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Brasília

Alunos da rede pública do DF são capacitados para gravar e editar clipes

Promovida com recursos do Fundo de Apoio à Cultura, a qualificação profissional é gratuita e voltada para os estudantes do CEF 27 de Ceilândia

Redação Jornal de Brasília

12/08/2023 17h35

Atualizada 15/08/2023 16h39

O Projeto MTV tem o objetivo de promover a capacitação profissional de estudantes da rede pública de ensino para gravar e editar videoclipes de artistas da cena musical da cidade | Fotos: Geovana Albuquerque/Agência Brasília

Despertar o interesse dos jovens do Distrito Federal no segmento do audiovisual é o objetivo do Projeto MTV, idealizado pelo produtor cultural Fábio Barrera e promovido com recursos do Governo do Distrito Federal (GDF). Em sua sexta edição, a iniciativa consiste na capacitação profissional de estudantes da rede pública de ensino para gravar e editar videoclipes de artistas da cena musical da cidade.

“A nossa ideia é desmistificar que o audiovisual é algo impossível para o jovem da periferia. O maior exemplo é o Kondzilla [famoso produtor de audiovisual no cenário do funk brasileiro], que foi uma inspiração para o projeto”, revela Barrera. “Os alunos são dirigidos, mas quem coloca a mão na massa são eles”, completa.

A iniciativa, que passou por escolas no Recanto das Emas e no Paranoá e atingiu cerca de 100 alunos, neste ano chegou à Ceilândia. Na cidade, estão sendo promovidas duas turmas com 16 estudantes cada. O grupo matutino é composto apenas por alunos do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 27 de Ceilândia, enquanto o vespertino conta com inscritos das comunidades de Ceilândia e do Sol Nascente/Pôr do Sol.

Ao longo de uma semana, o projeto oferece aulas básicas de fotografia, iluminação, vídeo e edição ministradas por dois profissionais renomados, os diretores e fotógrafos Luringa e Cadu Andrade, que já trabalharam com NX Zero, Scalene e Dona Cislene. A dupla dirige os alunos que gravam e editam o conteúdo. Todos os participantes ganham uma bolsa auxílio no valor de R$ 400. “Consideramos uma primeira oportunidade profissional, por isso todos são remunerados, podendo ajudar a família com a bolsa”, diz Fábio Barrera.

A estrutura e o formato do curso são possíveis devido ao fomento de R$ 40 mil conquistado pelo projeto no edital Multicultural II – Cultura Em Todo Canto, de 2021, do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec).

Oportunidade diferenciada

Estudante do 8º ano do CEF 27 de Ceilândia, Kauã Henrique Silva de Oliveira, 13 anos, é um dos alunos da capacitação. Ele conta que ficou sabendo da oportunidade na própria escola, ao ser convidado pelos professores da instituição. “Achei interessante porque é um tema legal, gosto bastante de música e de trap, sem falar que é uma oportunidade de lidar com as câmeras”, afirma. “Gostei muito das aulas, principalmente, de fazer as fotos. Tem sido uma honra trabalhar com esse pessoal, já penso em seguir nesse caminho”, adianta.

A professora de Geografia do CEF 27 de Ceilândia, Amanda Rocha de Azevedo, explica que os estudantes que participam da ação foram convidados pela escola após o projeto ter sido apresentado aos docentes. “Decidimos juntar essa iniciativa com um projeto que já temos sobre consciência negra. Selecionamos alguns alunos que tinham interesse e as aulas acontecem todos os dias da semana na escola no contraturno da aula deles”, afirma.

Ela acredita que o projeto tem o papel de apresentar uma nova área profissional para os meninos e as meninas. “Muitos deles não sabiam que essa profissão existia. Então estamos apresentando esse mundo das artes e valorizando as diferentes inteligências. É importante que eles sintam que podem ser inteligentes e se destacarem no meio das artes”, analisa.

A fotógrafa e videomaker Beatriz Braga Cardoso é um exemplo de como a capacitação pode influenciar no processo profissional. No início deste ano ela foi uma das alunas do Projeto MTV na Casa do Cantador e hoje atua diretamente no projeto fazendo a captação de imagens. “Foi uma oportunidade muito massa de ter acesso aos equipamentos e de fazer um network. Me abriu muitas portas. Eu já atuava com fotografia, mas como hoje a demanda requer vídeos, temos que estudar”, admite.

Incentivo à produção

Com uma vasta experiência em videoclipes, o diretor Luringa é um dos professores do curso. Para ele, a iniciativa é uma forma de incentivar e reconhecer talentos. “Só neste curso desta edição mesmo já descobrimos de três a quatro alunos muito bons. O grande lance desse projeto é trazer essa realidade para os jovens e despertar uma faísca para que eles possam seguir nessa profissão”, comenta. “Buscamos fazer isso de forma didática para que eles consigam aprender mesmo algo tão complexo, como o audiovisual”, completa.

O diretor e também professor do curso Cadu Andrade reforça que o aspecto que mais o estimula no projeto é exatamente auxiliar na formação de novos profissionais. “É sempre uma honra participar, porque temos a oportunidade de levar o audiovisual para esses jovens que estão descobrindo essa área. É a nossa chance de introduzir e colocar o audiovisual como opção na vida deles. É a preparação e a capacitação deles para o mercado de trabalho”, define.

Além disso, o projeto serve para aquecer a cena independente da música local. Nesta edição, Gabiru e Matuto, dois rappers de Ceilândia, foram os artistas contemplados com a gravação de um clipe. Os estudantes do curso ficaram responsáveis pelo vídeo da música Merecedor, parceria da dupla disponível no EP Gelo no sangue.

“É muito legal poder participar desse projeto. É importante estar em comunhão com essa rapaziada. É algo muito nostálgico para mim, porque eu também vim de um projeto de escola. Projetos como esse servem para descobrir futuros potenciais”, ressalta Gabiru, 27 anos, que iniciou a carreira profissionalmente em 2015. Do Setor O, ele se encantou pela música quando estudava no Centro de Ensino Médio (CEM) 9 de Ceilândia. “É uma escola riquíssima em arte. Muitos talentos saem de lá”, complementa.

Para Matuto, 21 anos, a experiência é quase como ser transferido ao passado. “Eu fico me vendo ali. O que está acontecendo com eles foi exatamente o que aconteceu comigo. Isso me deixa muito realizado. Eu aprendi na escola, com projetos escolares semelhantes a esse, que eu poderia ser o artista que eu sou”, afirma o morador do P Norte, que estudou no Centro de Ensino (CED) 11 de Ceilândia.

Com informações da Agência Brasília

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