Em qual momento do dia ou da noite seu cérebro funciona melhor? A sua capacidade de atenção, concentração e memória tem o mesmo desempenho a qualquer hora do dia? Você realiza suas tarefas com mais facilidade durante o dia ou à noite? É possível trocar o dia pela noite?
Diversas atividades humanas necessitam de pessoas para trabalhar no período noturno: área da saúde, produção de alimentos, segurança patrimonial e cibernética, transporte de cargas e passageiros, jornalismo, entre muitas outras. Essa característica do mundo moderno nos faz questionar: as pessoas podem, simplesmente, trabalhar à noite e dormir durante o dia, sem prejudicar a saúde? Trabalhar de madrugada faz mal à saúde? Por que muitas pessoas não conseguem trabalhar à noite? Conseguimos ser noturnos como as corujas? Para responder essas questões, é preciso entender o conceito de cronotipo.
Você, leitor, sabe o que é cronotipo?
A frase popular “à noite, todos os gatos são pardos” expressa a ideia de que, no escuro, todas as coisas aparentam a mesma cor; que é difícil diferenciar as coisas em lugares pouco iluminados. Essa dificuldade de enxergar no escuro tornou o homem um ser diurno – que trabalha durante o dia e dorme à noite. No tempo das cavernas, o homem primitivo saía de dia para caçar os animais e procurar água. Ao anoitecer, buscava proteção e descanso nas cavernas. Contudo, enquanto alguns dormiam mais cedo, outros permaneciam acordados, para não serem atacados por predadores.
Com o tempo, o ser humano adquiriu três padrões genético-comportamentais, no tocante ao ritmo biológico, conhecidos como cronotipo. Há, basicamente, 3 cronotipos: matutino, vespertino e intermediário.
- Indivíduos matutinos são aqueles biologicamente predispostos a acordar e dormir cedo; para realizar as tarefas do dia a dia, sentem-se mais produtivos pela manhã. Compreendem cerca de 12% das pessoas.
- Indivíduos vespertinos têm tendência a acordar e dormir mais tarde. Sentem-se dispostos para as atividades cotidianas no período noturno. Cerca de 8% da população são de padrão vespertino.
- Indivíduos intermediários correspondem à maior parte da população adulta (80%); tendem a acordar em torno de 6 ou 7 horas e dormem ao redor de 23 horas; adaptam-se mais facilmente às modificações de horário.
É consenso entre os especialistas que o cronotipo vai se modificando ao longo da vida. Os bebês tendem a ser matutinos; os adolescentes, vespertinos; os adultos, intermediários; e os idosos passam a ser novamente matutinos. As pessoas não têm o mesmo cronotipo a vida toda, porém, dos 20 aos 65 anos, o cronotipo costuma permanecer o mesmo.
Embora não seja regra, indivíduos matutinos dificilmente conseguem se transformar em vespertinos, e vice-versa; é mais provável se tornar uma pessoa intermediária.
O indivíduo vespertino adapta-se melhor ao trabalho noturno, enquanto que, para esse mesmo trabalho, o matutino já pode ter privação de sono e consequências à saúde como cefaleia, desatenção, disfunção da memória, sobrepeso, redução da produtividade laboral, risco de acidente de trabalho e de trânsito, etc. O mesmo raciocínio pode ser aplicado à área da educação: jovens matutinos teriam melhor desempenho escolar ao frequentarem as aulas pelas manhãs, enquanto pessoas vespertinas apresentariam melhor aproveitamento escolar em cursos noturnos. Por essa razão, recomenda-se adequar o cronotipo de uma pessoa ao turno do trabalho/escola.
Posto isso, a crença popular que diz que “as pessoas que acordam cedo trabalham mais e melhor do que as que acordam tarde” seria verdade, teoricamente, para as pessoas matutinas, e não vespertinas.
O conhecimento do ritmo biológico das pessoas aprimora a qualidade de vida e a saúde da população.
Conclui-se que cada um de nós deve buscar a compatibilização entre o próprio cronotipo e a atividade laboral. Não vale a pena lutarmos contra o nosso ser; devemos respeitar o funcionamento do nosso organismo para promovermos a nossa saúde.