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Brasília

A vida entre livros; a luta dos bibliotecários pela Biblioteca Pública de Brasília

Conheça a história da Biblioteca Pública de Brasília que começa em 1990, antes disso o local era um mercado chamado SAB

Redação Jornal de Brasília

17/03/2022 19h30

Atualizada 18/03/2022 12h10

Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

Fruto da luta de bibliotecários, a Biblioteca Pública de Brasília fez 32 anos em março. No mesmo mês em que é comemorado o dia do bibliotecário. Depois de dois anos fechada pela pandemia, e de receber uma reforma, o espaço está pronto para receber a população de Brasília e do entorno. Em comemoração ao Dia do Bibliotecário, no dia 24 de março vai ser realizada uma oficina de construção de Padlet, no Youtube da Biblioteca.

A história da biblioteca começa em 1990, antes disso o local era um mercado chamado Sociedade de Abastecimento de Brasília. “Era difícil as empresas se instalarem na capital para mercado, e eram poucos os mercados”, conta Sheila Gualberto, gerente da Biblioteca. Por volta de 1980, a SAB fechou e o local ficou vago. “Em 1990 as pessoas sentiram a necessidade de uma biblioteca publica e fizeram um abaixo assinado com mais de 100 mil assinaturas, encabeçado pela bibliotecária Isa Antunes”, relata. Então, com a força de Neusa Dourado, surgiu a primeira biblioteca pública de Brasília, por meio da Secretaria de Cultura.

Sheila conta que o espaço era totalmente diferente do que é hoje. Mas aponta que a fundadora e bibliotecária, Neusa Dourado, realizava muitos eventos no ambiente. “Aqui sempre foi uma biblioteca viva, tinha projetos com crianças em situação de risco, projeto com as Embaixadas, encontros literários, música, e o que a gente está tentando fazer hoje, é continuar o legado da Neusa”, destaca. A antiga gerente da Biblioteca está viva, mas sofre de uma doença autoimune e não pode se locomover, mas de acordo com Sheila, ela sempre está a par de todas as coisas a respeito do local.

Quando tudo começou, Sheila explica que foi Neusa a ir atrás do local, das estantes, dos livros e de todas as coisas necessárias para abrir a biblioteca. “Essa biblioteca já nasceu em atividade comunitária”, afirma Sheila.

Diante da luta para a biblioteca ser instalada, como é um prédio antigo, Sheila comenta que ele tinha muitos problemas, por isso, em 2017 foi feita uma grande reforma, onde foram compradas estantes apropriadas para os livros, e foi feita a repartição do espaço físico da biblioteca, com espaços individuais e de leitura em grupo, e espaço infantil. Sheila entrou para a equipe da Biblioteca em 2019, quando ainda tinha um toldo da construção original, que estava com problemas, então veio a reforma de 2021 para completar a reforma de 2017. Com piso reformado, pintura e um jardim batizado de Jardim da Leitura e Gibiteca, Sheila acredita que a reforma atual deu uma vida para a biblioteca. A reforma também agraciou a troca das janelas que eram as mesmas desde a época do mercado SAB, e ainda, cortinas de vento nas portas.

A Biblioteca foi fundada propositalmente no mesmo dia em que se celebra a profissão dos bibliotecários, e Sheila acredita que como bibliotecária, é seu dever fazer mais pelo espaço. “Foi muita luta para conseguir as coisas, mas a gente tem conseguido muitas vitórias, e faz a diferença ter um gestor a frente do espaço que batalha”, afirma. Ela considera que as bibliotecas públicas ainda têm muito valor hoje em dia, e que nesse período de pandemia as pessoas sentiram muita falta de frequentar esses espaços. “Na pandemia, a gente continuou funcionando através da internet, a pessoa mandava e-mail e a gente procurava o livro pelo sistema da biblioteca”, explica. O sistema usado por eles só funcionava in loco, mas as pessoas mandavam as demandas e eles procuravam o livro para que as pessoas pudessem buscar. “Não podia entrar por conta da pandemia, mas nunca parou de funcionar, e as pessoas queriam vir na biblioteca, ligavam todos os dias, tinham a necessidade de vir aqui”, conta. Então, assim que a reforma terminou em janeiro de 2022, Sheila procurou a secretaria para ver se já podiam voltar a abrir. “E aí conseguimos reabrir dia 21 de janeiro, com as limitações impostas”, adiciona.

