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Brasília

À beira dos cem anos, professor dá conselhos para viver e envelhecer bem

Arquivo Geral

24/01/2016 7h30

Ingrid Soares

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Quer viver mais? À beira dos cem anos, o professor Milton Thiago de Melo ensina alguns de seus segredos para a longevidade. Extremamente simpático e bem-humorado, ele conta o que faz para ter tanto ânimo e seguir com seus projetos.  

Em comemoração à data que se aproxima, seu aniversário, o também   escritor lançará mais um livro, chamado Poste de Cozumel – Pau de Fita, sobre a dança folclórica das fitas, tradicional no México e em outras regiões. 

Em plena atividade como presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, continua fazendo palestras, participando de congressos nacionais e internacionais. 

Ele nasceu em 5 de fevereiro de 1916, no Rio de Janeiro, e já desempenhou diversas funções como militar, médico veterinário e professor universitário. Mais de 80 anos de sua vida foram dedicados à veterinária. Suas pesquisas mais importantes foram concentradas nos estudos de brucelose e peste bubônica.

Prêmios

Entre os muitos prêmios recebidos, o professor Milton, como é conhecido, destaca o Prêmio John Gamgee, recebido em 2013 durante o 31º Congresso Mundial de Veterinária, em Praga, na República Tcheca. O prêmio é considerado a máxima honraria na área. Ele também é membro da Associação Mundial de Veterinária, da New York Academy of Sciences e emérito da American Academy of Microbiology.

Em suas viagens, ele também conheceu figuras importantes do Brasil e do mundo, como Juscelino Kubitschek, Luiz Gonzaga, o Papa João Paulo II, o Imperador Akihito e a Rainha Elizabeth, a qual carinhosamente apelidou de Betinha.

Pioneiro do Lago Norte, Milton é casado e pai de quatro filhos, o mais velho tem 52 anos. Hoje, a família está na quarta geração, e ele já possui bisnetos. Ele relata que é uma dádiva participar da formação e do crescimento da família.

A esposa, Ângela Maria de Melo, conta que, quando conheceu Milton, há mais de 50 anos, ele já tinha o espírito vivaz. “Sempre foi assim. Ele não consegue ficar parado, simplesmente desfrutando. Para ele, o trabalho é um estímulo, é o que dá vida a ele. Também admiro sua capacidade de não guardar rancor, ele não é egoísta e gosta de ensinar aos outros o que sabe”, descreve.

Milton e sua esposa: elogios recíprocos

Os elogios de Milton e sua esposa são mútuos. “Ela é quem cuida de mim, da minha saúde. Se não fosse assim, não teria tanto tempo ou tanta disposição. Ás vezes, temos alguns desentendimentos, mas nada que incomode”, revela o professor.

Segundo ele, o interessante é que, mesmo cuidando um do outro, cada um tem os seus próprios interesses. “Esse também é um fator de equilíbrio. Apesar de sermos um só, é importante que não deixemos de lado nossos próprios individualismos”, conta.

Amizade e bebida

Segundo Milton, o primeiro grande segredo da longevidade é ter e manter amigos. Em segundo lugar, tomar uma dose de bebida alcoólica por dia, no caso dele, uísque. Mas ele se explica.

“Veja bem, é apenas uma dose. Não é para se embriagar porque senão o bafômetro e o estômago pegam”, brinca o professor.

Liberto do passado e sem rancor

Para se manter saudável e bem disposto, o professor Milton aconselha estar bem consigo e com os outros. “É importante não ficar preso ao passado. Não guardar rancor ou ódio das pessoas. Se você tem inimigos, briga e é mau caráter, tudo de ruim aparece. As pequenas doenças se desenvolvem para doenças maiores. Mas, se você está bem, consegue cuidar das pequenas. O passado é referência, não reverência.

