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Brasília

Alessander escolheu largar a batina

Arquivo Geral

23/08/2013 7h00

Para se tornar um  padre, é preciso abdicar de uma série de condutas e condições, como o casamento. A tradição é pra lá de polêmica.  Alessander Capalbo, 38 anos, sabe bem disso: foi padre por 12 anos – oito só no Paranoá. Na cidade, ele considera que cumpriu sua missão: ajudou a construir a Igreja Matriz – hoje cartão-postal do Paranoá–, várias capelas e uma creche. E quando sentiu que tinha outra missão, largou a batina. Quando tomou a decisão, comunicou ao bispo e aos fiéis que sairia para construir uma família. O sentimento era de deixar um legado para construir outro.

 

Entretanto, ele não abandonou a religião. “Continuo indo às missas, mas como fiel”, destaca. Casado desde novembro passado com a professora Keila Capalbo, 36 anos, agora ele  vai realizar outro sonho:  ser pai. A mulher está grávida de dois meses. Contudo, o ex-padre  assegura que  não tinha nenhum envolvimento amoroso enquanto era padre. 

 

Seminário


Alessander é formado em teologia e filosofia. Nasceu em Jaboticabal (SP) e com 18 anos já estava decidido a entrar no seminário. “Estudei em Brasília e em 2000 fui ordenado padre”, conta, orgulhosamente. Porém, o desejo de construir uma família persistia.

 

“Tudo começou quando eu fui visitar a primeira sobrinha que havia nascido. Tive um choque tão grande porque só conseguia chorar. Estava me deparando com uma vontade imensa de ser pai. Fiquei de repente com muitas dúvidas, porque até então eu era firme nesta vontade”.

 

Ele foi enviado a Roma para estudos, e quando voltou, foi para o Paranoá. “O padre da cidade pediu afastamento devido a uma licença médica. Era para eu ficar por quatro meses, mas me senti  envolvido com a comunidade. Quando cheguei, havia só um barracão como igreja”, lembra.

 

Missas


A relação com a comunidade caminhava tão bem que o padre decidiu se mudar do Lago Sul para o Paranoá.  “Vinham cerca de mil fiéis às missas,   não havia muita estrutura na época. Depois, passamos a contar  com até 12 mil fiéis”, comemora o ex-padre. 

 

Assim que assumiu a igreja, Alessander não ficou de braços cruzados. “Procurava empresários, políticos e todos que quisessem ajudar para construir os templos”, destaca. Depois de cinco anos, foi inaugurada, com esforço da comunidade, a Igreja Matriz do Paranoá.

 

Terapia antes de optar por mudanças 

 

Em agosto de 2011, tudo mudou na vida de Alessander. “Contei que queria ser pai. Pensei que nunca mais a população olharia na minha cara, mas as pessoas compartilharam da minha felicidade e entenderam que eu estava seguindo para outro caminho que Deus havia me dado”, revela. 

 

O processo de decisão não foi fácil. “Fiz terapia em São Paulo por quatro meses. Para pagar as consultas tive que vender o carro. Enfrentei depressão a ponto de ser alimentado na boca pela minha   mãe. Afinal, foram 12 anos de verdadeira fidelidade a Deus e Ele comigo. Em nenhum momento omiti algo para justificar a minha saída”, diz.

 

Embora  tenha casado somente no civil, ele diz amar e defender a igreja. “Continuo lendo e escrevendo teologia e estou envolvido com as questões sociais. Prego um Cristo que é misericordioso e amoroso”, afirma.

 

Ele diz que as pessoas ainda o chamam de padre. “Alguns inclusive pedem conselhos, mas agora apenas como amigo, e deixo claro isso”, completa.  Na igreja, ele acredita ter entrado e saído pela porta da frente.  “Me sinto em um recomeço”, afirma, satisfeito.

 
 
Perfil 
 
Alessander Capalbo
Idade:  38 anos
Formação:  Teologia e Filosofia
Onde mora:  Paranoá
Estado civil:  Casado com Keila Capalbo 
Relação com a igreja:  Foi pároco da Paróquia Santa Maria dos Pobres, no Paranoá, de 2004 até 2011
Hobby:   Escrever no blog   (www.blogdoalessander.com)

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