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Consegui o que queria e agora perdeu a graça! Afinal, o que aconteceu com a Arthur e Carla no BBB21?

Novamente uso o BBB 21 como contexto para abordar um aspecto muito comum do dia a dia: a perda do interesse em algo ou alguém que conquistamos

Pragmática Psicoterapia e Cursos

11/03/2021 15h03

Consegui o queria e agora perdeu a graça! Afinal, o que aconteceu com a Arthur e Carla no BBB21?

BBB21: Carla e Arthur. Foto: Reprodução/Globoplay

Hoje vi um meme nas redes sociais sugerindo que o comportamento de Arthur ao se afastar de Carla e manter o vínculo com seu amigo Projota ilustraria a cultura heterossexual masculina, segundo a qual, homens gostam de homens para a troca afetiva e usam as mulheres como objeto sexual. Tal explicação, ao meu ver trata a troca afetiva entre homens como algo depreciativo, como se heterossexuais típicos se tornassem ou perdessem o valor como pessoas ao fazê-lo. O problema, certamente, não é troca afetiva entre pessoas do mesmo sexo, e sim, a objetificação da outra pessoa.

Todavia, não apenas homens heterossexuais fazem isso, como mulheres também, independentemente da sua orientação sexual.

Uma das razões que leva as pessoas a tratarem as outras como objeto também decorre de aspectos culturais. Vivemos em uma cultura na qual o nosso valor como pessoa é determinado pelas nossas realizações. De modo bem simples, se somos bem sucedidos na nossa vida amorosa, profissional, acadêmica e esportiva, temos um alto valor pessoal. Caso contrário, valemos pouco para os outros e, consequentemente, para nós mesmos. Daí decorre a noção de baixa autoestima.

Somado a isso, um parâmetro usual de sucesso ou fracasso é o desempenho dos outros. Somos comparados e, consequentemente, nos comparamos o tempo todo com as outras pessoas. O fazemos para saber como estamos nos saindo e tomamos tais comparações como parâmetros do nosso valor pessoal. Todavia, essas comparações são inevitavelmente injustas na medida em que a linha de largada começa em pontos diferentes para cada pessoa. Afinal, o que conquistamos depende de infindáveis fatores que não controlamos, como as oportunidades que recebemos ao longo da vida, por exemplo.

As conquistas possuem uma gigantesca capacidade de nos motivar. Em boa parte das vezes, não pelo que foi conquistado, mas pelo fato de conquistar em si. Medalhas e troféus têm pouca utilidade prática, sendo o seu valor, exclusivamente simbólico. Elas simbolizam conquistas e, em decorrência disso, o nosso valor como pessoas. O mesmo pode acontecer com a aprovação em um vestibular disputado, uma promoção para um cargo de chefia, a aprovação em concurso público difícil ou a conquista de uma pessoa que muito(a)s desejam.

Quando a conquista é pela conquista, podemos nos ver estudando em um curso que não gostamos; exercendo um cargo gerencial quando preferimos funções técnicas; trabalhando em um emprego público com alto reconhecimento e remuneração, cujas tarefas são chatas; e, por fim, vivendo um relacionamento com uma pessoa da qual não gostamos de fato.

A minha hipótese, no caso do Arthur, que já se descreveu inúmeras vezes como alguém competitivo, é a de que conquistar uma bela atriz global representa uma grande vitória que vira um troféu em sua prateleira. Uma bela taça de se olhar, mas que, todavia, na hora de tomar um achocolatado, não é melhor que um copo de requeijão. Sim, ao meu ver, Carla foi tratada como um objeto. Não necessariamente um objeto sexual, mas um objeto que atribui ao seu detentor, no caso, o então anônimo Arthur, um grande valor pessoal. Mas como só serve para isso, perde a graça no final.

Sem dúvida, a Carla é muito mais que isso. Infelizmente, em busca pela sua autoestima, o Arthur não se permitiu ter a oportunidade de desfrutar da companhia de Carla pelo que ela é, e sim, pelo que ela representa. Mas ele não é o único. Os homens não são os únicos a fazê-lo. Como exposto acima, não fazemos isso apenas nas nossas relações pessoais, como também, na vida esportiva, acadêmica e profissional. Por incrível que pareça, não é apenas o objeto que sofre, mas quem o usa, também.

Carla e Arthur, simbolizando as pessoas usadas e as que usam, precisam de terapia para aprenderem a serem amados e a amar. Ao buscar o amor do outro para nos amarmos acabaremos, mesmo que acompanhado(a)s, inevitavelmente, sozinho(a)s.

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