoje podem ser utilizados por estudantes de todo o país, a partir do ensino à distância (EAD).

Para André Lago, o empreendedorismo digital é a nova realidade, e com o surgimento de novos cursos tecnológicos, a expectativa é que novos profissionais formados neste método de comércio estejam disponíveis em um mercado que vive se reinventando e se modernizando com os avanços da tecnologia como ferramenta de comercialização. “O negócio digital acelerou a forma de se empreender e a vantagem do digital é que você não fica limitado, e consegue abranger o mundo inteiro”, conclui o especialista.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado