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Amamentação: uso de mamadeira e chupeta pode acarretar desmame precoce, explicam especialistas

“Mas, reconheço que ainda há tabus na sociedade em relação a amamentação em público.”

Redação Jornal de Brasília

19/05/2023 19h49

Por Luiza Freire
Agência de Notícias do CEUB/Jornal de Brasília

Para mim amamentar é uma satisfação. É um ato de amor e cuidado, um momento íntimo meu como meu filho, pois é o momento que estou nutrindo e alimentando ele, deixando-o não só mais forte”. O depoimento é da estudante carioca Maria Luiza Lima, de 16 anos, mãe de um bebê de dois meses de vida. Mesmo tão jovem, tem consciência do valor do leite materno e diz que se confortável em amamentar nos lugares que frequento, mesmo sendo em público. “Mas, reconheço que ainda há tabus na sociedade em relação a amamentação em público.”

Maria Luiza, conta ainda que nunca passou por nenhuma situação de constrangimento ou desrespeito fora de casa, mas que na hora de alimentar seu filho, cobre seu seio, justamente para se prevenir e evitar comentários e situações indesejadas.

Para mim amamentar é uma satisfação. É um ato de amor e cuidado, um momento íntimo meu como meu filho, pois é o momento que estou nutrindo e alimentando ele, deixando-o não só mais forte”. O depoimento é da estudante carioca Maria Luiza Lima, de 16 anos, mãe de um bebê de dois meses de vida. Mesmo tão jovem, tem consciência do valor do leite materno e diz que se confortável em amamentar nos lugares que frequento, mesmo sendo em público. “Mas, reconheço que ainda há tabus na sociedade em relação a amamentação em público.”

Maria Luiza, conta ainda que nunca passou por nenhuma situação de constrangimento ou desrespeito fora de casa, mas que na hora de alimentar seu filho, cobre seu seio, justamente para se prevenir e evitar comentários e situações indesejadas.

A respeito desse assunto, a psicóloga perinatal Fernanda Silveira, afirma que a amamentação vai muito além do que apenas nutrir a criança, esse processo tem sua importância tanto para a mãe como também para seu filho.

A psicóloga explica, que muitas vezes pela vergonha ou medo da mulher de se sentir julgada, muitas mães ordenham seu próprio leite e colocam em uma mamadeira, para fora de casa não ter que dar o peito para o bebê. No entanto, ela de fato observa que muitas vezes a chupeta e a mamadeira são causadores de desmame. “Não é regra geral, pois é bem diferente a criança mamar no peito e mamar na mamadeira, outros músculos são trabalhados, o utensílio é mais fácil do bebê ter acesso ao leite, então consequentemente é mais fácil dele querer utilizar a mamadeira do que o peito, por ser mais fácil”.

“Se a mãe não quer que haja esse desmame, mas fora de casa não se sente confortável, uma dica é ordenhar seu próprio leite e colocar em um copinho, ou em algum outro tipo de utensílio, para que não cause essa confusão de bico”

Mais saudável

O leite materno é o alimento essencial para a nutrição do bebê. Ele contém todas as substâncias necessárias para que a criança cresça forte e saudável.

A pediatra neonatologista Sandi Sato explica que amamentar fortalece o sistema imunológico do bebê.

“Além de contribuir para o desenvolvimento, garante proteção contra doenças da infância até a fase adulta. Por meio da amamentação, é possível reduzir em 13% a mortalidade de crianças menores de 5 anos por motivos evitáveis, segundo o Ministério da Saúde”

Além disso, a pediatra relata ainda que diversos descompassos na saúde dos bebês podem ser minimizados, por meio da absorção do leite. Casos de diarreia, infecções respiratórias, hipertensão, colesterol alto, diabetes e obesidade são alguns deles.

O processo de amamentar, além de ser a forma mais rica, falando de forma nutricional, também favorece muito a criação do vínculo emocional entre mãe e filho.

Segundo Fernanda Silveira, é um momento de muita proximidade e intimidade entre os dois. No entanto, ela esclarece que esse processo não é o único capaz de criar ou fortalecer vínculos díades (entre mãe e filho), é apenas um dos meios dentre inúmeros outros métodos do dia a dia, que podem fazer com que esse laço seja construído e fortalecido.

Dores também impedem amamentação

Apesar de muitas vezes existir a grande vontade da mulher de amamentar, algumas não conseguem, o que pode chegar a ser frustrante para muitas delas.

Cirurgias (estéticas ou não) realizadas, dores extremas a ponto de machucar o peito, traumas e questões emocionais que a mulher tenha, ou até mesmo a não produção de leite suficiente, podem ser alguns dos mais diversos motivos para uma mãe optar pelas fórmulas ou aleitamentos. Porém, a especialista no assunto diz que o leite materno não deveria ser substituído por razões banais. “A não ser quando a mulher não pode amamentar por questões físicas ou psicológicas” 

Ela ainda chama atenção para a liberdade de escolha da mulher, tendo em vista que mesmo ela estando em condições aptas para amamentar, pode escolher não querer, a mãe apenas precisa estar ciente da troca que está fazendo e de suas consequências.

Sem substituição

O ideal, segundo as especialistas, é que o leite materno não seja substituído por fórmulas alimentares.

“Quando surgiram as fórmulas ficou algo subentendido que era uma substituição perfeita, e hoje esse cenário vem sendo revertido. A fórmula tem indicação específica. A mulher tem que estar ciente da troca que ela está fazendo. Todas têm o direito de escolher como querem viver esse processo da amamentação, mas elas precisam estar informadas que não é a mesma coisa, não há alimento mais poderoso do que o leite materno para o ser humano, ele é muito completo”, afirma Fernanda Silveira

Tabu?

