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Quinto Ato
Quinto Ato

A Amizade e os tempos de peste

“Nesse momento de exceção, de dor, de partida, amigos são os que estão contigo agora, que te ligam, te procuram e interagem de perto ou à distância. São esses que importam. Os que ficarão. Amizade requer coragem. Os que nada dizem não voltarão, não são amigos! Fora com eles”!

Theófilo Silva

20/08/2020 10h36

Amizade

Amizade

Diz o filósofo grego Epicuro que “De todas as coisas que nos oferece a sabedoria para a felicidade de toda a vida, a maior é a aquisição da amizade”. Seu próprio nome em grego, “Epikouros”, significa “aliado”, “camarada”. Epicuro defendia o ascetismo, serenidade e doçura como forma de vida e dizia que o Bem reside no prazer da sabedoria, na tranquilidade da mente e no domínio sobre as emoções que levariam ao equilíbrio sobre si mesmo! Shakespeare não concorda totalmente com o doce Epicuro, porque ele sabia que o ser humano não era tão doce assim. Embora muitos de nós tentemos sê-lo.

Em Tímon de Atenas, Shakespeare pergunta pela boca do filósofo Apemanto “Qual o homem que morre sem levar para o túmulo a marca de um pontapé dado por um amigo?” Com certeza, nenhum. Todos nós já levamos, e ainda levaremos chutes de amigos. É inevitável! Mas não é por causa de dois ou três ingratos que vamos deixar de construir relações, de fazer amigos e de desfrutar do prazer da amizade. Como seria a vida sem os amigos? O medo de traição não pode nos impedir de construir amizades e nos isolarmos como feras. A vida fecha e abre portas o tempo todo.

A amizade nasce na infância e se perpetua, mesmo a distância e por toda a vida. No meio de toda aquela garotada que encontramos em praias e parques, surgirão alguns com quem nos identificamos e passamos a andar juntos, compartilhando coisas e chamando de amigo. Não há nada tão bonito do que ver crianças brincando, jogando bola, nadando, cantando, ralhando, brigando, compartilhando e crescendo juntos. De repente, mudamos de casa, de escola e conhecemos outras pessoas, e surgem novas relações. Aí vem a Universidade, o trabalho e passamos a reencontrar aqueles que não víamos há algum tempo e novas amizades são construídas. Aí vamos compartilhar experiências, vitórias, desilusões, conquistas, sonhos.

Amigos são pessoas que queremos encontrar, abraçar, sentar para tomar uma cerveja, um vinho, bater um papo, ouvir música, ir ao cinema, assistir a um show, concerto, viajar juntos. Esses são os prazeres da amizade. Existem “Amigos que vêm e vão”, ou seja, saem de cena, seja por casamento, mudança de cidade, país. O distanciamento ocorre quase sempre. Diria que poucas coisas na vida provocam mais satisfação do que reencontrar um amigo que não víamos há muito tempo. Reencontrar um amigo de infância, ou mesmo dos tempos de estudante, que não víamos há muitos anos e sentar para conversar e relembrar o passado, falar do presente é um dos maiores prazeres que a vida nos reserva. Uma verdadeira celebração da vida. Ouvir música é recordar amigos, pessoas que amamos. Os amigos são um complemento da família, eles aliviam as dores do mundo, são um forte componente da vida social, sem eles não seríamos seres gregários. E eles são de todos os tipos: calados, engraçados, espirituosos, otimistas, gordos, baixos, altos. O que a gente quer é conversar, discutir o mistério das coisas e dar boas gargalhadas. Amigos nos afastam da praga da solidão. A solidão precisa estar cercada pela amizade, e pela família, são elas que nos amparam e nos unem.

E chega, muitas vezes, uma hora em que precisamos dos amigos. Daquele amigo que oferece o ombro pra te ouvir e te ajudar a superar um momento difícil. Defino como amigo aquele que tem coragem de ir à luta com você. De um amigo que, no dizer de Hemingway: “Está na trincheira contigo” para o que der e vier. Um amigo leal. Não há nada mais necessário à amizade do que a lealdade. Lealdade é o sustentáculo da amizade. Ter milhares, milhões de amigos só mesmo nas redes sociais. Amigos mesmos, contamos nos dedos.

Nesse momento de exceção, de dor, de partida, amigos são os que estão contigo agora, que te ligam, te procuram e interagem de perto ou à distância. São esses que importam. Os que ficarão. Amizade requer coragem. Os que nada dizem não voltarão, não são amigos! Fora com eles! Em Hamlet, Shakespeare diz com toda convicção que “Os amigos que tiveres, e cuja adoção pusestes à prova, amarra-os ao teu coração com arcos de aço”. Façamos isso, amarremos os nossos verdadeiros amigos aos nossos corações!

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