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BBB: Pessoas e Psicólogo(a)s

Mais uma vez volto a usar o BBB 21, que está dando o que falar, como contexto para as minhas reflexões

Pragmática Psicoterapia e Cursos

09/02/2021 16h32

BBB Lumena

Lumena. Foto: Reprodução/Globoplay

Por Dr. Carlos Augusto de Medeiros

Grande parte das pessoas que acompanham o programa tem ficado estarrecida com o comportamento de uma das participantes formada em Psicologia (sem registro profissional ativo) e também mestre em Psicologia. São inúmeros comentários do tipo: “a psicóloga é a que mais julga”; “muito agressiva essa psicóloga”; “é psicóloga, mas não sabe ouvir”.

Meus colegas psicólogo(a)s e aluno(a)s de psicologia frequentemente se queixam pelo julgamento que sofrem ao não se comportarem de acordo com o estereótipo de psicólogo. No senso comum, há uma visão distorcida do psicólogo(a), como ocorre em outras profissões. Quando se pensa em psicólogo(a), imagina-se um(a) terapeuta com a carinha do Freud ou com um estilo meio hippie de guru oriental. Outra imagem é o do(a) profissional de recursos humanos comum em entrevistas de emprego, desligamento ou de dinâmicas de grupo. Por fim, em decorrência de filmes e seriados, o(a)s psicólogo(a)s também são visto(a)s quase como detetives, ajudando a desvendar casos de assassinato em série. É fundamental esclarecer, a Psicologia possui diversas outras áreas de atuação, sendo a profissão exercida em inúmeros espaços, como nas escolas, hospitais, comunidades, casas de detenção, asilos, agremiações esportivas, tribunais etc.

Fora o desconhecimento acerca dos campos de atuação da Psicologia, presume-se, equivocadamente, que estamos exercendo a profissão enquanto acordados, quiçá, dormindo. A nossa profissão é para lá de exaustiva e, como qualquer outro(a) profissional, quando encerramos o expediente, somos apenas pessoas. Como pessoas, não temos a obrigação de apresentarmos maior controle emocional, paciência, sabedoria e austeridade que qualquer outro ser humano. Psicólogo(a)s bebem, riem, choram, xingam, namoram, flertam, traem, e se arrependem como qualquer outra pessoa.

Obviamente, eu aconselho aos estudantes a cuidarem da própria imagem pública, principalmente em rede sociais, porque certos comportamentos podem ter consequências práticas, como a perda de oportunidades de emprego ou mesmo de novos clientes. Todavia, em sua vida pessoal privada, têm o direito agir como qualquer pessoa, independentemente da profissão.

A referida participante do BBB21 se equivoca, não como psicóloga, mas como humana. Ela julga o(a)s colegas e o faz de modo agressivo e depreciativo. Se aproveita de bandeiras realmente justas para fundamentar suas reações de cunho pessoal. Utiliza jargões da área e dá carteirada de psicóloga para dar mais peso à suas avaliações, o que, na academia, denomina-se “argumento da autoridade”. Seu comportamento, todavia, não me causa estranheza, afinal, ela é uma pessoa e se equivoca.

Mas o que tem que ficar claro, é que essa participante e qualquer outro(a)s psicólogo(a)s quanto não estão atuando profissionalmente, não representam o(a) psicólogo(a)s, nem a Psicologia. Não basta dizer que estão representando à Psicologia para fazê-lo. Imagino, inclusive, que defensores das causas raciais, feministas e LGBTQIA+ também não se sintam representado por ela em diversos momentos, principalmente, quando, novamente, recorre ao argumento da autoridade.

Concluindo esse texto, precisamos diferenciar pessoas de profissionais. O que parece que falta a essa participante e a tanto outros é um pouco mais de humanidade. Mas essa é uma questão pessoal dela, desejo eu, objeto de terapias futuras, que não tem relação com a profissão de psicólogo(a). Resumindo, ela não me representa na condição de psicólogo.

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