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Quinto Ato
Quinto Ato

Diário da Peste: Londres, 1665

Theófilo Silva

14/07/2021 16h08

Diário da Peste: Londres, 1665

Coube a Daniel Defoe, mais conhecido por nós, brasileiros, por sua obra Robinson Crusoé, fazer um dos mais completos relatos de um surto de peste, entre os muitos que assolaram o mundo, em particular na Europa, nos séculos passados. Defoe é um dos pioneiros do jornalismo na Inglaterra. Falo do livro Um Diário do ano da Peste, escrito em 1720, sobre a epidemia de peste bubônica que ocorreu na cidade de Londres no ano de 1665, matando algo em torno de 100 mil pessoas, ou seja, um quinto da população da cidade. Vejam a agonia, a dor, o desespero e a pronta reação do governo ao ‘castigo divino’, segundo eles!

Assim, fala Defoe: “Um homem gritava: ‘Daqui a quarenta dias Londres será destruída’, ‘Outro corria quase nu, berrando ‘Desgraça para Jerusalém’, ‘Salvai-nos, Bom Deus! Salvai vosso povo, a quem redimistes com Vosso mais precioso sangue’. “Estas coisas aterrorizaram o povo ao extremo, pincipalmente depois que passaram a ver os primeiros mortos pela peste”. “Assim a aparência de Londres ficou estranhamente alterada: refiro-me a toda a massa de prédios, a City, embora o centro ou dentro das muralhas, ainda não estivesse contaminada”.

Segundo Defoe, o governo começa a agir e emite o seguinte decreto: “Juízes de paz, prefeitos, intendentes e outros altos funcionários estão autorizados a nomear inspetores, investigadores, vigilantes, zeladores e coveiros para lugares onde hajam pessoas contaminadas, com poderes para forçá-los a desempenhar suas funções presentes. Agora depois de muita ponderação, pensou-se no mesmo expediente para prevenir e evitar uma epidemia da enfermidade (se esta for a vontade de Deus todo-poderoso) com o cumprimento destas ordens”.

E continua: “No início da peste, quando não havia mais esperança e a cidade toda seria contaminada; todos os que tinham amigos ou propriedades no interior se refugiaram com suas famílias… ‘Isolamento dos doentes: assim que qualquer homem for identificado pelo médico ou inspetor como portador de peste, ele deve ser isolado na mesma noite e na mesma casa… Todo o comércio, exceto o relativo a subsistência imediata fica completamente parado… Assim vários agrupamentos ou classe de pessoas ficaram imediatamente na miséria nestas circunstâncias”… Como a navegação estava paralisada, nossos navios não iam e vinham como antes e os marinheiros ficaram desempregados, muitos deles no último e mais alto degrau da miséria”.

E ainda: “Que a embriaguez desordeira em tabernas, cervejarias, cafeterias e adegas seja vigiada como um pecado público destes tempos e grande fonte de disseminação da peste. Nenhuma pessoa ou grupo deve permanecer ou entrar para beber numa taberna, cafeteria ou cervejaria depois das nove da noite, sob penalidades por ela estipuladas. ‘Não nego que se cometeram muitos roubos e atos perversos naquele tempo terrível. A ganância era tão poderosa sobre alguns, que se expunham a qualquer riso para roubar e saquear… a quantidade de ladrões era enorme em todas as ocasiões, onde quer que encontrassem uma vítima”.

E por fim: “O último boletim foi realmente assustador, sendo o de mais alto número de enterros por semanas… Tudo isso, porém, passou novamente e, com o clima ficando frio, os registros de óbitos voltaram a cair. Todo mundo passou a achar que estava fora de perigo… Só que em Saint Gilles, o número de mortes continuava a aumentar”.

A narrativa de Defoe comporta 276 páginas de muita dor, sofrimento, miséria… e a redenção final. Por que eu trago essa horrorosa narrativa? Simplesmente para mostrar o quanto o governo brasileiro negligenciou a pandemia, pois, se trezentos anos atrás, quando não havia microscópios ou vacinas, o governo inglês, auxiliado pelos médicos, sabia que as medidas para evitar a disseminação do vírus eram o Isolamento e a não circulação de pessoas, pergunto: por que o governo federal um gigantesco número de pessoas não aceitam isso? Por quê? Não aceitam por ignorância. Porque, como diz Shakespeare, em Rei Lear “A ignorância é a maldição de Deus; o conhecimento é a Asa que voamos para o céu”.

Chega de ignorância e negação! Basta!

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