Historicamente, no Brasil, independentemente de quem seja o presidente da República, o Poder Executivo tem apoio e sustentação dos partidos de centro no Congresso Nacional para aprovar leis e governar. Em momentos que esse acordo é abalado, a crise fica evidente, vide o rompimento de Dilma Rousseff com o Centrão em seu segundo mandato e seu posterior impeachment.
Eleito com a narrativa da anti-política, o ex-presidente Jair Bolsonaro tentou se afastar dos partidos de centro em seu primeiro ano de governo, abrindo espaço para militares e grupos religiosos. No entanto, logo percebeu que não conseguiria governar sem o apoio do Centrão e convidou PP e PL para integrarem sua base, filiando-se inclusive a este último para uma perfeita integração.
Lula, que em seus primeiros dois mandatos teve probelmas sérios de corrupção por abrir espaços estratégicos para o Centrão, se aproximou novamente desses partidos logo após sua terceira eleição, em outubro passado. O ministro responsável pela articulação do governo, Alexandre Padilha, faz questão de ressaltar a todo momento que os partidos de centro estão convidados para participar da gestão.
O que acontece normalmente é a alteração da liderança dentro dos partidos de centro de acordo com o perfil do governo eleito. Quando o presidente tem projetos majoritariamente de esquerda, determinadas lideranças do Centrão fazem a interlocução; quando o eleito pende à direita, outros deputados fazem esse meio de campo.
O caso atual parece inédito. Os presidentes da Câmara e Senado, Rodrigo Pacheco (PSD) e Arthur Lira (PP), certamente a gestão mais à direita pós-redemocratização, foram eleitos em 2021 com aprovação do governo Bolsonaro. Com a eleição de Lula em 2022, poderia se imaginar uma mudança nas presidências das casas, com o Centrão indicando líderes mais associados a um governo de centro-esquerda. Porém, Lira e Pacheco foram candidatos à reeleição contando com forte apoio do atual governo, com distribuição, inclusive, de cargos para facilitar a vitória. O resultado foi a manutenção dos dois nomes nas cadeiras.
Que existem diferenças gigantescas entre Bolsonaro e Lula, os dois últimos mandatários da República, é inegável. Mas o Centrão parece não fazer distinção: a manutenção do poder certamente é mais importante que qualquer posição ideológica.