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Paulo Gustavo: Adeus, Gênio!

Pragmática Psicoterapia e Cursos

07/05/2021 11h34

Paulo Gustavo

Paulo Gustavo

Por
Dr. Carlos Augusto de Medeiros

Perdemos mais um gênio! Gênios não são apenas intelectuais, como Stephen Hawkins, como também, pessoas que atingem certos graus de excelência e originalidade em suas atuações, que as diferenciam das demais. Esse é o caso de Paulo Gustavo. Um gênio da comédia e do entretenimento. Me desculpe a família e o próprio comediante se utilizo a sua trágica morte para trazer reflexões acerca do que estamos vivendo.

Desnecessária é a primeira palavra que vem à cabeça quando penso em sua partida. Não acho correto, filosoficamente, atribuir a causa da morte de Paulo Gustavo ao presidente da República, uma vez que entendo causa como conjunto de condições necessárias e suficientes para a ocorrência de um evento. Sem dúvidas, não foi esse o caso. Todavia, a política de enfrentamento à Covid promovida pelo governo federal contribuiu sobremaneira para que, até dois dias atrás, tivéssemos os 14,9 milhões de casos de Covid no Brasil e o falecimento de Paulo Gustavo, junto com mais de 414 mil brasileiro(a)s.

Mas não foram só o governo federal, o poder executivo estadual e municipal os responsáveis pelo atual estado da pandemia no Brasil. Nós, cidadãos e cidadãs, temos uma grande parcela dessa conta. Nós fomos para bares, restaurantes, festas, churrascos e shows, ou seja, eventos, clandestinos ou não. Aglomeramos e o fizemos sem máscaras ou sem a devida higienização das mãos. Visitamos parentes idosos ou com comorbidades sem os cuidados necessários. Não nos preocupamos em cobrir o nariz com a máscara. Negamos aquelas informações que contrariam a nossa conveniência. Propagamos informações duvidosas ou claramente falaciosas só porque embasavam o nosso ponto de vista. Somos sim, um pouco responsáveis pelo falecimento de Paulo Gustavo e dos demais 414 mil brasileiro(a)s.

Fomos impulsivos, irresponsáveis e imediatistas. Enfim, fomos humanos. Sim, o ser humano é um animal como outro qualquer e também é regido por seus impulsos. Tendemos a preferir as recompensas imediatas, ainda que menos valiosas, do que aguardar pela recompensa maior (torramos o nosso ordenado ao invés de economizarmos para momentos como esse, por exemplo). Também preferimos adiar o contato com o desagradável, mesmo que, em longo prazo, possamos ter de lidar com eventos muito mais desagradáveis (evitar usar a máscara desconfortável mesmo correndo o risco de ficarmos doentes e termos de usar respiradores muito mais desconfortáveis, por exemplo).

No início da pandemia, acabamos, sem nos preocuparmos com o próximo, com os estoques de álcool 70, luvas de borracha, desinfetantes e máscaras descartáveis. Após alguns meses, parece que esquecemos da pandemia e deixamos tais produtos de lado. Fizemos questão de termos o nosso culto ou missa presenciais, esquecendo que a onipresença de Deus significa justamente que ele está em todo lugar.

“Mas temos que salvar a economia”. Verdade. Muitas pessoas não tinham a opção de ficar em casa. Então, que ficássemos em casa por elas. Ficássemos em casa por nossos pais, por nossos amigos, pelos idosos, pelas grávidas, pelo próximo. Me pergunto onde anda o “amai o próximo como amas a si mesmo”. Me pergunto que visão é essa de um Deus que exige que os fiéis vão aos templos pondo em risco a si mesmos e aos seus irmãos. Que Deus é esse que castiga sem clemência mulheres que interrompem a gravidez, mas que executa, sem piedade, indivíduos que infringiram a lei. Afinal, “bandido bom é bandido morto”. Só se foi o bandido que roubou o som ou as rodas do seu carro. Mas o bandido que agride e mata pessoas meramente pela sua orientação sexual não merece castigo.

Li, muito triste, manifestações de alguns evangélicos comemorando o adoecimento e desejando a morte de Paulo Gustavo por sua orientação sexual. Que Deus é esse que essas pessoas cultuam. Certamente, não foi o que eu conheci nos meus tempos de catequese. Felizmente, nem todos os evangélicos e demais cristãos pensam assim. Lembro-me dos evangelhos das missas que eu frequentava que Jesus interrompeu o apedrejamento de uma prostituta e recriminou, incontáveis vezes, os fariseus. Para quem não sabe ou não se lembra, os fariseus pecavam pelo orgulho de seguirem a liturgia da fé e, porém, olhavam com desdém aqueles que se desviavam. Mesmo na condição de agnóstico, vejo Deus (independentemente de como o chamemos) como um pai carinhoso, acolhedor e misericordioso. Na minha humilde opinião, é para esse Deus que devemos orar, pois parece que, a essa altura do campeonato, só Ele pode nos salvar.

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