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Brasília

A quarentena dos músicos: como os artistas contornam a falta de shows e ensaios

Apresentações e encontros on-line estão entre os caminhos para manter o som no ar

Redação Jornal de Brasília

30/03/2020 16h30

João Pedro Rinehart
Jornal de Brasília/Agência UniCEUB

Shows foram cancelados e festivais adiados. As apresentações ficaram, e muitas ainda estão, sem data para retornarem.  A pandemia do coronavírus fez o silêncio. Essa falta de eventos afetou diretamente a vida de todos os artistas, mas em especial aqueles que dependem da renda que provinha de suas apresentações.

Como contornar uma pandemia sendo uma pessoa que vive da arte e ficar em casa ao mesmo tempo? Guilherme de Bem, guitarrista da banda Dona Cislene, diz que, até junho, havia oito eventos confirmados para o conjunto. “A maioria foi adiado, mas tivemos alguns cancelados”. Tom Suassuna, da banda O Tarot, conta que a banda perdeu uma temporada inteira de apresentações nas peças de teatro do diretor Hugo Rodas. “A gente está trabalhando com o Hugo Rodas, também, fazendo música da peça dele. A temporada inteira foi adiada…”

Sem ensaios

Nem a rotina de ensaios das bandas pode continuar. Em adição ao primeiro decreto, que foi prorrogado até o dia 30 desse mês, o comércio precisou ser fechado como um todo, com algumas exceções. Mas o estúdios de ensaio não puderam funcionar. “A gente ensaiava, no mínimo, uma vez por semana. Agora não podemos ensaiar mas estamos compondo e cada um tocando o seu instrumento da sua casa”, afirma Guilherme de Bem.

A banda lançou no final de 2019 o último disco, mas teve a agenda de show fortemente afetada pela pandemia. Crédito: Divulgação

Alternativa

Thales Grilo também é músico, mas se apresenta mais sozinho do que com conjuntos.”Cara, eu estava com poucas apresentações, então fui pouco afetado. Por sorte, uma das minhas performances ia ser por call, de qualquer forma, então aconteceu do mesmo jeito.“ Uma das saídas que os artistas têm utilizado, são as apresentações por streaming ao vivo. Ocorrem em plataformas como o Instagram, Youtube, Twitch. “Tenho tido um retorno bacana – não é muito engajamento, mas rende algumas web interações boas. Outro aspecto bom é conseguir transformar as streams em portfólio”, conta Grilo.

O Tarot, de acordo com Tom Suassuna, violinista do conjunto, “tivemos muita sorte”, pois a banda gravou uma música no final do ano passado e ainda não a lançou. “A ideia seria ter lançado agora no início do ano, mas acabamos optando por não, então demos sorte de ter um single gravado agora numa época que não ta dando pra ninguém se encontrar.” concluí. Já a Dona Cislene possui material de vídeo para divulgar nesse tempo de quarentena. “Antes da pandemia, gravamos 12 vídeos e vamos soltá-los ao decorrer do tempo”.

Público On-line

Mas apenas ter material não garante a renda dessas bandas. “Ganhamos com a venda de nossos produtos e com as plataformas de streaming. Mas com certeza sentimos e ainda vamos sentir muito o baque financeiro”, reflete De Bem. Já os músicos d’O Tarot, sentem que a tática do instagram não tem funcionado bem com eles, mas o conjunto possui um grupo de Whatsapp onde conversam com fãs de vários estados. “Nesse período ta sendo interessante o grupo, é uma forma de contato mais direta com os ouvintes do que o instagram”, afirma Suassuna.

Além das bandas de médio porte, também nasceram iniciativas nesse período para colaborar com a divulgação desses materiais nas redes sociais dos artistas. O Festival De Casa é um desses.  A iniciativa é de Cyro Macedo, músico da cidade. “Vi desespero de alguns por conta do fechamento [de casas de eventos] por causa do Covid-19 e suas precauções. Comecei a imaginar o que poderia fazer pra ajudar”, diz. Macedo comenta que a ideia veio de outros festivais similares que estão ocorrendo em países afetados pela pandemia.

A ideia, inclusive é continuar o projeto após as quarentenas terminarem. “Temos alguns planos para dar continuidade ao projeto, sem perder nosso propósito de fazer descobertas e troca de experiência entre artistas”, cita o organizador do evento on-line. As apresentações são feitas diretamente pelas redes das bandas, mas organizadas e divulgadas pelo instagram do festival, de forma que não ocorra sobreposição de lives e divida o público.

O Tarot mantêm contado semanal pelas telas de seus celulares. A banda também compartilha com o seu público trechos dessas reuniões. Crédito: Divulgação

Manter o contato

Mais importante que fazer dinheiro, é que as bandas continuem trabalhando juntas mesmo com seus integrantes separados. O Tarot continua realizando suas reuniões, mas de forma online. “A gente continua tendo encontros semanais, mas tudo por reuniões online, gravações remotas, cada um grava em casa e depois compartilhamos os arquivos”, conta o violinista do conjunto.

A Dona Cislene também pretende manter o contato, não só entre si e com os fãs, mas com os produtores cujo eventos foram adiados. “A ideia é manter os contatos com os produtores e contratantes para que assim que possível a gente remarcar todos os shows que foram desmarcados.”, conta o guitarrista. “Temos um projeto de clipe de uma música já existente e uma inédita pra lançar logo. Mas ainda sem previsão”, completa.

 

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