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Brasil

Especialistas veem falha estrutural no sistema de energia do Amapá

Ex-presidente da Eletrobrás classificou como “absurdo” o fato de o Estado inteiro estar ligado em uma única subestação. Incêndio danificou equipamentos na noite da terça-feira passada e os problemas têm sido crescentes para a população

Redação Jornal de Brasília

07/11/2020 10h31

O Amapá chegou nesta sexta-feira, 6, ao quarto dia de apagão em 13 dos 16 municípios do Estado. A prefeitura da capital Macapá decretou estado de calamidade pública por 30 dias. A falta de energia ocasionou também o desabastecimento de água porque não há bombeamento para o sistema de distribuição. Há filas em supermercados, os hospitais públicos tiveram as cirurgias eletivas suspensas e o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, prometeu resolver o problema em até dez dias.

O problema começou por causa de um incêndio em uma subestação de energia localizada na zona norte da capital. O diretor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobrás, criticou a falha estrutural do sistema elétrico na região. “É um absurdo o Estado inteiro ligado em uma única subestação. Caiu a energia e todo o Estado praticamente ficou sem energia. A responsabilidade é estadual e também federal, pois o governo também deveria estar supervisionando.”

A geração de energia não foi comprometida neste caso, a falha foi somente na distribuição. “O erro foi estrutural. Macapá deveria ter equipamentos para manutenção, de substituição do transformador que deu problema. Deveria ter pelo menos um reserva funcionando”, acrescentou Pinguelli.

O ministro de Minas e Energia informou que Macapá tem uma subestação com dois transformadores responsáveis pela transmissão de energia, além de um reserva. Dos que funcionam, um pegou fogo e o outro foi parcialmente danificado. O terceiro estava danificado.

“É quase inacreditável ter um transformador reserva inoperante. Estamos apurando ainda tudo o que aconteceu, há quanto tempo existe o problema com esse transformador. Mas é um absurdo o que está acontecendo no Amapá”, comentou Joilson Costa, coordenador da Frente de Nova Política Energética para o Brasil , que reúne 31 organizações sociais, ambientais e acadêmicas.

Roberto Schaeffer, professor de planejamento energético da Coppe/UFRJ, apontou como resolução a criação do sistema de redundância, com a construção de uma outra subestação e a divisão da potência entre elas. Se uma der problema, a outra dará conta de manter a distribuição.

“Isso significa custos maiores, um sistema sobredimensionado. Mas tem que ter outros equipamentos para ajudar também. É o caso do avião, não é por acaso que tem mais de uma turbina. Se uma falhar tem a outra que dará conta de voar relativamente bem. É esse tipo de redundância que estou falando.”

O físico Shigueo Watanabe Jr., pesquisador do ClimaInfo, discorda. “Me soa gastar dinheiro à toa. O que tem que fazer é proteger melhor a subestação. Se um transformador pega fogo e passa para o outro. Tem que deixar um mais distante do outro. Construir uma segunda estação talvez seja exagero.”

Uma subestação, de maneira simplificada, é uma central de transformadores que baixa a tensão para chegar à casa das pessoas em uma potência acessível. “O que está faltando em Macapá é energia em uma tensão compatível. A analogia é simples. Você compra um ar condicionado de 220 volts e sua tomada é de 110 volts. Você precisa de um aparelho para diminuir a tensão. O que não dá para entender é por que esse problema vai demorar dez dias para ser resolvido”, explicou Schaeffer.

O incêndio na subestação de energia ocorreu às 20h47 de terça-feira e levou ao desligamento automático da linha de transmissão Laranjal/Macapá e das usinas hidrelétricas de Coaracy Nunes e Ferreira Gomes, que abastecem a região.

O Ministério de Minas e Energia informou que o restabelecimento das condições de fornecimento de energia começaram na quinta-feira, com a recomposição parcial da carga da usina de Coaracy Nunes. Segundo Albuquerque, o Amapá, que tem carga média de 250MW, está sendo atendido por apenas 40KW de geração pela usina hidrelétrica de Coaracy.

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

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