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Brasília

Alimentação escolar garante nutrição de crianças em situação de vulnerabilidade

Dia Nacional da Alimentação Escolar, celebrado hoje, evoca a importância da seguridade alimentar de alunos em instituições públicas de ensino

Vítor Mendonça

21/10/2022 6h00

Atualizada 20/10/2022 23h36

Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

É celebrado nesta sexta-feira (21) o Dia Nacional da Alimentação Escolar, que ressalta a importância da seguridade nutricional de alunos em escolas do Brasil. Em contextos de vulnerabilidade social, os pratos e lanches servidos nas instituições de ensino se mostram ainda mais relevantes, uma vez que muitas famílias não têm condições de garantir uma alimentação adequada para crianças e adolescentes.

Esta é a situação de Ivonete Pereira de Oliveira, 65 anos, que mora em uma casa simples no Paranoá, com quatro netos pequenos. Na alimentação dentro da residência, existe precariedade nutricional devido à dificuldade da família em conseguir os alimentos necessários para garantir uma refeição completa.

Dos netos, três estão em idade escolar e matriculados no período matutino da Escola Classe 2 da região. Carlos Daniel, 13, está no 5º ano, e Lucas, 10, e Matheus, 11, estão cursando o 3º ano. Na escola, a hora do lanche, em dois momentos, é um dos momentos favoritos dos meninos, além do recreio e de fazer dever, segundo eles. Há dias em que as crianças ficam no período integral e também almoçam.

O que eles mais gostam de comer é o bolo com leite ou suco, no café da manhã, e a carne moída, servida no almoço. Eles também gostam quando há frutas no cardápio, como maçã e abacaxi. De acordo com Ivonete, a alimentação na unidade de ensino é de grande ajuda para a família. “Tem dias que, depois de comerem lá na escola, querem comer aqui também. Ontem [dia 18], só tinha arroz para eles comerem”, afirmou a avó.

A proteína vinda das carnes é o nutriente que mais falta na alimentação de dentro de casa. Ivonete afirma que para garantir uma carne, precisa ir atrás do caminhão que recolhe os ossos em mercados e açougues do Paranoá. Quando consegue, inclui na panela para apurar o sabor. “A gente come o que tem. [Das sobras de osso] tem dia que pegamos com uma carne boa, tem dia que só tem ‘pelanca’ [gordura]”, disse.

A avó, que descobriu ter diabetes recentemente, precisa arcar com os custos da casa e de alguns remédios que não consegue gratuitamente com apenas um salário mínimo que a filha mais nova recebe, por invalidez, pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Com os gastos que precisa gerir dentro de casa, Ivonete afirma que está com dois salários de R$ 550,00 atrasados e as contas de luz e água acumuladas, também sem condições de serem pagas. Também falta gás para cozinhar e a solução encontrada foi utilizar um latão com madeira para servir como fogão.

A situação de escassez é um dos fatores que levaram a família a ter insegurança alimentar. Para os netos, portanto, a alimentação dentro da escola é essencial. “Não tenho o que fazer, estou sem condições. […] Sem a escola iriam passar a mesma dificuldade que passamos em casa. Nem me lembro da época que fui no mercado para fazer uma compra direito”, finalizou.

Preocupação mundial

Também hoje é o Dia Mundial da Alimentação, que trata da insegurança alimentar, ou desnutrição, que atinge cerca de 768 milhões de pessoas no planeta, segundo dados de órgãos a serviço das Nações Unidas, expostas na pesquisa “A condição da segurança alimentar e nutricional no mundo”, divulgada ano passado. O levantamento indica que em 2020 houve um aumento de 118 milhões de pessoas enfrentando fome em relação a 2019.

Em um dos trechos, a pesquisa ressalta que “no Brasil, o fechamento obrigatório das escolas devido à pandemia colocou em risco a continuidade da implementação de um programa alimentar nacional, atingindo milhões de beneficiários”. Nesse sentido, de acordo com Fernanda Melo, diretora de alimentação escolar da Secretaria de Estado da Educação (SEE), assim como na família de Ivonete, a volta às aulas foi um importante período para garantir o retorno da segurança alimentar de milhares de crianças no Distrito Federal.

“Muitos pais nos abordam e falam que a última refeição que os filhos fazem é quase sempre a da escola. Nos preocupamos muito com isso, e é por isso que nos nossos cardápios de segunda e de sexta-feira priorizamos uma alimentação mais completa, com mais itens, porque muitas vezes esse vai ser o alimento para dois dias, que é quando o aluno volta para a escola”, afirmou.

No fim do ano passado, de acordo com Fernanda, foi oferecida a opção de ampliação para duas refeições por turno nas escolas em áreas de vulnerabilidade social. Quase a totalidade optou para que a nova possibilidade fosse adotada, como forma de garantir que os alunos ficassem mais saciados dentro de sala de aula.

O oferecimento de frutas e hortaliças também aumentou. Em contratos com agriculturas familiares, a diretora de alimentação destaca que atualmente existem 32 itens de frutas, verduras e folhagens para serem oferecidos nas escolas. Além desses, há as opções comuns das refeições, sendo arroz, feijão, macarrão, e proteína, sendo carne (moída ou em peça), frango (peito, coxa e sobrecoxa) e ovos.

Na capital, dos 52 fornecedores de bens da SEE, o abastecimento dos itens alimentícios, entre perecíveis e não perecíveis, é feito por 39 fornecedores, compondo algumas das principais contratações da pasta.

A Secretaria de Educação não possui uma estatística exata de quantos alunos estão em vulnerabilidade social e necessitam de maneira mais urgente da alimentação escolar. Em razão das muitas escolas no DF, cada qual com públicos diferenciados, há alunos com perfil de baixa vulnerabilidade em quase todas as unidades e, portanto, não existe um número absoluto.

Entretanto, há uma estimativa de que, dos quase 500 mil alunos da rede pública de ensino, cerca de 80 mil têm as famílias cadastradas no Auxílio Brasil, indicando situações de vulnerabilidade. Atualmente, são aproximadamente R$ 150 milhões investidos para a alimentação dos estudantes das escolas básicas, de fundamental e ensino médio.

“Eles gostam da comida e a cada vez estão comendo mais. Prezamos muito pela composição do nosso cardápio em questões nutricionais. É muito bom chegar na escola e ver que aquilo está fazendo a diferença, porque aluno que não é alimentado, não aprende”, disse. “O importante é o aluno estar bem alimentado.”

Dependendo do tipo de escola em que o aluno estudará, haverá mais ou menos refeições. Quem estuda no integral, por exemplo, terá mais refeições do que aqueles que estudam em apenas um período. A variação da quantidade vai de uma a quatro alimentações por dia.

A diretora acredita que os obstáculos encontrados no passado para o suprimento dos alunos em vulnerabilidade social já foram superados, alcançando as metas de colocar um cardápio completo dentro das escolas. “O nosso desafio agora é fazer com que ele [cardápio] se amplie ainda mais. Queremos outros itens da agricultura familiar dentro das escolas, como a carne suína, lácteos como mussarela e manteiga, e procurando outros itens”, explicou Fernanda.

“Muitas vezes os meninos chegam na escola já perguntando: ‘tia, qual o lanche hoje?’, olhando o cardápio. Então eles também querem saber o que está fazendo parte da alimentação”, disse. “Queremos que o aluno esteja nutrido no horário correspondente ao que fica na escola. Não podemos levar a alimentação escolar como política de subsistência, mas de fato o que muitos alunos comem na escola não é o que eles encontram em casa”, afirmou.

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