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Psicanálise da vida cotidiana
Psicanálise da vida cotidiana

Aprender a suportar a realidade

Quando há muita intolerância à frustração, é através de funcionamentos neuróticos, perversos e psicóticos que ainda se tenta realizar os sonhos

Carlos de Almeida Vieira

14/04/2020 13h30

“As realidades são impositivas e formam uma
espécie de lei, da qual é insensato querer escapar”
Alain Badiou, filósofo francês

Desde os ensinamentos de S. Freud, com seus conceitos de “princípio de prazer” e “princípio de realidade”, somos levados a meditar que, civilizar e educar são sinônimos para encontrar uma postura relativa e tolerante entre prazer e realidade.

A mente humana sempre vai em direção das satisfações de seus desejos; acontece que alguma demanda do Eu encontra barreira na Realidade e fica impedido de ter prazer. Não porque a Realidade seja contra ninguém, a realidade se impõe tal como ela é. Compete ao indivíduo adiar o desejo e esperar, criando alternativas para obter o prazer, caso contrário, esse mesmo indivíduo há que se dá conta que não é o centro do Universo, e seus desejos e poderes são relativos.

Quando há muita intolerância à frustração, é através de funcionamentos neuróticos, perversos e psicóticos que ainda se tenta realizar os sonhos. O homem odeia a dor, a impotência, a incapacidade de viver uma vida que não seja puramente “hedonista”. O filósofo Alain Badiou, em seu belo livro “Em busca do real perdido”, atenta para o fato de que o pensamento, a capacidade para pensar dentro da experiência de frustração, é uma saída mais importante para desenvolver uma aparelho mental sobremaneira sano.

“Esse problema atormenta a filosofia (eu diria que também atormenta o tratamento psicanalítico) desde suas origens. Onde começa o pensamento? E como começar de maneira que esse começo ajuste o pensamento a um real de verdade, um real autêntico, um real real? Em suas considerações vê-se uma ideia atual, na fantasia do capitalismo moderno, selvagem e explorador, que a Economia tem a resposta”. “O lugar ocupado pela Economia que diga respeito ao Real. Parece até que o saber do real foi confiado à economia”(doce ilusão, palavras minhas)… Isso é muito importante, porque a questão do real é evidentemente também a questão de saber que relação a atividade humana, mental e prática, mantém o referido real. Não é só, às vezes, a arrogância dos economistas e a mentalidade capitalista que diz felicidade ser lucro. “Nós os humanos, temos que descer do pedestal do Racionalismo, do tecnoficismo e da ‘negação psicótica’ em relação ao respeito e consideração pela Alma humana”.

Alain Badiou encerra seu livro com essa sabedoria de um filósofo que tem na filosofia um sentido prático e não só acadêmico, quando escreve: “…porém hoje, devemos estar convencidos de que,apesar dos lutos que o pensamento nos impõe, buscar o que há de real no real pode ser, é, uma paixão alegre”

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