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Psicanálise da vida cotidiana
Psicanálise da vida cotidiana

Arrogância e estupidez

Vivemos hoje num mundo de governantes poderosos, líderes que desfilam em suas posturas uma atitude permanente de arrogância, estupidez e burrice mental

Carlos de Almeida Vieira

02/05/2023 10h55

Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

“O homem não sabe como se medir: seus espelhos distorcem. Suas arcádias mais verdes pululam de espectros; Suas utopias buscam a eterna juventude. Ou a sua destruição.”

W.H. Auden

Vivemos hoje num mundo de governantes poderosos, líderes que desfilam em suas posturas uma atitude permanente de arrogância, estupidez e burrice mental. A população mundial anda partida, sofrida, escravizada, deteriorada como consequência dos atos absurdos de governos “esquizofrênicos”, fragmentados, atolado em seus narcisismos destrutivos. Ninguém revela em seu coração a mínima postura e sentimento de compaixão, ao contrário, o uso do Poder se resume em falcatruas, roubos, corrupções, uso do dinheiro público em benefício próprio, ausência de sentido ético através de um comportamento exclusivamente polimorfo perverso.

Nosso tempo ainda navega num poema do Séc. XX, meados dos anos 1900, onde Carlos Drummond de Andrade, em sua fase política por excelência, escreveu em “Nosso Tempo” um poema dedicado a Oswaldo Alves: “Este é tempo de partido, tempo de homens partidos”. Em 1940, o nosso poeta “gauche” escrevia outro poema — “Congresso Internacional do Medo”, e lá dizia:

“Provisoriamente não cantaremos o amor,

que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.

Cantemos o medo, que esteriliza os abraços,

não cantaremos o ódio porque este não existe,

existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,

o medo dos grandes sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,

cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,

cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,

depois morreremos de medo

e sobre nossos túmulos

nascerão flores amarelas.”

O que faz um poeta ou um escritor ser clássico é a sua capacidade de ser atual em qualquer tempo. Drummond descreveu nesse poema o que hoje vivemos no Brasil e em todo mundo. Desespero, fome, imigrantes sofridos e doídos, crianças abandonadas, países que não se comprometem com a consequência dos que eles plantaram: homens e mulheres sem lar, abandonados em condições subumana, mortos nos oceanos, mortos nas guerras, crianças sem esperança de sobrevivência. Simultaneamente, políticos, presidentes, ditadores, governos populistas tanto de esquerda e direita, delirantes através dos poderes que têm, roubando, distribuindo o dinheiro dos impostos entre si sem nenhuma capacidade humana de sentir culpa e compaixão. As bocas dessa gente são o que alguém um dia me falou: “são bocas oceânicas”, de uma voracidade, avidez, canibalismo e vampirismo sem medida. Tem razão Drummond quando fala do “medo dos ditadores e dos democratas”!

Saímos de uma eleição polarizada, permeada de ódio, ressentimento e atitudes de desforra e vingança, revelando mais uma vez que a direita festiva e a esquerda ressentida se degladiam num espetáculo de conluios e de obstrução dos programas sociais. Governadores, prefeitos, deputados e senadores têm a avidez de aumentar hiperbolicamente seus salários numa atitude de ironia e insensatez diante dos salários miseráveis da população! A burguesia não fica fora disso.

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