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Quinto Ato
Quinto Ato

A atualidade de Maquiavel

Meus escritos têm um único fim: alertar as pessoas sobre o grande dilema que a humanidade enfrenta entre realidade e aparência

Theófilo Silva

25/05/2023 5h00

Atualizada 24/05/2023 17h28

View at Niccolo Machiavelli statue in Florence Italy

Cícero achava, assim como seus contemporâneos romanos, que “quem pensa que pode conquistar glória duradoura pela simulação está muito enganado”, e que “todas as simulações logo caem por terra como flores frágeis”. Maquiavel, 15 séculos depois, viria a discordar dele, dizendo que os homens, em sua maioria, são simplórios e propensos a se iludir, aceitando as coisas tais como se apresentam, sem críticas, julgando apenas pelas aparências. Ou seja, que “todos podem ver o que aparenta ser” e “poucos veem o que realmente é”. Assim, “um hábil dissimulador sempre encontrará muitas pessoas que se deixam iludir”. Com essas afirmações, aparentemente simples, em seu livro “O Príncipe”, o mal afamado florentino criou a Ciência Política.

O mundo está cheio de farsantes, e nenhuma seara é mais propensa à existência desses indivíduos dissimulados do que a arena política, dos homens públicos, em particular, os detentores de mandato, que perseguem alcançar os degraus da escada do poder até o topo. Para isso, boa parte deles faz da mentira sua grande aliada diária.

No tempo de Cícero, século I A.C, e Maquiavel, século XVI, era mais fácil os cidadãos terem uma visão melhor de seus príncipes, já que havia contato pessoal nos eventos públicos, comuns entre os governantes mais acessíveis. Nos dias de hoje, o contato se dá apenas no período eleitoral. No resto dos anos, toda a visão é formada a distância, por intermédio dos veículos de comunicação e redes sociais, com imagens maquiadas milimetricamente pelos marqueteiros.

Ainda no mesmo século de Maquiavel, Shakespeare concorda com o ilustre florentino, desnudando toda a comédia humana com seus mais de mil e trezentos personagens. Em obras como Hamlet, Rei Lear, Macbeth, Antônio e Cleópatra e outras, o bardo desnuda a alma dos governantes, deixando-as nuas e expostas ao sol. Quando Othelo, traído pelo falso Iago, diz que “os homens deveriam ser o que parecem” ele estava repercutindo Maquiavel.

O que transformou Niccolo Machiavelli em Maquiavel, detentor do substantivo Maquiavelismo e do adjetivo “maquiavélico”, sinônimas de maldade, foi seu ateísmo e desprezo pelo cristianismo. Muito embora ele achasse a religião importantíssima para organização da sociedade, sua falta de fé em um período em que todos acreditavam em Deus – principalmente os príncipes – e eram católicos, contribuiu muito para que suas completamente lúcidas ideias acerca dos homens públicos e da política o tenham transformado num perverso aos olhos dos que o leram em seguida.

E assim, esse homem, que enxergou demais, teve sua imagem completamente deturpada, sendo visto por todos como um malvado. Sua reputação entre as pessoas comuns, na sociedade em geral, é a de um pervertido que só vê o lado ruim do ser humano. Somente os estudiosos são capazes de enxergá-lo como uma espécie de vidente. Muito embora ainda haja uma parcela, não desprezível, que o agrida.

A humanidade tem uma dívida enorme com Nicollo Machiavelli, esse cidadão da fulgurante Florença, contemporâneo de Leonardo da Vinci e Michelangelo Buonarotti – em nenhuma época do mundo uma cidade pariu e teve três gênios de tão grande envergadura trabalhando tão perto um do outro. Se uma parcela mínima da sociedade conhecesse as análises que Maquiavel fez sobre o exercício da política, tenho a certeza que teríamos homens públicos muito melhores do que temos tido.

E uma nação que tem homens públicos probos e trabalhadores tem uma sociedade mais justa. E assim, a escória corrupta e hipócrita de imagem forjada em cima da mentira e da farsa, em aliança com a imprensa, redes sociais e instituições coniventes, é forte e atuante, alimentada pelos inocentes que não conseguem enxergar os tratantes. Esses perversos trabalham criando factoides o tempo todo. Mas, muitos “caem por terra como folhas frágeis”, como disse o grande Cícero, como aconteceu recentemente no Brasil!

Eu diria para os leitores que meus escritos têm um único fim: alertar as pessoas sobre o grande dilema que a humanidade enfrenta entre realidade e aparência. Portanto, tomem cuidado com aqueles que se apresentam como vestais! Eles são falsos!

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