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Como o autista se comunica com o mundo

No Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que há cerca de 2 milhões de autistas

Luana Tachiki

29/08/2023 14h37

Foto: Freepik

Pessoas com transtorno do espectro autista têm formas peculiares de se comunicar com o mundo. Mas como o autismo ainda é objeto de descobertas científicas, sabe-se pouco sobre esse transtorno que se torna cada vez mais recente na sociedade mundial. Além de ser uma síndrome complexa, ele é mais comum em crianças que HIV, câncer e diabetes juntos. E atualmente, a estatística mais confiável sobre a evolução dessa síndrome no mundo é a do Center of Deseases Control and Prevention (CDC), órgão do governo dos Estados Unidos que aponta que, no país, existe um garoto com autismo a cada 110 pessoas.

No mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), acredita-se haver mais de 70 milhões de pessoas com autismo. Já no Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que há cerca de 2 milhões de autistas, o que significa cerca de 10% da população, visto que somos cerca de 200 milhões de habitantes.

Analisando o gráfico a seguir, podemos identificar um acréscimo considerável do transtorno do espectro autista nas últimas duas décadas, o que nos remete a executar um reforço de conscientização social para entendermos melhor como essas pessoas se expressam e se comunicam.

Uma das maiores manifestações em comum com pessoas do espectro autista é a dificuldade em se expressar. Para os autistas, o grande desafio está na expressividade corporal e facial, nos gestos, na conexão ocular e numa fala metafórica. Não são todos, mas a grande maioria de quem possui o TEA tem tais limitações na comunicação não verbal. E é por isso que quem não possui a síndrome deve se esforçar para entender como eles se expressam e se comunicam, pois, autistas, em grande parte, desenvolvem uma vida social normal, convivendo com todos tranquilamente, apresentando apenas uma comunicação diferenciada.

As crianças com transtorno do espectro autista enfrentam grandes desafios para desenvolver a fala. Elas podem demorar para desenvolvê-la nos primeiros anos de vida ou, simplesmente, não conseguir falar e/ou compreender a linguagem falada. Os pequenos com o TEA comunicam-se normalmente, mas exibem alterações na prosódia, por exemplo, que está relacionada às diferenças no ritmo da fala, no tom de voz e na entonação dada a cada palavra. Outros encontram outras maneiras de se comunicarem com ajuda da tecnologia, escrevendo e desenhando, por exemplo. Alguns problemas de linguagem também podem existir, como confundir artigo feminino com o masculino, inverter pronomes usando a terceira pessoa para se referir a elas mesmas ou não dominar completamente a utilização de metáforas, interpretando certas expressões no sentido literal ao invés do conotativo, como: “Fácil pra chuchu”; “Essa mulher é um anjo”; “Matando um leão por dia”…

As crianças autistas podem pronunciar as palavras perfeitamente, mas têm dificuldades de construir frases complexas, pois se comunicam de forma simplificada e restritiva com sentenças curtas. Como, por exemplo, o Davi Lucca, de 7 anos. Ele desenvolve uma boa dicção, traz a pronúncia correta das palavras, mas não consegue se aprofundar na dinâmica de conversação como seus colegas da mesma idade. Suas frases são, muitas vezes, bastante simplificadas, colocadas na terceira pessoa e com confusão de alguns pronomes. Ele costuma falar coisas como “Vou pra casa da sua mãe”, quando, na verdade, se refere a ir à casa da mãe dele; ou “Eu vi o Dalila lá fora”, referindo-se a uma gata que é fêmea.

Davi Lucca, 7 anos. Foto: arquivo pessoal

Além disso, os jovens com TEA podem ter comportamentos repetitivos e estereotipados, que podem ser uma via ou tentativa de comunicação. Acessos de raiva e agressividade podem ser a maneira da criança tentar dizer que precisa de algo, que não está feliz ou que está confusa e assustada. Por isso, vale buscar entender o porquê de ela estar agitada e insatisfeita — são grandes as chances de ela querer que você compreenda o que ela quer dizer.

Caso no seu ciclo social você tenha contato com pessoas do espectro autista, é importante tentar compreender o universo deles, incluindo a forma deles se comunicarem. Eles são extraordinários, mesmo com a forma em que se comunicam sendo peculiar com relação aos demais. Geralmente, eles são extremamente inteligentes e super-focados! Para ser assertivo com eles, o ideal é escolher uma linguagem objetiva, clara, denotativa e sem sentido literário. Veja dicas:

  • Exagerar na modulação vocal, com entonações bem aplicadas, vai ajudá-los na compreensão. “Essa água está muuuito quente!” é um exemplo;
  • Escolha perguntas fechadas, objetivas, como: “Você gosta de pão de queijo?” ao invés de “você gosta mais de pão de queijo, misto quente, cachorro-quente ou pizza?”. Facilite a comunicação com alternativas mais simples;
  • Dê o tempo necessário para responderem às perguntas. Às vezes, eles vão demorar um pouco mais para responderem, e está tudo bem;
  • Estimule o contato visual, que é parte fundamental da comunicação não verbal. Isso ajuda em outras formas de comunicação, como notar as expressões faciais de outra pessoa e levar a emoção em consideração na hora de comunicar. Eles têm dificuldade em manter conexão visual.

Tais cuidados simples podem alavancar a comunicação entre pessoas que possuem ou não o TEA. Como dito anteriormente, são pessoas incríveis, muitas vezes com o quoeficiente de inteligência (QI) elevado, chegando à genialidade matemática e tecnológica. Se tornam especiais por se comunicarem de maneira distinta da maioria.

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