De acordo com Fernanda Silveira, esse tabu da amamentação em público é uma falácia que a sociedade precisa reverter. “É necessário que as pessoas se informem, se inteirem sobre o assunto e discutam mais a respeito, e compreendam e respeitem a importância da amamentação, seja pelo viés da nutrição dessa criança, ou seja pelo viés emocional da díade, que é de extrema relevância”.

Além de psicóloga, Fernanda também é mãe, e conta que para ela, amamentar em público não é desconfortável. 

“Eu procuro ter roupas que facilitam esse processo, não é a coisa mais tranquila do mundo, porque a gente sabe que existe esse tabu, mas não me incomoda se eu precisar fazer”

Já para Marcela Carneiro, arquiteta e urbanista, que aos 27 anos é mãe de uma menina de 2 anos e 3 meses e de um bebê de 5 meses, amamentar em público ainda é algo bastante desconfortável. Ela ainda sente que há diversos olhares de reprovação quando precisa alimentar sua filha mais nova em locais com muita gente.

Eu particularmente sempre levo um paninho para tampar em determinados lugares que não me sinta confortável. Ainda há muito tabu. Apesar de já termos evoluído muito, em alguns locais ainda não me sinto à vontade, principalmente se tiver muitos homens no ambiente.”

No entanto, apesar desse desconforto, a arquiteta e urbanista afirma que mesmo com olhares julgativos e comentários desnecessários, ela apenas ignora e finge que não é com ela, pois, por pior que a situação possa parecer, ela reitera: “Não cabe a ninguém determinar onde me cabe amamentar a minha filha”

A psicóloga Fernanda Silveira, comenta ainda, que esse olhar erotizado e sexualizado, tem que ser deixado de lado nesse momento da amamentação, o corpo humano tem diversas funções para além do sexo e de sua sexualidade, então é muito importante que se olhe com outros olhos para esse processo, e afirma que o único jeito de se fazer isso, é por meio da educação da sociedade como um todo.

Decisão unicamente da mãe

Outro ponto destacado pelas especialistas é que a decisão de alimentar o bebê com seu próprio leite diretamente do peito é uma decisão única e exclusivamente da mãe. Pessoas externas podem auxiliá-la e mostrar as melhores opções e os lados positivos e negativos de cada escolha, porém apenas a mãe é quem deve decidir sobre isso.

Além disso, segundo Fernanda Silveira, a mãe tem todo o direito de escolher quando fará o desmame ou escolher esperar o desmame natural de quando a criança não quiser mais.

Ela testemunha que, muitas vezes, as mulheres escutam comentários a respeito do tamanho da criança e de ela ainda estar nesse processo de amamentação, podendo deixar algumas mães desconfortáveis e incomodadas com tais falas.

A pediatra Sandi Sato cita que a recomendação da OMS e da Sociedade Brasileira de Pediatria é que a amamentação aconteça até os dois anos de idade ou mais , sendo que nos seis primeiros meses de forma exclusiva”.

Rede de apoio

Durante toda a gravidez, é importante que a mulher tenha pessoas ao seu redor para lhe auxilia-la, não apenas realizar atividades que ela não esteja em condições naquele momento, mas também lhe fazer companhia, tirá-la um pouco da rotina, ser um ombro amigo para ajudá-la em todo o lado emocional que esse processo exige, e com a amamentação não é diferente.

A psicóloga perinatal conta que uma boa rede de apoio, faz toda diferença na vida da lactante.

“Uma rede de apoio durante o processo de gravidez, puerpério e, em especial, da amamentação faz toda diferença para a mãe continuar amamentando, para mães que não tem essa rede de apoio presente, é uma tarefa duplamente árdua, porque amamentar é uma privação, é uma abstenção de vontade, de autonomia, porque você se torna alimento, e de acordo com a hora que o outro serzinho tem fome”

No entanto, ela reitera, que apesar de toda essa privação que o processo realmente exige, a amamentação traz inúmeros benefícios, não somente para o bebê, mas em grande parte também para a mulher, principalmente para o lado emocional e conexão de mãe e filho. Além disso, ela comenta sobre a solidão e o prazer que essas mulheres podem sentir.

“A amamentação também pode ser muito solitária, porque é um momento que a mulher geralmente se retira de um momento que está confraternizando para ir para um lugar mais quietinho para amamentar, para muitas mães isso é prazeroso, mas para outras não, então a rede de apoio pode ajudar em todo o resto que a mulher não está conseguindo fazer enquanto ela amamenta”

De acordo com a pediatra neonatologista, sabe-se que a amamentação apesar de ser biologicamente programada, ela também está socioculturalmente condicionada, no sucesso do processo de amamentar, isto é, fatores sociais e culturais podem interferir de forma positiva e negativa no sucesso da amamentação.

Além disso, a Dra. Sandi afirma que hoje, a equipe de pediatria busca não só preparar a mulher para esse processo, como toda a cadeia de apoio a esta mulher.

“Ter a família, empregadores, profissionais de saúde, empoderando e apoiando a mulher que amamenta, faz esse processo se tornar muito mais efetivo”

Por fim, a Fernanda Silveira alerta que pai não é rede de apoio. “Pai deve participar tanto quanto a mãe, e a amamentação sim, ele não pode fazer, mas ele pode fazer todo o resto. Rede de apoio é avó, avô, tio, tia, amigo, padrinho, madrinha. Pai deveria ter as mesmas responsabilidades da mãe”.

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