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Quinto Ato
Quinto Ato

Pobres tempos corruptos

Por que uma nação gigantesca, “abençoada por Deus”, cheia de rios, com um clima e uma terra excelentes sob qualquer ponto de vista, não consegue diminuir, minorar, melhorar a vida de uma enorme parte de seus cidadãos, que vivem em um clima de terra desolada, hostil, pobre e violenta?

Theófilo Silva

13/10/2022 11h44

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Não há nada mais frustrante, deprimente, desolador e vergonhoso do que a inação, a indolência, a preguiça e o descaso, esses poderosos combustíveis geradores de pobreza e mediocridade. A bíblia pôs a preguiça entre os sete pecados capitais ao lado da luxúria, ira, gula, soberba, inveja e avareza. Convivendo em sociedade, enfrentamos ambientes em que o desleixo, a indolência, a ociosidade e, principalmente, a indiferença predominam – dão o “tom da música” –, sentimo-nos desolados e entristecidos diante da ausência do espírito que deveria impregnar todo ser humano: a vontade de criar, trabalhar, fazer, escrever, produzir, exaltar, mover as coisas e as pessoas. Se o homem é produto do meio em que vive, e isso é certeza, estar entre homens e mulheres indiferentes, mentirosos, indolentes é fazer parte de um círculo em que Dante Alighieri condenaria ao inferno!

Sabemos que o brasileiro é um povo desprovido de espírito comunitário e, principalmente, de espírito público, o caráter que rege a maioria dos povos que compõem as nações mais prósperas do mundo, que tiraram seus cidadãos da miséria e da pobreza e os tornaram homens prósperos e orgulhosos de sua comunidade e de suas famílias. Quando observamos que a maioria dos nossos homens públicos –, seja o mais modesto vereador, até o presidente da República, vemos, com enorme tristeza, a falta de interesse da maioria desses agentes públicos em resolver os problemas da comunidade, estado, cidade em que vivem. Em quase todas as situações, vigora o interesse individual. Ou seja, a vontade de enriquecer, se locupletar, se apropriando dos bens e do dinheiro dos impostos que deveriam servir àquela coletividade.

Creiam-me, esse é o maior problema do Brasil: a falta de espírito público, de senso de coletividade. E Isso agora está mais forte do que nunca. Ampliou-se terrivelmente. Quando olhamos o que anglo-saxões, coreanos, japoneses, escandinavos e agora chineses, embora tenham cometido erros colossais no passado, alcançaram em suas nações, em benefício de seu povo, tirando-os da pobreza, enriquecendo-os em todos os aspectos da vida social, nós nos envergonhamos de ser brasileiros. Repetimos e sabemos, e o resto do mundo nos relembra todos os dias: por que uma nação gigantesca, “abençoada por Deus”, cheia de rios, com um clima e uma terra excelentes sob qualquer ponto de vista, não consegue diminuir, minorar, melhorar a vida de uma enorme parte de seus cidadãos, que vivem em um clima de terra desolada, hostil, pobre e violenta? Por que o Brasil não consegue resolver o problema da pobreza, sendo o país mais rico em recursos naturais do planeta, recursos que os japoneses, o povo mais desenvolvido do mundo, nunca teve? Por quê? Simples, muito simples: falta espírito comunitário ao povo brasileiro, falta espírito público aos homens públicos brasileiros!

A preguiça, a indolência, a mentira, a indiferença são males contagiosos que contaminam e destroem o que está a seu redor, gerando uma espécie de peste, semelhante a peste do livro homônimo de Albert Camus. Camus se referia ao doloroso período em que ele viveu, o da Segunda Guerra Mundial, em que se respirava apenas destruição. Mas estou me referindo aqui a um período até pacífico, mesmo com a guerra do tirano russo e a pandemia. Estamos cercados de indolentes, de gente preguiçosa, perversa e mentirosa. O primeiro turno dessas eleições elegeu um grupo de políticos que vão dar prosseguimento a esse estado de coisas.

Michel de Montaigne escreveu em seus ensaios: “Desempenhai bem e corretamente o papel de homem; onde não houver homens, procurai comportar-vos como um”. Vivendo nesse ambiente pérfido, é preciso comportar-se como homem honrado e ganhar a vida honestamente, procurando ajudar nossos semelhantes, fugindo dessas “almas tímidas e frias”, que nos rodeiam! Por isso digo e repito a todos a sentença de Shakespeare: “Esses pobres tempos corruptos precisam de amparo”. A eleição presidencial está aí, e essa é uma oportunidade de mudarmos isso. O governo atual só tem piorado esses cenários! Fora com ele!

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