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Quinto Ato
Quinto Ato

Precisamos ler os Clássicos

É do quanto a especialização está matando o humanismo que o Renascimento nos legou. Falar de humanismo é até mesmo um exagero

Theófilo Silva

15/06/2023 12h18

Foto: AFP

Infelizmente, não sabemos se Shakespeare foi um homem que viajou muito. Mas a Itália, com certeza é um país que ele deve ter conhecido, tantas são as peças de sua autoria cujo enredo ocorrem lá. Essa paixão se deve ao esplendor artístico das cidades italianas durante o período do Renascimento. Em verdade, a Itália sempre fascinou escritores e músicos, os artistas em geral, de Goethe a Freud (o escritor), de Mozart a Beethoven.

Shakespeare viveu o fim do Renascimento, movimento que durou em torno de três séculos. O mundo dos humanistas, homens de vastíssima cultura. O Renascimento europeu inicia-se no fim do século XIII e vai até as portas do século XVII. A Itália foi o berço e o principal recanto de prosperidade desse ressurgir cultural que mudou para melhor a história do ocidente e do mundo inteiro.

Lembro o Renascimento – o retorno ao ideal greco-romano – para tocar num assunto que muito me incomoda. É do quanto a especialização está matando o humanismo que o Renascimento nos legou. Falar de humanismo é até mesmo um exagero, digamos que um pouco de informação sobre o passado e sobre o mundo que nos cerca. E isso no mundo dos algoritmos, aonde a quantidade de informações é galáctica.

Ler um bom livro de ficção, hoje, é uma tarefa hercúlea para médicos, advogados, engenheiros, professores, juízes etc. Todo pequeno ou grande profissional só conhece a matéria em que trabalha. Mesmo aqueles que pertencem à área de ciências humanas – Direito, Sociologia, História, Comunicação, Economia, que precisam escrever todos os dias – não conseguem opinar sobre nada que não pertença ao seu universo de estudo. Encontrar alguém com uma cultura diversificada, humanística, é como encontrar um diamante na calçada!

Os livros mais lidos são pouco mais que caça-níqueis, não passam de temas repetidos à exaustão. Mesmo assim, são apresentados como grandes novidades. As editoras precisam faturar, lucrar. Daí “empurram” livros que dão calafrios no leitor mais exigente. Esses livros ou ‘mercadorias’ não ajudam ninguém a pensar. Qualquer porcaria se torna um “best seller”.

Algumas vezes fico calado em rodas de conversa – algo torturante para mim, pois adoro conversar – tal é a quantidade de bobagens ditas por pessoas de formação educacional muito para lá de “nível superior” em suas opiniões sobre questões mais profundas. A conversa chega, às vezes, a ser tão despropositada que você passa por idiota, pelo simples fato de o mundo dessas pessoas girar em torno de suas profissões, do que veem nas redes sociais, ou do que colhem na Internet. Suas opiniões são centradas em um único conteúdo. Não há uma visão do todo. Sei que estou sendo muito duro. Mas, não estou pedindo a ninguém para citar autores clássicos em mesa de bar. Mas é que Victor Hugo, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Thomas Mann, Cervantes, Umberto Eco, Tolstói, Shakespeare e muitos e muitos outros autores clássicos é imprescindível.

O que nos estarrece é ver bobagens esotéricas, autoajuda e pequenos dramas de natureza pessoal tratados como Literatura. Como é que pessoas pós-graduadas em universidades leem essas coisas? O escritor peruano Mário Vargas Llosa, numa entrevista, aqui no Brasil, chamou essas pessoas muito “educadas”, bem empregadas e alheias ao mundo – que só conhecem o seu métier – de “analfabetos funcionais”.

Gostaria de dizer que essa declaração é um exagero, mas, infelizmente, não é. Já Goethe não perdoa, e diz que “Quem de cinco séculos não é capaz de dar conta, não merece estar por aqui”.

Leiam os Clássicos!

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