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Brasília

Alerta vermelho para a segurança pública

Autoextermínio de policial militar acendeu luz para o cuidado da saúde mental. Sindicato dos policias civis emite nota de alerta

Redação Jornal de Brasília

15/01/2024 19h47

Foto: Reprodução

Luís Nova
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O trágico homicídio seguido de suicido provocado por um Policial Militar no último domingo (14) acendeu o alerta vermelho sobre o estresse dos policiais da capital brasileira.

Segundo o neuropsiquiatra, João Carvalho, todo trabalhador necessita fazer um acompanhamento anual, afinal, a cobrança diária é desgastante para qualquer pessoa, ainda mais para os profissionais da linha de frente, como policias, enfermeiros, dentre outras categorias. “Se a pessoa não tratar o distúrbio mental, a doença pode evoluir para algo mais grave, até chegar em uma fatalidade com a percepção distorcida da realidade”, destaca o médico.

Após a tragédia, a vice-governador, Celina Leão (PP), postou uma mensagem de apoio a família dos policiais na rede social X, antigo Twitter, e destacou a importância da saúde mental dos servidores públicos e anunciou investimento na área. “Iremos investir cada vez mais em programas que busquem harmonia entre a saúde mental e o aspecto profissional da nossa corporação”, destaca Celina.

Ainda segundo a postagem, a vice-governador pediu pessoalmente a comandante da PMDF, Cel Ana Paula, atenção especial para este problema.

O médico garante que nenhum surto acontece de uma hora para outra, todo transtorno evolui até chegar em um momento que ele explode, essa explosão é conhecida como surto. “Todo caso que termina em morte ou violência no quadro psiquiátrico é uma evolução não tratada de um transtorno mental, seja a depressão, ansiedade, bipolaridade, entre outros”, explica o neuropsiquiatra.

Os profissionais que trabalham na linha de frente muitas vezes cuidam dos outros e acabam esquecendo deles. Essa prática, que se torna “natural”, é extremamente perigosa para o policial. “Assim como o policial cuida da população, o policial tem que se cuidar de sua saúde mental, para evitar desenvolver qualquer transtorno, é recomendado ir uma vez por ano ao psiquiatra para ver se está tudo bem”, pontua.

Quem está com algum transtorno psicológico dificilmente conseguirá perceber a desordem no pensamento. De acordo com o especialista, a família e os amigos precisam sempre cuidar um dos outros e ficar atentos aos pequenos detalhes. “Se a pessoa perde o interesse por coisas que sempre gostou, se tem problemas para levantar, perda de apetite. Esses são alguns dos sintomas que algo não está bem. Se a família e os amigos perceberem esses sinais, é necessário levar o paciente ao médico”, frisa o João Carvalho.

Qualidade de Vida

Segundo Carvalho, todas as pessoas precisam de uma pausa e nunca podem deixar fazer coisas que gostam. “A pessoa não pode viver em função do trabalho, ela precisa aproveitar as férias, precisa de lazer, precisa cuidar da alimentação, dormir bem e fazer um exercício, nem que seja uma caminhada leve”, recomenda.

PMDF

Após o caso, a Polícia Militar do Distrito Feral (PMDF) divulgou uma nota, onde afirmou que a prioridade da Comandante-Geral, coronel Ana Paula, é garantir a saúde mental dos policiais. “Ressaltamos nosso compromisso contínuo com o bem-estar e a saúde mental dos integrantes de nossa instituição, empenhados em criar um ambiente de trabalho onde o cuidado com a saúde mental é uma prioridade. Acreditamos que apoiar a saúde mental de nossos policiais é fundamental para manter uma força de trabalho resiliente, eficaz e compassiva”, informa a nota.

Secretaria de Segurança Pública

A secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) definiu a tragédia como grave e estará trabalhando junto com a PMDF para desenvolver “novas medidas voltadas à saúde física e mental dos policiais”. “Entre as ações em andamento destacamos a construção de um Centro de Apoio Biopsicosssocial (CAB) e medidas que reforçam o combate ao assédio no serviço policial”, destaca a pasta
Sindicato dos Policiais Civis emite alerta

O Sindicato dos Policiais Civil do Distrito Federal (Sinpol-DF) emitiu uma nota sobre o ocorrido, reforçando que além da Polícia Militar a Polícia Civil também enfrenta problemas semelhantes. “Em outubro de 2023, o Sinpol-DF divulgou os resultados de uma pesquisa interna alarmante: 74,4% dos policiais civis relataram ter enfrentado sintomas de ansiedade e depressão”, informa a nota.

Ainda segundo o Sindicato, o resultado é preocupante, pois apenas uma parte dos participantes informaram buscar ajuda especializada. “Esse levantamento, feito com 328 policiais civis ativos e aposentados entrevistados, revelou que, apesar do alto índice de adoecimento, apenas 42,7% buscaram tratamento psicológico ou psiquiátrico”, frisa o Sindicato.

Relembre o caso

No último domingo (14), três policiais realizavam patrulhamento no Recanto das Emas, quando pararam para comprar um sorvete. Ao voltar do estabelecimento, o SGT Paulo Pereira de Souza, 46 anos, entrou no banco de trás, sacou sua pistola e atirou na cabeça do soldado Yago Monteiro Fidelis, 31 anos, que era o motorista, em seguida se matou. Yago foi socorrido e morreu no Hospital Regional de

Taguatinga.

Em depoimento, o policial sobrevivente SGT Diogo Carneiro dos Santos, informou que não houve qualquer briga ou desentendimento entre os integrantes da corporação. Ainda segundo o policial, quando ele escutou o primeiro disparo, pensou que era algum criminoso, momentos depois ouviu o segundo disparo e o SGT Paulo estava com a arma em punho.

Enterro

O corpo do soldado Yago Monteiro Fildelis foi velado na tarde ontem na Capela São Francisco, em Santa Maria. Yago será velado, também, no Cemitério do Gama, às 8, desta manhã e o sepultamento está marcado para às 10h. O Sgt. Paulo Pereira de Souza será enterrado no Tocantins, segundo fontes da PMDF.

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