Sem uso de remédios

O cotidiano de Milton varia de acordo com o que ele tem planejado. Geralmente ele dorme cedo, às 21h. Quando tem muitos afazeres, acorda às 3h. Toma um banho, chá e planeja o que fará no dia. Ás vezes, vira a noite terminando de escrever seus livros e projetos. 

Em relação à saúde, ele conta que, há cinco anos, passou por uma cirurgia no pé devido a uma infecção e realizou um procedimento no estômago. Apesar desses contratempos, ele afirma que não faz uso de medicamentos e utiliza apenas um aparelho auditivo por conta da idade avançada.

Recém-chegado de um congresso na Turquia, ele lembra de um outro evento de que participou em Manaus (AM). “Era um salão imenso, muitas pessoas participando e o microfone ‘pifou’. Falei para aquele monte de gente no gogó e me elogiaram, pois a voz chegou melhor do que se estivesse usando o microfone”, orgulha-se.

Educadores

Sobre o que gostaria de mudar, um de seus principais desejos é no ramo da educação. Ele  tem o sonho de ‘acabar’ com os professores. Mas calma, ele explica: “Não deveriam existir professores, mas, sim, educadores. O modelo atual de ensino é catedrático e deformador. Queria que todos tivessem a oportunidade de transformar informação em aprendizado real, pois é assim que surgem as grandes ideias”, ressalta.

Fazendo um balanço da vida, ele se diz realizado e já possui outro projeto em vista. “No geral, estou lúcido e bem fisicamente. Gostaria de ter mais uma alegria futura. Espero ter tempo de ressurgir meu instituto com alguém, pois quero despertar a curiosidade e o sonho em jovens estudantes”, planeja. 

O Instituto Milton Thiago de Melo já existe e fica no Lago Oeste. Conta com instalações de biblioteca e salas, mas, no momento, está sem funcionários para mantê-la aberta. Quem tiver interesse em natureza, biologia, meio ambiente e animais silvestres podem entrar em contato pelo e-mail miltonthiagodemello @gmail.com.

“O conselho que tenho para dar vale para todas as idades. Deixe a vida te levar, se você souber navegar, vai chegar ao lugar certo. Mantenha seus sonhos vivos e a curiosidade sempre aguçada e obtenha cada vez mais conhecimento, o sucesso é a consequência”, finaliza o professor.

Sem dieta, mas com equilíbrio

Sobre a recomendação de uma dose de bebida alcóolica por dia, o professor Milton alerta que a receita só funciona para aqueles que a seguem desde jovens. “Tem que praticar essa receita desde cedo. Não adianta aprontar de tudo, chegar a uma idade mais avançada e, depois, seguir. O preparo é a longo prazo”, ensina.

Ele garante não ter uma dieta especial e diz que come de tudo um pouco. “Não me privo de nada, adoro comer. Claro que não faço extravagâncias. Vivo como se estivesse com 40 ou 50 anos. Só o que me falta é andar um pouco mais rápido”, completa.

Sem frescura

O café da manhã do professor Milton consta de café, leite e pão. Mas garante que não tem frescura: “Como o que tiver”. Ele não costuma jantar e substitui a ceia por chá ou um copo de leite. 

Para relaxar, Milton costuma beber chá ao som de músicas clássicas e também não faz uso de aparelho celular. “Entendo a necessidade de possuir essa máquina, é muito útil. Mas já vivi tanto tempo sem… Os jovens deveriam utilizar menos e ter mais tempo para apreciar as belezas da vida ao seu redor. Acho que sou um dos últimos dinossauros”, observa.

Serviço

Lançamento do livro Poste de Cozumel – Pau de Fita

Dia: 29 de Janeiro 

Horário:  a partir das 11h

Local:  salões da Churrascaria Potência Grill

Endereço:  Asa Norte. Dentro do Clube Almirante Alexandrino

Saiba mais

A expectativa de vida do brasileiro passou de 74,9 anos em 2013 para 75,2 anos em 2014, conforme último levantamento do IBGE, divulgado em dezembro.

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