Para ela, a biblioteca vem com o intuito de oferecer os serviços tradicionais, e também, de disponibilizar rede para a pessoa usar as tecnologias. A Biblioteca Pública de Brasília conta com um telecentro para as pessoas que não tem um computador em casa.

Ela conta que observou na pandemia, que muitas pessoas não tinham computador em casa. Eles precisavam utilizar o espaço, mas mesmo assim não podiam por conta do momento. Agora, diante do novo decreto da desobrigatoriedade das máscaras, os espaços estão liberados, e segundo Sheila, vai da consciência de cada usuário da biblioteca, mas os servidores continuam com a máscara. “Mas eu lembro que uma menina tinha uma necessidade tão grande de ler na pandemia, que a gente pegava para emprestar os livros de autores como Isabel Allende para ela, e era livro todo mês”.

A Biblioteca recebe de crianças a pessoas idosas de Brasília e do entorno. Sheila conta que não tem necessidade de comprovante de renda. “As vezes, vem morador de rua chega aqui, pedindo para gente imprimir o boleto de concurso, e já teve situação de um morador de rua que dormia em albergue e vinha aqui estudar, e acabou passando num concurso em outra região”, afirma. Ela explica que a biblioteca dá acesso e não cobra comprovante de residência porque as pessoas são excluídas dessa forma.

O espaço fica aberto de segunda a sábado, e disponibiliza de 24 cabines de estudo individuais. Recebe em média 80 pessoas por dia, que buscam livros no acervo que reúne obras de referência, literatura brasileira, universal e infanto-juvenil, gibiteca, material para concursos, textos de escritores brasilienses e periódicos. Para Sheila, a biblioteca está disponível para quem quer estudar para concurso e para quem quer estudar em grupo no Jardim da Leitura. O espaço também está aberto para eventos. Desde 2019, a Biblioteca realiza a roda de choro da biblioteca com músicos da roda de choro de Olhos D’água. O evento mensal foi interrompido durante a pandemia, e o último a ser realizado antes da reabertura foi em fevereiro de 2020. Após a reabertura, Jorge Recife, acompanhado do violonista e músico Luiz Henrique e do percussionista Leandro Pedrosa se apresentaram na Biblioteca, para comemorar o aniversário de 32 anos do espaço, e o Dia do Bibliotecário.

Sheila quer que mais atividades culturais aconteçam na biblioteca, que não pode se restringir a um lugar silencioso de estudo. “É muito comum lá fora, se você pesquisar as bibliotecas colombianas, você vai ver, eles tem de tudo no espaço, até culinária”, salienta. Observando que a estrutura da Biblioteca de Brasília é pequena para realizar certos eventos, ela pretende realizar oficinas no local. Sheila também lembra que a Secretaria tem o Fundo de Apoio a Cultura, e que a população pode submeter seus projetos para utilizar os espaços públicos como a biblioteca. “Estamos aguardando os proponentes”, diz.

Como a estrutura da Biblioteca é menor, atualmente não tem espaço para receber doações de livros, já que é preciso deixar os livros doados em quarentena. Entretanto, Sheila explica que eles passam os livros para o programa Mala do Livro, outro projeto de dona Neusa, que monta as bibliotecas e distribui nas comunidades carentes, com o intuito de suprir a necessidade de biblioteca pública em alguma região não assistida. “A ideia da neusa sempre foi democratizar o acesso à leitura, e muitas pessoas já se formaram pelos livros que tinham acesso com a biblioteca itinerante”, afirma.

Frequentadora da Biblioteca desde os nove anos, a estudante Debora dos Santos Lopes, 19 anos, sonha em se formar em biblioteconomia. “O mundo dos livros é muito importante para mim”, afirma. Ela já leu grande parte do acervo da Biblioteca Pública, e prefere ler ali do que em casa. Debora vem para a biblioteca desde pequena, porque sua mãe trabalhava perto e quando ela saía da escola precisava ficar em algum lugar esperando pela mãe. E assim ela pode explorar todos os cantinhos da biblioteca.

Wanderley Timbó Pereira, 58 anos, frequenta a biblioteca desde quando ela foi fundada, e chegou a frequentar o espaço ainda quando era um mercado. Ele é aposentado, e vem todos os dias ao estabelecimento para estudar, ler, usar o telecentro e pegar livros emprestados. Para ele, nada se compara ao ambiente de uma biblioteca. “Gosto de vir aqui conversar com as pessoas, já fiz muitas amizades e toquei experiências e contatos aqui”, afirma.

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